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Estas
duas madrinhas de navios-motor, em madeira, são as sobreviventes, que se
saiba, e já quase peças de museu.
Uma,
eu própria, madrinha do navio/motor, “São Jorge”, construído em
1956, na Gafanha da Nazaré, no estaleiro de Manuel Maria Mónica cujo
bota-abaixo foi a 10 de Março do mesmo ano. Neta do Capitão Pisco, um dos
sócios fundadores da empresa Testa & Cunhas, Lda., eis a razão pela qual
fui convidada para madrinha do navio, com apenas 12 anos. Receios, ansiedades, alegria,
chança, vaidade, pequenez, foram muitas das emoções que senti, antes,
sobretudo, e depois do bota-abaixo.
A
multidão, a altivez do navio na carreira, o embandeiramento em arco dos
restantes navios ancorados, o receio que o navio empancasse na descida, que o
sebo secasse, que o navio tombasse, que arrastasse o palanque dos convidados –
alguns receios possíveis, outros nem tanto, fizeram daquele momento, um momento
único da minha vida de menina! O foguetório, as bandas, os ranchos, as sirenes
e tudo o mais que possamos imaginar, fizeram da Gafanha da Nazaré um palco
único, naquela altura. Todos os caminhos lá iam desembocar…
A
outra senhora, menina de 8 anos, à época, era Inês Maria Chambers de Sousa
Amorim, filha do então Presidente da Câmara de Vila do Conde – e também nome do
navio. Daí a razão do convite para madrinha, do navio-motor “Vila do
Conde” num ambiente que não lhe era tão familiar como a mim, mas de que
gostou, embora não tivesse uma memória tão acentuada. Mas, nas muitas fotos que
tinha, nas atenções que lhe prestaram, bateu-me aos pontos… uma verdadeira
vedeta.
O
“Vila do Conde” construído em 1955, na Gafanha da Nazaré, no estaleiro
de Benjamim Bolais Mónica, teve o bota-abaixo a 25 de Março do mesmo ano,
construído para a firma Tavares, Mascarenhas, Neves & Vaz, Lda., com sede em Ílhavo e no Porto.
Eu
ofereci ao navio uma bonita escultura do São Jorge a cavalo, de espada
em riste, a lutar contra o dragão, que viajou no navio, na Sala de Oficiais, entre
1956 e 1972, ano em que foi vendido.
A
madrinha do “Vila do Conde” ofereceu-lhe uma bonita fotografia sua, de
Domingos Alvão, emoldurada, que viajou no navio entre 1955 e 1973, ano em que
se afundou.
Não houve grande quórum, mas houve muita conversa, troca de muitas memórias e de muitas fotos.
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Ílhavo,
7 de Maio de 2022
Ana
Maria Lopes
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