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Foi com algum espanto que
comecei a ver no FB a reprodução de belas imagens que me espantaram, uma
espécie de um museu a céu aberto que ia nascendo na região, talvez mesmo
nos pilares de um viaduto da Gafanha da Nazaré. Fui ao seu encontro.
Passam a surgir as
grandes mulheres, que foram, as das secas, dedicadas a um trabalho duríssimo, algumas
pessoas que identifiquei, bem como cenas de pesca do bacalhau em dóris, na sua
grande maioria, inspiradas em retratos de Alan Villiers, da sua memorável
viagem no “Argus”, na campanha de 1950.
Num fim de tarde claro,
mas acinzentado, antes daquela tempestade subtropical, que assolou o país,
depois de duas semanas bem quentes e calmas, aventurei-me por esta região que
bem conheço. Lá fui…
Perto do retrato do então
jovem capitão Valdemar, fardado, estacionei na berma da estrada e parti, à
descoberta, de olhos arregalados – do tal museu a céu aberto.
Dei de caras com um
senhor simpático, que me identificou e me disse que o desafio daquele trabalho
partira de Leonardo Aires, proprietário da empresa “Frigoríficos da Ermida”,
ali situada e que tinha começado com um painel gigante que retrata ursos
polares. Já me dera na vista.
E depois? Seria de
utilizar os pilares do viaduto que dá acesso ao Cais dos Bacalhoeiros, que por
ali passa, para celebrar histórias tão “gafanhoas”, com raízes nas secas de
bacalhau, que por ali abundavam e dos homens dos botes (dóris) que pescavam o
bacalhau nas terras gélidas dos mares do Norte?
Depois dos entendimentos
legais junto da APA e da CMI, passou-se, então, ao início do trabalho, para o
qual foi encontrado o autor, António Conceição, pintor natural do Mindelo, Cabo
Verde, mas, que, actualmente, vive em Vagos.
Com jeito e gosto pela
pintura, tirou o curso de Belas
Artes, na Universidade do Porto, em 2005. Centrou-se em quadros que,
entretanto, foi expondo em galerias, mas começou por perceber que a sua grande
paixão era a pintura de ruas e os grandes murais que são uma obra de todos – a
rua é a sua tela.
Começando pela grande base
do viaduto, a cores, que retrata as várias tarefas, duros trabalhos, das
mulheres das secas, seguem-se outras cenas de mulheres das descargas do
bacalhau, que a escritora Maria Lamas, no seu livro “As Mulheres do meu País”,
imortalizou. Andou, em 1948, pela Gafanha, observando e fazendo inquéritos às
mulheres das secas, de onde resultaram textos belíssimos. Também o Capitão
Valdemar Aveiro, que numa vetusta idade está ainda entre nós, muito freso, foi
escolhido para ser homenageado e o armador dos mais empreendedores, que foi
Egas Salgueiro. E de pilar em pilar, vão-se retratando cenas piscatórias da
difícil tarefa dos homens dos dóris e dos moços, pau para toda a obra, a
bordo.
Vejamos algumas das
imagens:
Moço com bacalhau gigante
O
último pilar decorado
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Na convicção de que vos
tenha convencido, visitemos aquele santuário de quando em vez, com o sentido de
observar e apreciar o que vai surgindo.
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Ílhavo, 9 de Outubro de
2020
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Ana Maria Lopes
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Belas pinturas ,faz-me recordar outros tempos dos tempos dos meus Avós ,do meu Pai e até do meu tempo ,costumo dizer que foram tempos que o tempo não apaga ?
ResponderEliminarMuito bom. Vou partilhar.
ResponderEliminarO meu pai era muito amigo do capitão Valdemar Aveiro e se ainda estivesse entre nós ía adorar estas magníficas obras de arte que homenageiam o valor incomensurável destas mulheres e destes homens do mar.
ResponderEliminarMuito obrigada por perpetuarem a memória de um povo, por vezes tão esquecido.
Os homens do mar e as Guerreiras das secas agradecem do fundo do coração a sua intervenção e divulgação da presente homenagem. Bem Haja Ana Maria Lopes.
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