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Na
sequência da biografia marítima de João Fernandes Mano (Agualusa), só poderia
ocupar-me, de seguida, da de João Maria da Madalena, respectivamente, Capitão e
piloto do lugre Gamo que, em 1918, foi
torpedeado por um submarino alemão camuflado, a 31 de Agosto, navegando o lugre na latitude 46º 02’ N e longitude 32º 32’ W, na
rota dos Açores, tendo sobrevivido a uma aventura extenuante. Salvaram-se 34
dos 39 náufragos que tripulavam o bacalhoeiro Gamo, tendo aportado ao Faial em 8 pequenos dóris, quase sempre sem comer nem beber, 470 milhas à vela, a remo
e a correr com as vagas.
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Natural
de Ílhavo, nascido a 18 de Outubro de 1899
(-1964), começou por passar logo esta tremenda e trágica experiência de mar,
aos 18 anos de idade, o que muito possivelmente, o terá marcado para a vida.
No
entanto, o seu currículo marítimo não ficou por aqui. Tendo, muito
possivelmente, andado cerca de 20 anos na marinha de comércio, voltou, de
acordo com a ficha do GANPB, à pesca bacalhoeira, tendo exercido em 1938, o comando do lugre Santa Regina, com
o imediato Artur Oliveira da Velha, também de Ílhavo, tendo tido o infortúnio
de naufragar
Segundo
o Jornal da terra, de 4 de Junho de 1938,
na sexta-feira à noite chegou a notícia a
Ílhavo de se ter perdido o lugre-escuna Santa Regina da Empresa de Pesca de
Portugal, Lda., com sede em Ílhavo. O navio naufragou a noroeste dos Açores,
tendo sido salva a tripulação por um vapor de carga inglês, que a levou para
Glasgow. Era seu capitão o Sr. João Maria da Madalena e piloto o Sr. Artur da
Velha, levando mais de doze homens de Ílhavo, sendo os restantes de outros
centros piscatórios.
Pelo
neto do Sr. Capitão João da Madalena fiquei a saber que Eduardo António Rodrigues,
moço, de Ílhavo, que falecera no
naufrágio, era cunhado do capitão, que o levara na viagem, a seu pedido, por
estar desempregado. Mais um acaso que sempre marcou a vida do «nosso capitão».
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Tendo-me
sido facultado o Diário de Bordo do Santa Regina, respigo excertos arrebatadores
e aflitivos da descrição do seu naufrágio.
«… No dia 1 de Junho, o
barco navegava com a proa à vaga e com o velame reduzido, de «capa rigorosa».
No dia seguinte era tal
a força de mar e vento que o barco cavalgava por sobre as vagas, escorregando
depois «a pique», como se fosse mergulhar nas profundezas, para logo de seguida
apontar de novo a proa ao céu.
Por volta das 5 horas,
rebentou dentro do navio um grande golpe de mar que inteiramente varreu o
convés, formando a água castelo que ia até meia altura do mastro e que levou
toda a borda falsa dos dois lados e 33 dories, arrancando as poucas velas que
estavam içadas, partiu com fragor os «alvois» das escotilhas, a roda do leme e levou
tudo quanto se encontrava solto no convés.
O barco tombou para o
lado direito, fazendo um ângulo tal que a verga que cruza um dos mastros chegou
a tocar na água.
Com o barco adornado
desta maneira, começámos por lançar ao mar todos os ferros e correntes, depois
o sal, (de que o navio ia carregado para conservação do bacalhau) e duas horas
depois quando já corríamos com o mar e com o vento, novo e violento golpe de
mar abriu 5 enormes brechas na popa do Santa
Regina, partindo com grande estrondo parte da câmara e levando pela borda
fora 3 dos nossos tripulantes.
O mar levou os 3 homens
que nunca mais apareceram e levava tudo quanto encontrasse à sua frente… até um
tanque de ferro com 3 toneladas de água foi atirado contra as enxárcias do
mastro central, quebrando-as e deixando-o desamparado.
Todos os homens
correram às bombas, mas os seus esforços resultaram inúteis, pois o navio cada
vez metia mais água (…).
Assim nos mantivemos a
lutar com o mar até às 17 horas, que foi quando avistámos o vapor inglês Cap. Nelson, que imediatamente acudiu
ao nosso pedido de socorro (…), mas só na madrugada seguinte dia 3 de Julho
conseguiu enviar-nos por 2 vezes um salva-vidas, que transportou para bordo do Cap. Nelson, todos os sobreviventes. O Santa Regina, em cujas câmaras havia
sido lançado petróleo, para que não constituísse perigo para a navegação,
afundou-se, em chamas, na latitude 40 34 N. e longitude 37,18 W. …».
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Entrevista ao Cap. João Maria Madalena, a bordo do paquete Lima, em 1938
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Em
Jornal de 11 de Junho de 1938,
ficamos a saber que a empresa em causa
recebera um telegrama do capitão do Porto da Horta, anunciando que tinham
chegado àquela ilha 30 náufragos do lugre Santa
Regina, tendo falecido 3 tripulantes, sendo, entre eles, Eduardo António
Rodrigues, moço, de Ílhavo, mais um da Afurada e outro da Nazaré.
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Os oficiais do lugre
Santa Regina e do lugre Bretanha, naufragados, ambos, em 1938
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Nas
campanhas de 1939, 40 e 41, «o nosso capitão» pilotou o lugre Cruz de Malta, pertença de Testa & Cunhas, Lda., sob o comando
do Sr. José Gonçalves Vilão.
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Nas
viagens de 1942 e 43, foi imediato do lugre Milena, sob o comando do Sr. António Augusto Marques (Marcela).
Entre
1945 e 1948 (inclusive), comandou o lugre
Senhora da Saúde, adquirido pela
empresa Tavares, Mascarenhas, Neves & Vaz, Lda., para a campanha de 1935.
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Em
1949, fez uma viagem como imediato, no arrastão
Invicta, sob o comando de João Nunes
de Oliveira Sousa, navio de aço, construído na Holanda, em 1948, para a
Companhia de Pesca Transatlântica Douro, da praça do Porto.
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Arrastão
Invicta, da praça do Porto, anos 50
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A
partir do início dos anos 50,
comandou o navio de cabotagem Dione, construído em 1951, nos
malogrados estaleiros de S. Jacinto, tendo tido, vários imediatos de Ílhavo.
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A bordo do Dione,
em 1955
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Também
conhecido por João do Grande, foi um
homem zeloso, trabalhador e amigo da família, de cuja companhia se viu privado
tanto tempo, pelas ausências marítimas, cheias de perigos e agruras, desde a
mais tenra idade.
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Imagens
– Arquivo
pessoal e gentil cedência do neto João da Madalena
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Costa
Nova, 30 de Setembro de 2016
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Ana Maria Lopes
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Grandes Homens! Grandes histórias!
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