domingo, 31 de janeiro de 2021

Ainda o "São Jorge" (Documentário)

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Um belo dia, uma boa trintena de anos após o bota-abaixo do “São Jorge” (lá pelos anos 80), cheguei à seca, quando o Dr. Cunha me disse:

– O Dr. Vasco Branco deu-me um filme que fez, aquando da construção do “São Jorge”, seguindo toda a sua evolução, até ao dia do lançamento à água. De quando em quando, ia até ao Estaleiro para observar o andamento dos trabalhos e captava umas imagens.

E eu, curiosa, perguntei:

– E é fiel ao esforço despendido pelos operários?

Prosseguiu o Dr. Cunha:

– Sim, mas olhe, como a Ana Maria foi a madrinha, entendo que é nas suas mãos que deve ficar.

Contente e expectante, lá vim ansiosa por projectar o filme, que não sonhava existir. Que agradável surpresa!

Espectacular! Único! Documento inédito!

Claro, que no que toca a qualidade, não se pode exigir mais – sinais do tempo. Filme a preto e branco, sistema 8 mm, mudo, pois as sonorizações em banda magnética surgiram mais tarde com o super 8, colagens manuais e letttring igualmente artesanal. Mas tudo isso contribui para o seu encanto e autenticidade.

E ter um filme de Vasco Branco, aveirense ilustre, de cultura eclética, licenciado em farmácia, artista plástico, escritor, cineasta amador de primeira água, era um privilégio!

Lá o guardei, vi e revi através do velhinho projector. O meu filho Miguel encarregou-se de o preservar ao longo dos anos, de acordo com as épocas e os suportes disponíveis: de 8 mm, passou a vídeo VHS, de vídeo a DVD e de DVD foi convertido em ficheiro adaptado à Internet, para que hoje possa ser apreciado por curiosos, entendidos e apreciadores de construção naval no “Marintimidades”.

Saboreiem-no, pois, que vale a pena!

 


E foi assim! E, agora, felicidades!...

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Ílhavo, 31 de Janeiro de 2021

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Ana Maria Lopes

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Bota-abaixo do "São Jorge" (Parte II)

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Chegara o “meu” momento. Pequenina, no meu vestido de veludo violáceo, pasmada perante a gigantesca, agressiva e pontuda roda da proa, olhava confusa para todo aquele espectáculo que me envolvia e no qual iria participar.

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Ao longe, pronta para o acto solene
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Subi para um “mocho” (banco). Ordenaram-me que quebrasse a tradicional garrafa de espumante contra a roda da proa, exercício em que apesar de treinar afincadamente a pontaria, falhei, ficando desiludida.

Não tendo sido à primeira, optaram por me colocar nas mãos um martelo a que me agarrei, com o qual, com toda a minha gana, força, nervosismo e entusiasmo, quebrei, finalmente!, a garrafa.

O barco foi bem regado, mas, também o champagne cresceu o suficiente para nos aspergir, a mim, ao meu pai, e ao Sr. Bispo. Alegria plena!

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Que grande banho!
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Da boca comovida de Mestre Manuel Maria Mónica saem palavras carregadas de emoção:

– “Vai descer este navio, em nome de Deus e do Estado Novo”.

E, dirigindo-se ao Almirante Américo Tomás, pediu-lhe:

– “Corte V.ª Ex.ª. o cabo da bimbarra”.

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Chegara o momento do clímax. Suspense! Onde a emoção nos assola o interior e nos faz interrogar com o olhar. Que alvoroço! O barco deslizará na carreira?! Não desliza?! Tomba?! Não tomba?! O espectro da Nau Portugal não estava muito distante e esquecido (7 de Julho de 1940), se bem que a confiança no mestre construtor não justificasse os receios de toda aquela gente que assistia ao bota-abaixo. Operários do estaleiro, de maçaricos em punho, procedem atarefados e pressurosos às últimas afinações na carreira!!! Tudo teria de estar perfeito para que o “São Jorge” descesse, sem atribulações, em perfeito equilíbrio, carreira abaixo, até entrar e repousar na ria.

