quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Homens do Mar - João Maria da Madalena- 20

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Na sequência da biografia marítima de João Fernandes Mano (Agualusa), só poderia ocupar-me, de seguida, da de João Maria da Madalena, respectivamente, Capitão e piloto do lugre Gamo que, em 1918, foi torpedeado por um submarino alemão camuflado, a 31 de Agosto, navegando o lugre na latitude 46º 02’ N e longitude 32º 32’ W, na rota dos Açores, tendo sobrevivido a uma aventura extenuante. Salvaram-se 34 dos 39 náufragos que tripulavam o bacalhoeiro Gamo, tendo aportado ao Faial em 8 pequenos dóris, quase sempre sem comer nem beber, 470 milhas à vela, a remo e a correr com as vagas.
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Natural de Ílhavo, nascido a 18 de Outubro de 1899 (-1964), começou por passar logo esta tremenda e trágica experiência de mar, aos 18 anos de idade, o que muito possivelmente, o terá marcado para a vida.
No entanto, o seu currículo marítimo não ficou por aqui. Tendo, muito possivelmente, andado cerca de 20 anos na marinha de comércio, voltou, de acordo com a ficha do GANPB, à pesca bacalhoeira, tendo exercido em 1938, o comando do lugre Santa Regina, com o imediato Artur Oliveira da Velha, também de Ílhavo, tendo tido o infortúnio de naufragar
Segundo o Jornal da terra, de 4 de Junho de 1938, na sexta-feira à noite chegou a notícia a Ílhavo de se ter perdido o lugre-escuna Santa Regina da Empresa de Pesca de Portugal, Lda., com sede em Ílhavo. O navio naufragou a noroeste dos Açores, tendo sido salva a tripulação por um vapor de carga inglês, que a levou para Glasgow. Era seu capitão o Sr. João Maria da Madalena e piloto o Sr. Artur da Velha, levando mais de doze homens de Ílhavo, sendo os restantes de outros centros piscatórios.
Pelo neto do Sr. Capitão João da Madalena fiquei a saber que Eduardo António Rodrigues, moço, de Ílhavo, que falecera no naufrágio, era cunhado do capitão, que o levara na viagem, a seu pedido, por estar desempregado. Mais um acaso que sempre marcou a vida do «nosso capitão».
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Tendo-me sido facultado o Diário de Bordo do Santa Regina, respigo excertos arrebatadores e aflitivos da descrição do seu naufrágio.
«… No dia 1 de Junho, o barco navegava com a proa à vaga e com o velame reduzido, de «capa rigorosa».
No dia seguinte era tal a força de mar e vento que o barco cavalgava por sobre as vagas, escorregando depois «a pique», como se fosse mergulhar nas profundezas, para logo de seguida apontar de novo a proa ao céu.
Por volta das 5 horas, rebentou dentro do navio um grande golpe de mar que inteiramente varreu o convés, formando a água castelo que ia até meia altura do mastro e que levou toda a borda falsa dos dois lados e 33 dories, arrancando as poucas velas que estavam içadas, partiu com fragor os «alvois» das escotilhas, a roda do leme e levou tudo quanto se encontrava solto no convés.
O barco tombou para o lado direito, fazendo um ângulo tal que a verga que cruza um dos mastros chegou a tocar na água.
Com o barco adornado desta maneira, começámos por lançar ao mar todos os ferros e correntes, depois o sal, (de que o navio ia carregado para conservação do bacalhau) e duas horas depois quando já corríamos com o mar e com o vento, novo e violento golpe de mar abriu 5 enormes brechas na popa do Santa Regina, partindo com grande estrondo parte da câmara e levando pela borda fora 3 dos nossos tripulantes.
O mar levou os 3 homens que nunca mais apareceram e levava tudo quanto encontrasse à sua frente… até um tanque de ferro com 3 toneladas de água foi atirado contra as enxárcias do mastro central, quebrando-as e deixando-o desamparado.
Todos os homens correram às bombas, mas os seus esforços resultaram inúteis, pois o navio cada vez metia mais água (…).
Assim nos mantivemos a lutar com o mar até às 17 horas, que foi quando avistámos o vapor inglês Cap. Nelson, que imediatamente acudiu ao nosso pedido de socorro (…), mas só na madrugada seguinte dia 3 de Julho conseguiu enviar-nos por 2 vezes um salva-vidas, que transportou para bordo do Cap. Nelson, todos os sobreviventes. O Santa Regina, em cujas câmaras havia sido lançado petróleo, para que não constituísse perigo para a navegação, afundou-se, em chamas, na latitude 40 34 N. e longitude 37,18 W. …».
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Entrevista ao Cap. João Maria Madalena, a bordo do paquete Lima, em 1938
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Em Jornal de 11 de Junho de 1938, ficamos a saber que a empresa em causa recebera um telegrama do capitão do Porto da Horta, anunciando que tinham chegado àquela ilha 30 náufragos do lugre Santa Regina, tendo falecido 3 tripulantes, sendo, entre eles, Eduardo António Rodrigues, moço, de Ílhavo, mais um da Afurada e outro da Nazaré.
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Os oficiais do lugre Santa Regina e do lugre Bretanha, naufragados, ambos, em 1938
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Nas campanhas de 1939, 40 e 41, «o nosso capitão» pilotou o lugre Cruz de Malta, pertença de Testa & Cunhas, Lda., sob o comando do Sr. José Gonçalves Vilão.
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Nas viagens de 1942 e 43, foi imediato do lugre Milena, sob o comando do Sr. António Augusto Marques (Marcela).
Entre 1945 e 1948 (inclusive), comandou o lugre Senhora da Saúde, adquirido pela empresa Tavares, Mascarenhas, Neves & Vaz, Lda., para a campanha de 1935.
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Em 1949, fez uma viagem como imediato, no arrastão Invicta, sob o comando de João Nunes de Oliveira Sousa, navio de aço, construído na Holanda, em 1948, para a Companhia de Pesca Transatlântica Douro, da praça do Porto. 
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Arrastão Invicta, da praça do Porto, anos 50
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A partir do início dos anos 50, comandou o navio de cabotagem Dione, construído em 1951, nos malogrados estaleiros de S. Jacinto, tendo tido, vários imediatos de Ílhavo.  
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A bordo do Dione, em 1955
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Também conhecido por João do Grande, foi um homem zeloso, trabalhador e amigo da família, de cuja companhia se viu privado tanto tempo, pelas ausências marítimas, cheias de perigos e agruras, desde a mais tenra idade.
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Imagens – Arquivo pessoal e gentil cedência do neto João da Madalena
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Costa Nova, 30 de Setembro de 2016
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Ana Maria Lopes
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