Hoje, 8 de Agosto, Amigos do Museu festejam o 81º aniversário
desta instituição, com a oferta de uma bateira
labrega, primorosamente aparelhada.
Tosca, mas airosa, embreada a negro, e de bica
de proa caracteristicamente levantada, menos atrevida que a do chinchorro, foi construída pelo «mestre
de primeira água» António Esteves, de Pardilhó.
Mestre Esteves ultima a labrega
Com um comprimento de 8,40 m, boca 1,82 m, pontal
com 0,53 m e 14 cavernas, navegava a
remos, à vara ou à vela e dedicava-se à antiga, singular e engenhosa «arte do
salto», para a tainha. Depois da vela bastarda,
aderiu à moda da vela latina quadrangular,
auxiliada, por um pequeno leme de xarolo,
de cabeça direita, tipo mercantel.
Sobretudo característica da Murtosa,
expandiu-se pelo país, através da diáspora de gentes da região – para sul, integrando-se
na «saga dos avieiros» no Tejo, e mesmo até Setúbal, no Sado e, para norte, até
à Afurada, chegando a decorar-nos também por aqui, o canal de Mira, na Costa
Nova, em tempos idos.
Era uma peça que faltava na Sala da Ria do
Museu, tendo sido construída com base no levantamento levado a cabo pelo Arquitecto Fernando Simões Dias, em âmbito de Mestrado em
Design, pela Universidade de Aveiro, de Etelvina Almeida, com o título: Embarcações Tradicionais da Ria de Aveiro –
uma análise pelo Design, no ano de 2010.
Queremos preservar a memória patrimonial
da bateira labrega, A1440 L, A PRETA, de cor e de nome, do afamado
Ti Manuel «das Tainhas», que, à data, nela praticava a «arte do salto», na
nossa Costa Nova.
A última das últimas (e não será por muito
tempo), é a labrega A 2829 L, ROSINHA, da Bestida, é propriedade de
Alfredo Cruz (mais conhecido por Viola ou Calcado), ainda primo do Ti Tainha. A
ROSINHA, já algo alterada pelas
várias amanhações sofridas e pela adaptação de uma falca fixa, ainda utiliza uma arte idêntica (arte da parreira), adaptada às exigências legais actuais. É suposto
que ambas as bateiras tivessem sido construídas pelo mestre José Preguiça, do
Monte, Murtosa.
Alfredo Calcado, com a dita arte de
pesca
Para navegar
nas águas do Museu, tem sido nossa intenção, ir salvando do tenebroso
esquecimento do tempo, uma embarcação tradicional lagunar, de cada vez. A
última oferecida ao MMI, em 2013, pelo seu grande peso simbólico e identitário
e sua elegância, foi a bateira ílhava,
seguindo-se, após uma diuturnidade, a bateira
labrega.
A bateira labrega no Museu
Ílhavo, 8 de Agosto de 2018
Fotografias de Etelvina Almeida
Ana
Maria Lopes
-
Sem comentários:
Enviar um comentário