 

Após o golpe do cabo, o navio começa a deslizar. Suavemente, primeiro, depois de terem sido retiradas as escoras, ao mesmo tempo que vão tombando os madeiros soltos do berço que o envolvem, amparando-o. Acelera de seguida até penetrar nas águas da ria, ansiosas de o acolher, por entre o grande entusiasmo exterior: estardalhaço de morteiros, zumbido emotivo das sirenes, dos barcos próximos e dos estaleiros, tudo participando no momento festivo que se desenrola aos nossos olhos especados e atarantados com tanta faina. Alegria geral de todos quantos assistem ao acto, partilhada por entre palmas, gritos e exclamações! Nasceu uma nova embarcação, neste caso, destinada a uma tarefa árdua, forte e perigosa, a pesca do bacalhau, que reteria por seis meses, nos mares longínquos da Terra Nova e Groenlândia, uma tripulação, saudosa da Família. No bota-abaixo, era hábito embarcarem no navio apenas o capitão e alguns pescadores para a manobra dos cabos e uns poucos operários do estaleiro, preparados para qualquer eventualidade. Que sensação de ansiedade, êxtase e respeito!

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Desliza na carreira!...
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Imediatamente após a entrada na água, já com o navio afastado da carreira, pequenas embarcações surgem de todos os lados: dóris, botes, bateiras, para aproveitar madeiras, sarrafos, cunhas e calços que, entretanto, o navio arrastara consigo, na descida. Que belo espectáculo!!!!!!

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Ganha posição!
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O ser madrinha de barcos foi um desígnio, que tendo começado por mim – a mais nova! –, percorreu as mulheres da família: a minha Avó, a minha Mãe, e eu bisei com o baptismo do marisqueiro “Calypso”, nos Estaleiros de S. Jacinto, em Julho de 2000.

A construção em madeira estava em vias de extinção; o aço vinha-a substituindo com todas as vantagens que proporcionava a esta indústria da construção naval. As cerimónias também se foram alterando – perderam toda a pompa e circunstância das “encenações” do antigamente, destinadas a exacerbar determinados símbolos, glorificando-os.

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Ílhavo, 28 de Janeiro de 2021

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Ana Maria Lopes


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Bota-abaixo do "São Jorge" (Parte I)

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Escolhi este assunto para iniciar o blogue (2008), porque o recordo com enorme nostalgia e saudade. Após quase 13 anos, resolvi revisitá-lo.

Num sábado, 10 de Março de 1956, com 12 anos (há 65 anos), fui madrinha do navio-motor “São Jorge”.

Há em mim qualquer gene que me faz amar tudo que saiba a maresia, tudo o que é mar e ria.

Havia, então, assistido, só entre o público, a um bota-abaixo e a cerimónia fascinara-me. Não me imaginava personagem principal do que para mim, com aquela idade, era um conto de fadas.

Um belo dia, aparece-me em casa, ali no Curtido de Baixo, o Sr. António Cunha, então gerente da Empresa Testa & Cunhas, a convidar-me para madrinha do “São Jorge”, que estava em construção.

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No estaleiro – 20 – 1 – 1956

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Porquê eu? Que sensação! Parecia-me convite só para gente importante e crescida!

O nervosismo e a ansiedade intensificavam-se à medida que a data se ia aproximando… a “toilette” (vinha a fina flor da sociedade lisboeta ligada às pescas), o quebrar da garrafa…

Passei a treinar insistentemente nos troncos de laranjeiras do quintal, mas em vão! O tronco ficava esfolado, mas o resistente vidro da garrafa de “champagne” cheia de água, intacto… Havia de ser o que Deus quisesse. Tinha que partir a garrafa.

No sábado escolhido, o dia estava soalheiro, mas com um ventinho norte a soprar com alguma intensidade.

Pelas 13 horas da tarde, na estação de Aveiro, o Sr. Governador Civil, proprietários do novo navio, autoridades locais, militares e civis e muita gente aguardavam o Sr. Ministro da Marinha, Almirante Américo Tomás e sua comitiva que se deslocara propositadamente a Aveiro em comboio foguete especial.

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Chegada à Estação de Aveiro

 

Teve lugar no salão de festas do então famoso edifício do Teatro Avenida um lauto almoço que a empresa proprietária ofereceu a cerca de trezentos convidados.

A ementa constava de linguado à Colbert, arroz de pato à Beira Mar, leitão assado; ovos moles regionais, fios de ovos, pudim de laranja, ananás ao Madeira e café (sobremesa); vinhos tinto e branco das caves do Galo d’Ouro, espumante Raposeira, aguardente de 1920 e licores (vinhos).

Usaram da palavra algumas individualidades a desejarem as maiores felicidades à firma armadora, à nova unidade e ao construtor. Pormenor curioso… os leitões, antes de trinchados e servidos, desfilaram elegantemente em braço de criados, tal passagem de modelos, dentro de pequenos “botes” embandeirados em arco, construídos para o efeito.

