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Hoje, domingo, 4 de Outubro teria sido a última romaria lagunar, mais uma que não se realizou – a Nossa Senhora das Areias, em São Jacinto. Recordo, pois, uma das últimas a que fui.
Com algum sacrifício, alvorei cedo, para, no “Pardilhoense”, atravessar para São Jacinto – percurso frente à entrada da Barra, sempre mágico e nostálgico.
Apesar de não ser perita em hagiologia – longe disso –, preocupei-me com a identificação correcta dos santos, nos seus andores, superlativamente decorados com alguns frutos e flores distintas: antúrios rosa, brancos, verdes, vermelhos, botões de rosa de cores diversas, gladíolos, esterlitzias, gerberas, malmequeres, verduras variadas, etc., etc., etc.
Depois
da Eucaristia dominical festiva, na característica capela hexagonal
(posteriormente ampliada), assisti à formatura da procissão, este ano com um
percurso mais complexo, devido a obras na marginal.
A Banda dos Bombeiros Voluntários de Estarreja na sua musicalidade compassada, abria o cortejo eclesiástico, logo seguida, caso curioso, de uma miniatura do barco do mar N. S. das Areias, endeusada em andor. Recordaria as “companhas da arte”, que laboraram em S. Jacinto no século XVIII, antes de se transferirem para a Costa Nova do Prado, após a abertura da Barra, em 1808.
O estralejar do foguetório anunciava a saída, indiciada por diversos estandartes, em chão pontilhado de plantas verdejantes e pétalas de rosa, que mostravam a rota da procissão, que tem sempre uma paragem obrigatória frente às “Portas de Armas” da Base Aérea Militar. Aí se dá o encontro entre as duas divindades – a Senhora do Ar, padroeira dos aerotransportados, vem saudar a Senhora das Areias, orago de S. Jacinto.
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Ao mesmo tempo, enquanto anjinhos e santinhos “ao vivo” se divertiam à brava, brincando com os seus “bonecos/meninos”, um sacerdote pregava o sermonário, numa varanda arredondada, enfeitada de colgaduras adamascadas, coloridas, no redondo que dá para a base militar e para a ria.
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Como
romaria lagunar que é, o elemento água não podia faltar.
Uma simbólica largada de pombos homenageia o elemento ar, como meio ambiente libertador da terra, em direcção à independência cerúlea do céu. Vivas, palmas e chuviscos de pétalas de flores completaram a saudação, em ambiente religioso e tradicional.
Chamaram-me a atenção aquelas divindades que me são menos familiares – o S. Pedro Velho.
De grande chave na mão direita, será ele que nos abrirá a porta do céu?
S.
Miguel Arcanjo, com a balança justiceira, era suportado devotamente por
militares.
São Jacinto, pouco visto, segura ao colo a Senhora das Areias, tendo esta nos braços o Menino Jesus. Que paternalismo e que cruzamento de santidades…
Depois de demorado almoço em restaurante da marginal, ao sabor de brisa suave, fizemos em grupo, uma incursão pelas “ditas” tendas. De tudo se vendia, com ordem e organização – desde brinquedos, chapelaria, atoalhados, calçado, lingerie, até à doçaria tradicional, frutos secos, queijos e enchidos de toda a espécie.
À tarde, no largo da capela, ressaltava um ambiente festivo tipicamente popular, animado por um conjunto com música ritmada, melodiosa e animada, que não nos estourava os tímpanos.
Outros
“romeiros”, entretanto, bebiam cerveja fresquinha ou uma ginjinha, enquanto
saboreavam pão com chouriço ou pão na pedra. Novidade?
E
o bailarico da praxe prolongava-se tarde adentro.
É
que até o tempo pactuou com a romaria, que encerrou a “rota das festividades
lagunares”. Não esteve de excessos.
O sentimento religioso e a fé deste povo das areias reflecte-se como se mostrou no fervor presente nas procissões.
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Imagens
da autora do blogue
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Ílhavo,
4 de Outubro de 2020
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Ana Maria Lopes
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