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O Cinema São Jorge recebeu no passado
dia 21 de Maio de 2015 (fez 5 anos), pelas 21h30, o
documentário Varinas – Um símbolo de
Lisboa. Lá assisti com muito agrado. Como é que uma ílhava não iria assistir?Tive de lá
estar. Há espectáculos que não se podem perder. Ainda para mais com depoentes,
com quem convivo dia a dia – Márcia Carvalho do Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), Luís
Martins da Universidade Nova e Senos da Fonseca, entre outros conhecidos.
Como foi possível que a vendedeira de
peixe da Beira Litoral, chegada a
Lisboa no século XIX, se transformasse num símbolo da capital? O documentário Varinas – Um Símbolo de Lisboa
narra a história da presença da comunidade (o)varina na cidade, leva-nos ao
encontro das últimas varinas de Lisboa e mostra-nos o fascínio que esta mulher
arrojada e desinibida, deixou no imaginário alfacinha.
Ílhavas.Vendedeira
de Sardinha.
Gravura de Joubert
A estrutura do
documentário insere-se no levantamento de Memórias
da cidade de Lisboa, assente no projecto de investigação sobre as Varinas
realizado pelo Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de
Lisboa. Iniciado em 2013 com o registo de testemunhos orais das últimas varinas
de Lisboa, considerando a sua urgência e pertinência para memória futura,
seguiu-se uma ampla investigação interdisciplinar. Esta assentou em fontes
documentais, gráficas e audiovisuais que permitiu conhecer esta comunidade, as
relações entre si, os seus quotidianos, bem como a varina enquanto figura
popular, mulher trabalhadora e mãe, cuja liberdade na linguagem, costumes e
atitudes na rua cedo captaram variadas atenções, convertendo-se, por mérito
próprio, em símbolo da cidade de Lisboa.
A sua postura afirmativa e despida de
preconceitos, espartilhos ou convenções, o seu carácter desinibido e
irreverente, visível no espaço público, surge num contexto onde este era ainda
de domínio masculino. A dimensão e atitude desta comunidade (o)varina marcaram
de forma indelével a cidade, atribuindo-lhe um novo fácies, onde os seus
costumes e tradições foram a marca de uma identidade que atravessou a centúria
de oitocentos e veio a dissipar-se ao longo da segunda metade do século XX,
envolta numa melancólica saudade da figura que animava e perturbava a pacatez
da Lisboa ainda rural.
O documentário contou com a
participação de Senos da Fonseca e Márcia Carvalho do Museu de Ílhavo, José
Garcia e Delminda Rijo do Gabinete de Estudos Olisiponenses, António Miranda do
Museu de Lisboa, Maria de Aires Silveira do Museu de Arte Contemporânea do
Chiado, Gonçalo Gonçalves e Pedro Prista do ISCTE – IUL, André Fernandes e Luís
Martins da Universidade Nova e Sofia Tempero do Departamento de Património
Cultural da Câmara Municipal de Lisboa. Através do corpo de depoimentos destes
convidados, o filme aborda as vivências desta comunidade, desde o seu «berço»
na laguna de Aveiro até ao momento do desaparecimento do mercado da ribeira em
Lisboa.
Adorei assistir, considerei o documentário muito bem
conseguido, sobretudo no que diz respeito àquele movimento aguerrido e inquieto
das varinas da capital, ao longo dos tempos.
Relativamente à participação ílhava, é claro que nos deixa sempre uma pontinha de vaidade, ao vermos
e ouvirmos «artistas» da nossa terra a actuarem em cenários que nos são tão
familiares – Senos da Fonseca, em passeio lagunar, num belo dia de sol, a bordo
do moliceiro "Pardilhoense", timonado pelo seu arrais e amigo Miguel Matias e
Márcia Carvalho, do MMI., tendo como pano de fundo a "nossa bateira ílhava".
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A bordo do moliceiro "Pardilhoense"
Sinceramente, gostei. É um pouco da ria de Aveiro (de Ovar, da Murtosa, de Estarreja, de Ílhavo) que as varinas de Lisboa foram mantendo na sua "guelra" e na sua presença, através de gerações.
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Tive a informação de que o documentário deveria vir a passar, pelo menos, em Ílhavo e em Ovar. Vamos a isso! Para revermos e para que seja mais acessível aos " ílhavos locais". Agora, à distância de 5 anos, assim ocorreu - no 78º aniversário do MMI., por volta de 8 de Agosto de 2015.
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Ílhavo, 24 de Maio de 2020
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Ana
Maria Lopes-