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Pequenos dóris com os leitões

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Aguardava a hora da maré o “São Jorge”, na carreira, donairoso e altaneiro, na imponência da sua altura, de cores claras, hasteando o mariato colorido, da proa à popa, esvoaçando ao vento.

Um bota-abaixo na Gafanha é sempre um acontecimento festivo: no estaleiro e em todos os caminhos em redor via-se muita gente para assistir ao sempre emocionante espectáculo. Ansiedade! Emoção! Expectativa! E na ria, toda a frota bacalhoeira, embandeirada em arco pela “camaradagem” de mais um navio que a ia enriquecer.

O “São Jorge” era um navio-motor que deslocava mil toneladas com capacidade para catorze mil quintais de pesca. As suas características principais eram: comprimento, 54,15 metros; boca, 10,48 m. e pontal, 5,62 metros. Embarcava uma tripulação de 80 homens, entre os quais 62 pescadores. Dispunha de um motor principal de 600 H.P. e motores auxiliares, guinchos, sonda eléctrica, radar e câmara frigorífica para isco e conservação de alimentos, com capacidade de 60 toneladas. Foi seu primeiro capitão o Sr. João dos Santos Labrincha. (Laruncho), de Ílhavo.

São Jorge – quis a empresa dar-lhe esse nome e eu, como madrinha, ofereci-lhe uma bonita imagem do Santo a cavalo, de espada em riste, a lutar com o dragão, que sempre viajou durante anos, a bordo, na Câmara dos oficiais, até 1972, ano em que a empresa o vendeu. A imagem, depois de ter sido cedida ao MMI. para a exposição “Faina Maior” até 1999, voltou à procedência, ao fazer parte dos meus bibelots de estimação, para que olho com enlevo. Definitivamente, há dois anos, ofereci-a ao Museu (MMI).

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A imagem do patrono
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Em tribuna construída à proa da nova unidade, tomaram lugar muitos convidados e personalidades, dentre os quais os Senhores Arcebispo-Bispo de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal, Sr. Comandante Tenreiro, Governador Civil do Distrito, Dr. Francisco do Vale Guimarães, Almirante Alves Leite, Director Geral de Marinha; Engenheiro Higino de Queirós, presidente da C. R.C.B.; presidentes das Câmaras Municipais de Aveiro e Ílhavo; Comandante António Caires da Silva Braga, capitão do Porto de Aveiro; presidente e vogais do GANPB., os comandantes militares de Aveiro, representantes oficiais da base aérea de S. Jacinto e muitos armadores e capitães da frota bacalhoeira.

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Tribuna dos convidados, pela proa do navio
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Em momento solene, sua Ex.ª Reverendíssima benzeu a nova embarcação, augurando-lhe “um bom futuro, atendendo ao espírito verdadeiramente cristão de quantos nela trabalharão em árdua e perigosa tarefa, confiados unicamente na fé em Deus”.

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Bênção do navio
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Antes, porém, do lançamento, fizeram-se os discursos da praxe, falando primeiro pela empresa armadora o Sr. António Cunha, seguido pelo Sr. Comandante Tenreiro, Sr. Governador Civil e do Mestre Manuel Maria Mónica. Finaliza o Sr. Ministro da Marinha:

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– (…) O “São Jorge vai descer na carreira. A este, outros navios se seguirão. É a tradição que se mantém. O Governo do Estado Novo jamais deixa perder o que signifique valor nacional”.

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Oradores e convidados na tribuna
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Realçou-se que o lançamento à água de um navio para a pesca do bacalhau representava um acréscimo de riqueza e de trabalho, exprimindo a continuidade de uma política que desde há 30 anos vem operando, em paz, uma transformação profunda na vida da Nação.

Lá no meu canto (dada a minha pequenez) nem era notada a minha presença; eu pouco ou nada percebia daqueles “chavões” que mais tarde foram sendo desmistificados à luz das épocas que lhes sucederam, susceptíveis de várias interpretações e considerações.

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(Cont.)

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Ílhavo, 26 de Janeiro de 2021

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Ana Maria Lopes

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domingo, 17 de janeiro de 2021

António Fernando Carola Abade

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António Abade, a bordo
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Há histórias de mar, de que nos fica uma muito vaga recordação, mas, um acontecimento recente, fá-las ressaltar à memória presente. Tal desprazer arrasta-as até ao tempo actual. Morrer no mar será sempre uma fatalidade que todos os mareantes receiam. E para a família, mulher e filhos, que se despedem, na barra, junto ao Farol, aquela despedida poderá ter sempre o sabor amargo a uma perda.

