Era
pois, minha intenção dedicar umas palavras ao Sr. Capitão Quim da Graça, de quem
me lembro relativamente bem, com moradia na dita Avenida dos Capitães. Não só
dele, como de sua esposa, Senhora D. Albertina, com quem a minha Avó conviveu,
tendo chegado a ir os três para as termas, várias vezes.
O
Sr. Capitão Joaquim Fernandes Agualuza, muito conhecido pelo nome de Capitão
Quim da Graça, nasceu em Ílhavo, na Rua Nova, em 12 de Janeiro de 1901 (-1983).
Era
possuidor da cédula marítima 15291, tendo sido passada a segunda via na
Capitania do porto de Aveiro, em 6 de Abril de 1931.
Era
filho e neto de pescadores que se dedicavam à pesca de arrasto costeiro (a dita
arte de xávega), na praia da Costa
Nova do Prado. O seu Pai até teria falecido ainda jovem, em consequência de uma
infecção tetânica provocada por uma patada de um boi, no decurso de um arrasto
da rede.
O
Quim da Graça, nome de sua Mãe, Rosa da Graça, foi um homem modesto, embora
austero, por profissão, mas muito carinhoso com a Família, com uma superior
paixão pelo mar, vinda de seus antecessores.
Familiar
chegado informou-me que começou por fazer o Curso da Escola Náutica, após o
qual foi colocado como Piloto da Barra, primeiro na Figueira da Foz e,
posteriormente, na Barra de Aveiro.
Poucos
anos depois, nas safras de 1923 e 25, comandou o lugre Laura, pilotado
por João dos Santos Labrincha (23).
Este lugre foi construído em 1921 na
Gafanha da Nazaré sob o risco de José Soares. Propriedade da Empresa de
Navegação e Exploração de Pesca, Lda., participou nas campanhas de 1921 a 26.
Tendo imobilizado em 1927, virá a ser o Cruz
de Malta, em 1928, propriedade
da Empresa Testa & Cunhas, Lda.
Lugre
Laura entre 1921 e 26
-
Na
campanha de 1929, foi piloto
estreante, sob o comando de Manuel dos Santos Labrincha, do recente lugre Santa Izabel, mandado construir pela Empresa de Pesca de Aveiro, no
mesmo ano.
Na
famosa campanha de 1931, – a da
pesca do bacalhau nos mares da Groenlândia, continuou piloto do mesmo lugre, sob o comando do mesmo capitão.
Com
algumas lacunas de informação e, em tempo de crise, comandou o lugre Ernâni, pertença de Testa & Cunhas, Lda., pilotado por Manuel
Gonçalves Viana, na campanha de 1934,
ano em que o navio naufragou, pasto de chamas, por incêndio despoletado na
fritadeira do fogão. O capitão, ao contar a tripulação na hora do salvamento,
deu por falta de um homem – era o mestre,
que, no rancho, chorava a perda do «seu» navio, que estava a arder por sua
culpa. Lá foi o capitão arrastar o desgostoso mestre, para que uma vida se não perdesse em vão – «estória» oral
contada mais tarde por um familiar do mestre.
-
Lugre
Apollo, em 1921, futuro Ernâni
-
Por
acta da empresa de 15 de Agosto de 1935,
apercebi-me que a empresa ia preparar o Silvina
para a próxima safra, em parte, para substituir o Ernâni repasto de chamas. O lugre
Silvina, há bastantes anos parado e
algo deteriorado, foi reparado, tornando-o navegável, no que foram gastos cerca
de 50 contos, importância que não podendo, de momento, ser amortizada, deveria
ser levada à conta do respectivo lugre.
Nas
safras de 1935, 36 e 37, o Capitão Quim da Graça comandou o
lugre Silvina renovado, pilotado, por Alexandre Simões Ré (36) e Manuel Gonçalves da Silva, de
alcunha Paroleiro. (37). Na campanha
de 38, transitou para o lugre Cruz de Malta, pertencente à mesma
empresa, pilotado por Manuel Pereira da Bela (Violante).
Lugre
Silvina, em frente à seca
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Lugre após lugre, de três mastros, de madeira, que
se deslocavam aos Bancos da Terra Nova e da Groenlândia na quadra mais quente,
foi ascendendo de imediato a capitão, tendo-se transferido, posteriormente,
para a praça de Viana do Castelo.
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De
1939 a 1951 (inclusive), estreou, no comando, o navio-motor de ferro Santa
Maria da Madalena, construído em 1939,
nos estaleiros da CUF, para a Empresa de Pesca de Viana.
Teve
como imediatos, os ilhavenses Francisco Fernandes Mano (39 e 40), Manuel Pereira
da Bela (Violante) (41 a 44) e Armando Pereira Ramalheira (47 e 48). Como pilotos, Manuel Pereira da Bela (Violante) (39 e 40) João Simões Ré (41 e 42), Weber Manuel Marques Bela (47) e Carlos Alberto Pereira da Bela (49, 50 e 51), também nossos conterrâneos.
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De
1952 a 61 (inclusive), inaugurou, no comando, o navio-motor de ferro Rio
Lima, construído nesse mesmo ano nos estaleiros Navais de Viana do Castelo,
para a mesma empresa. Após a viagem de 1961,
transformou para arrastão clássico.
O navio-motor
de ferro Rio Lima
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Trabalhou
como seu imediato, o ilhavense Manuel dos Santos Malaquias. (53, 54, 55 e 56). Como piloto, o nosso
conterrâneo António Manuel de Oliveira Gordinho (53 e 54). Nos restantes anos, quer os imediatos quer os pilotos não
foram de Ílhavo.
Capitão Quim da Graça, em navio de Viana
-
Segundo
informação do Jornal do Pescador de
Maio de 1960, p. 23, na Bênção dos Bacalhoeiros de 1960, a três de Abril, foi condecorado por sua Exa. o Presidente da
República Américo Thomaz, com o grau de Oficial da Ordem de Mérito Industrial.
-
E
de navio em navio vianense, foi vivendo as suas safras, nos mares longínquos e
gélidos. Passou a comandar o navio-motor
de ferro São Ruy nos anos de 62 e 63, com Francisco Correia Marques como imediato, tendo dado por
encerrada a sua actividade marítima.
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A bordo de navio de Viana do Castelo…
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Familiar
próximo contou-me que o nome de Agualuza terá vindo de um comentário feito pelo
Pai, exactamente com o mesmo nome. Quando na praia da Costa Nova, a rede de
arrastar estava a ser puxada pelas juntas de bois, terá dito para os camaradas
de pesca: – Hoje a rede vai trazer pouco peixe, porque a água está luza
(leia-se luzente). E assim passou a ser tratado pelo Agualuza.
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Imagens
– Arquivo
pessoal e gentil cedência de familiares
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Ílhavo,
24 de Outubro de 2016
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Ana Maria Lopes
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Tem e-mail Para contato? sabe mas sobre a familia Agualuza??
ResponderEliminarAgradecido: Wesllen Agualuza Pereira