-
O Cidade de Aveiro adornado…
Quem
não foi ver? Quem não se emocionou? Uma tragédia plasmada e reflectida nas
águas calmas da nossa ria, ali, na Gafanha da Nazaré.
Percorrem-se
arquivos, relêem-se jornais da época, aviva-se a memória e monta-se o «puzzle».
Faz hoje cinquenta anos.
Ao
amanhecer do dia 8 de Março de 1969, tocou insistentemente a sirene dos
Bombeiros. O sono foi mais forte, mas de manhã, o que aconteceu, o que não
aconteceu…era um burburinho por todo o Ílhavo. O Cidade de Aveiro, tinha-se virado, de noite, na Gafanha da Nazaré.
O Cidade de Aveiro? Aquela bisarma! O
melhor, o mais recente e o mais moderno navio de pesca jamais construído em
Portugal, o primeiro daquele tipo de arrasto pela popa, tinha-se voltado?....
Era um espectáculo, se bem que emocionante, a não perder. Sem condições adversas,
sem ilhas de gelo, sem interferências externas, sem temporais, o que teria
acontecido? Nunca foi muito bem aclarado, creio; ou, pelo menos, não veio a público.
Provavelmente, também não conviria.
O Cidade de Aveiro, pertença da empresa
João Maria Vilarinho Sucr., Lda., tinha sido construído nos Estaleiros Navais
de Viana do Castelo e entregue ao armador, em Abril de 1966, a cujo bota-abaixo tinha
assistido o Ministro da Marinha.
O Cidade de
Aveiro no dia do bota-abaixo, no Estaleiro de Viana – 1966
Aquando
do acidente na Gafanha da Nazaré, era seu Capitão o Sr. Joaquim Manuel Marques
Bela, de Ílhavo, já falecido, que o comandou de 1967 até 1979.
Então,
como já referi, tombou para EB, o Cidade
de Aveiro, mesmo juntinho ao
Cais dos Bacalhoeiros, no baixa-mar.
Tinha
chegado há pouco dos pesqueiros com 18 000 quintais de peixe, que estava a
descarregar, quando, inesperadamente, assentou no lodo do fundo, tendo virado.
Os
prejuízos causados, apesar do seguro, foram vultuosos, não tendo podido o navio
fazer a viagem seguinte.
As
entidades competentes procuraram saber a causa da ocorrência, mas pelo menos,
exteriormente, nunca se souberam os verdadeiros motivos: deficiente amarração do
navio?... Estabilidade insuficiente?.... Teria sido descarregado o peixe dos
porões e teriam sido deixados no convés, por descarregar, muitos tambores de
óleo?
Após
esforços avultados de técnicos experientes, as operações de salvamento foram
coroadas de êxito, já que não se acreditava na capacidade de o navio voltar a
flutuar.
Uma
draga cavou um fosso junto à quilha do navio, em todo o comprimento. Com
molinetes a puxá-lo da outra margem do canal, em consonância com as marés, ao fim
de muito esforço, a quilha assentou na cova feita pela draga e o navio começou
a endireitar-se.
Volvidos
mais de dois meses, voltou ao Tejo, a reboque dos rebocadores Praia da Adraga e Praia Grande, da Sociedade
Geral, para receber as reparações necessárias, arrematadas pela firma H. Parry
& Son, no valor de 15 180 contos. Com os trabalhos complementares, a
despesa do salvamento do navio ficou em cerca de 19 000 contos.
Tinha
pela sua frente mais uns anos de pesca, poucos, com bons carregamentos, já que
a sua existência foi efémera.
O arrastão Cidade
de Aveiro, nos anos 70
Na
fatídica tarde do dia 3 de Outubro de 1979, quando o navio navegava em
condições normais, já de regresso, no mar dos Açores, uma explosão na casa das
máquinas, que provocou um violento incêndio a bordo, atirou-o para as
profundezas do Oceano. A tripulação abandonou o navio nas baleeiras de bordo,
que foram socorridas por um navio russo, que os transportou para Leixões e por
um cargueiro francês, que seguiu viagem até ao Havre. Infelizmente, o mar e as
suas contingências não perdoam e o segundo maquinista, João Alberto Ramos
Filipe e o terceiro, João Valente Sardo, ambos da Gafanha da Nazaré, não
resistiram às queimaduras sofridas na explosão e acabaram por morrer. Triste
sorte! O mar foi, é, e será sempre o MAR!!!
Perdeu-se,
assim, o arrastão Cidade de Aveiro,
com uma existência sobre as águas do mar e da ria, nada tranquila, com a perda
irreparável de duas vidas!
Serão
bem-vindos comentários de quem saiba mais pormenores.
Ílhavo,
8 de Março de 2019
-
Ana Maria Lopes-
Na altura eu li um pouco desse fatídico acidente grave,mas nunca tão explicado também ,obrigado Dona Ana Maria !
ResponderEliminarSegundo me informou, há dias, um antigo maquinista deste arrastão, o accidente ficou a dever-se a uma dragagem feita proximo do local onde se encontrava o navio. Com a baixa-mar o navio assentou no fundo (como parece que era habitual nos navios carregados) e lentamente foi tombando para o lado mais fundo onde teria ocorrido a dragagem. Possivelmente, a dada altura devido à inclinação, a carga ter-se-á deslocado e o navio acabou por tombar
ResponderEliminarÉ muito possível que tenha sido por uma coisa do género. Obrigada pelo comentário.
ResponderEliminarDona Ana Maria Lopes obrigado pela criação destas publicações.
ResponderEliminarFoi tripulante do Cidade em 79 tinha 19 anos foi a minha primeira viagem eu era ajudante de motoristas e gostava se fosse possível que todos soubessem a verdade sobre o naufrágio do Cidade de Aveiro.
Sou muito mau a escrever mas pelo descanso da Alma do capitaosinho o 2 maquinista e pela do sr.Joao 3 maquinista alguém tem que contar a verdade, afinal na viagem eramos penso eu 58 homens e um cão (nunca soube onde ficou o cão).
Acho que a dona Mariazinha esposa do meu amigo João Alberto também gostava de saber toda a estória. Deixo aqui o meu número de contacto caso me queira contactar 936399538.
Peço desculpa mas para mim é muito dificil escrever tudo.
Caso haja interesse não à qualquer problema em eu ser contactado. Obrigado e bom trabalho de pesquisa.