Foi o caso de António Fernando Carola Abade, filho de Fernando Nunes Abade e de Hermínia Carola, que nasceu em São Salvador, Ílhavo, em 2 de Dezembro de 1926.

Marítimo, casou com Júlia Augusta da Cruz Figueiredo Abade, em 25 de Outubro de 1954, de cuja união nasceram os filhos António Manuel e Maria de Fátima da Cruz Carola Abade.

De 3º maquinista, chegou a primeiro, entre as campanhas de 1956 e 1970, inclusive, nos arrastões de pesca lateral “São Gonçalinho”, “Santa Mafalda”, “João Ferreira” e “Lutador” (de arrasto pela popa).

Foi comandado por David Manuel Mendes Calão, José de Oliveira Rocha, Joaquim Manuel Marques Bela, Luís António Moreira Tavares e António Fernando Nunes Lau, quase todos de Ílhavo. Em cerca de 23 campanhas de bacalhau…

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Arrastão lateral " João Ferreira"
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Faleceu bastante novo, vítima de um ataque cardíaco fulminante, a bordo do arrastão “João Ferreira”, em 28 de Março de 1971, com 44 anos de idade.

Foi uma notícia que devastou Ílhavo e que, ainda hoje, é bem lembrada no coração dos que lhe foram mais chegados.

Na altura, foi do conhecimento comum que o casamento da filha Fátima, por opção, no dia do Pai (19 de Março de 1977), já sem ter pai que a conduzisse ao altar, que foi substituído pelo irmão, foi de um desgosto sem fim, regado por lágrimas do princípio ao fim.

Há perdas e perdas… as que que contrariam o sentido natural da vida são das piores e esta foi uma dessas, ainda hoje lembrada.

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Ílhavo, 17 de Janeiro de 2021

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Ana Maria Lopes

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domingo, 10 de janeiro de 2021

Orlando Brandão Vidal

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                A bordo do "São Ruy", em 1953      1953

Mais um homem do mar, depois de várias consultas, comparações, confronto de dados, de fichas, de livros, de jornais, de arquivos. Trabalho bom para um fim de semana de Janeiro, de muito frio e de confinamento, ao som da lareira que crepita. Há que montar um “puzzle” diferente, com os materiais que se podem consultar em casa ou a partir dela, on-line. Com Orlando Vidal, nunca tive nenhum conhecimento, mas sabia bem a que famílias pertencia a esposa.

Orlando Brandão Vidal, filho de Marcos Nunes Vidal Marto e de Maria Simões Ferreira Brandão (creio que foi professora de instrução primária, cá pelas redondezas…) nasceu em Vilamarim, concelho de Mesão Frio. Veio mesmo do frio e, por á ficou.

Nasceu em 24 de Janeiro de 1927. Era portador da cédula marítima nº 115 466, passada pela Capitania do porto de Lisboa, em 21 de Janeiro de 1953.

Do casamento com Maria Fernanda Cachim Parracho, nasceu uma filha, de sua graça, Maria João Parracho Vidal.

Andou numa panóplia de navios que os leitores talvez gostem de recordar.

Para começar, exerceu o cargo de piloto no navio-motor “São Ruy”, da praça de Viana do Castelo, em 1953, onde se cruzou com o amigo Chico Leite, como imediato, sob o comando do Capitão Zé Bilelo. 

No ano seguinte, 1954, piloto também, mas agora do lugre-motor “Santa Maria Manuela”. Em 1955, de piloto continuou, agora na viagem inaugural do navio “Sam Tiago", construído em Viana, mas para a SNAB., onde se cruzou com o Cap. Zé Leite e Chico Leite, imediato, irmãos e, ambos de Ílhavo.

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A bordo do “Sam Tiago”, em 1955, 2º da esquerda
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Teve uma passagem na 2ª viagem, de piloto, pelo arrastão lateral, “Santa Princesa”, na safra  de 1956.

Sendo o seu sogro, João Fernandes Parracho (de alcunha o Vitorino), à época, capitão do lugre-motor “Dom Denis”, da praça de Aveiro, era natural que “tivesse dado a mão” ao genro e o tivesse levado como imediato, nos anos de 1957, 58 59 e 1960. Estes aconchegos e “troca de cadeiras” eram, de certo modo, vulgares, em Ílhavo.

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“Dom Denis”, à entrada de Leixões
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Em 1961, o cap. Vitorino Parracho estreou o navio-motor “Rainha Santa”, como capitão, e Orlando Brandão Vidal ficou com o posto de capitão no “Dom Denis”, de 1961 a 1965 (inclusive).

De passagem pelo navio-motor “Rio Antuâ”, da praça de Aveiro, como imediato, na campanha de 1966, voltou a capitão do lugre-motor “Luiza Ribau”, da praça de Aveiro, de 1967 a 69, levando, desta vez, o seu sogro, como imediato, já mais gasto pelo tempo, pelo mar e por algumas maleitas.

De 1970 a 1972, inclusive, passou a capitão do navio-motor “Vila do Conde”, da praça de Aveiro, que, em 1971, foi transformado em navio de redes de emalhar, com lanchas. Teve como imediato seu sogro, em 1970, Armando António Lontro Bugalho, em 1971 e Manuel da Silva Santos, de Esgueira - Aveiro - , em 1972.

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Bota-abaixo do “Vila do Conde”, em 1955
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Abandonou a pesca do bacalhau e, a convite do Sr. Amaral, accionista, gerente e armador da ECONAVE, foi para a Dinamarca, a fim de assumir o comando do porta-contentores de 1ª geração "Eco-Tejo". Desembarcou e reformou-se deste navio, visto que, nos anos 80, teve um AVC, quando estava atracado no porto de Roterdão.

E eis a biografia marítima de Orlando Brandão Vidal, a que consegui ter acesso, navegando em vários riachos.

Homem bom, sabedor e de fibra, depois de alguns anos de reforma, deixou-nos, em “viagem sem regresso”, em 9 de Outubro de 2011, com 84 anos de idade.

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Ílhavo, 10 de Janeiro de 2021

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Ana Maria Lopes

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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Mário dos Santos Redondo


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Mais vale tarde do que nunca. Faltavam-me elementos fotográficos, mas, neste novo ano, conseguido o principal, os outros aglutinaram-se, produzindo a biografia possível.

Lembro-me bastante bem dele, no seu sobretudo e chapéu de feltro de aba, no inverno, apesar de não ter grande convivência. Morava lá para o fim da Rua Dr. Samuel Maia, que aqui começa. E não desperdiço a possibilidade de biografar um Homem do Mar, seja qual for o escalão dele a bordo.

Neste caso, recordo-o, sobretudo, como capitão-pescador de “arrastões” de pesca lateral.

Mário dos Santos Redondo, filho de António dos Santos Redondo e de Rosa do Véu Redondo, nasceu em São Salvador, Ílhavo, em 10 de Setembro de 1904 e, por aqui, foi criado.

Casou com Rosa Borges de Almeida Borrelho, em 23 de Dezembro de 1931, de cuja união, nasceram António Fernando de Almeida Redondo e Rosa Maria de Almeida Redondo Silva.

Era possuidor da cédula marítima nº 16.574, passada pela Capitania do porto de Aveiro, em 2 de Janeiro de 1934. Nestes anos de crise, deslocou-se para o Brasil, para a marinha de comércio.

Desde que há dados concretos fornecidos pelas fichas do Grémio, nas campanhas de 1936 a 1939 (inclusive), exerceu o cargo de piloto, no lugre com motor “Milena”.

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À direita, o piloto Mário Redondo, no "Milena, em 1936
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Em 1941, fez a viagem inaugural do arrastão “Álvaro Martins Homem”, pertencente à Sociedade Nacional de Armadores de Bacalhau (SNAB), como imediato, onde se manteve até 1944. Na segunda viagem de 1945, passou a comandar o navio, incluindo as duas campanhas de 1949 (inclusive).

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Arrastão “Álvaro Martins Homem”
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Na safra de 1950, estreou o “Estêvão Gomes”, que comandou até 1959, num total de 13 viagens.

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No “Estêvão Gomes”, à direita, em 1952
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Nas safras de 1960 e 61, o capitão Mário Redondo passou para o arrastão “João Álvares Fagundes”, também da SNAB, com o seu filho António Fernando, como piloto.

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Arrastão “João Álvares Fagundes”
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E assim deixou a sua carreira de mar, tendo-lhe ainda sobrado  uns aninhos para saborear a merecida aposentação, junto dos seus pares, em encontros, conversas e idas a Évora, visitar D. Manuel Trindade Salgueiro.

“Partiu” para uma viagem sem retorno em 27 de Janeiro de 1986, com 81 anos de idade.

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Ílhavo, 5 de Janeiro de 2021

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Ana Maria Lopes

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