O grupo uariadeaveiro, em colaboração com a
Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro, está a promover um novo ciclo de «Quintas da Ria», que inclui uma
tertúrlia por mês, a uma quinta-feira, entre fevereiro e julho de 2015.
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A primeira conversa iniciou-se
pelo tema «As embarcações e as rotas na
Ria de Aveiro», entregue aos palestrantes Senos da Fonseca, eu própria e
Helder Ventura, tendo tido lugar a 12 de
Fevereiro passado.
Senos da Fonseca ocupou-se das
principais embarcações lagunares, as maiores, situando o seu aparecimento, de
acordo com as necessidades dos utilizadores e a evolução geográfica da laguna,
que considerou formada, a partir do século IX. Não esqueceu o xávega, que, embora operando no mar,
proveio igualmente das hábeis mãos dos nossos construtores lagunares, ao longo
dos tempos.
Referido o principal por Senos
da Fonseca sobre as embarcações, fiquei com o caminho aberto para me deter
sobre as principais rotas lagunares, já que o tempo concedido para tal, era fugaz.
Este
tema implicou regredirmos no tempo, o suficiente, e não é assim tanto, em que a
laguna era a grande auto-estrada líquida, pois não havia rotas terrestres, na
zona, que pudessem transportar mercadorias e passageiros.
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As
rotas
lagunares estiveram forçosamente ligadas às embarcações – mercantel (saleiro), moliceiro, bateira
moliceira, bateira do junco e bateira
berbigoeira, que mais tarde, com algumas adaptações, passou a designar-se
por mercantela.
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Talvez
possamos considerar, sem cometer nenhuma infidelidade histórica, o mercantel como uma das primeiras
embarcações de fundo chato, nascida nos tempos modernos (depois dos séculos XV,
XVI) construída para sulcar a laguna, servindo vários projectos.
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De
facto, teria sido o mercantel, a
embarcação (comummente designada por
barca) que terá servido, tão eficazmente, de vários modos, a economia
lagunar.
Houve
necessidade de fazer evoluir, uma nova embarcação de fundo chato, que calasse
pouca água e que albergasse cerca de 15
toneladas, que se adaptasse à condição geográfica lagunar, que aproveitasse
para sua propulsão, os ventos mais dominantes desta região, o norte e o
noroeste, para navegar de popa (fazer
popas) ou para bolinar (navegar à
bolina), avançando contra o vento, aproveitando-o, na sua vela latina quadrangular, mais tarde.
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Assim
nasceu o mercantel.
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É
bastante conhecida uma gravura de mercantéis
no Rossio, em Aveiro, datada de 1877.
Tiveram o seu auge até meados, (sétimo decénio) do século XX.
Anteriormente,
teria havido umas barcas de rio acima,
idênticas, quantas vezes abicadas à proa e a ré, de vela tosca de pendão que aproveitavam a brisa matinal
do rio e a corrente, para subirem e a brisa da tarde para descerem, trazendo
outras mercancias de lá para cá, necessárias, como madeirame, vinhos, e
produtos diversos artesanais para feiras.
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Barcas
de rio acima de vela de pendão
Nos
rios Vouga, Águeda e Cértima, são referidas nas Memórias Paroquiais escritas pelo prior de Águeda, em1758, umas barcas semelhantes, que transportavam
rios acima, mercadorias, sobretudo sal e peixe, também para o cais de Águeda e
para os portos secos, locais para
onde era distribuído o sal por outros pontos do país.
Barcas
em Águeda, em 1920
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A
estrada norte/sul mais próxima passava por Águeda, Mealhada e Albergaria.
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Rota do SAL
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Tendo
sido, certamente, o sal, a primeira das mercadorias a ser carregada no mercantel, foi conhecido, neste
transporte, sobretudo, por saleiro.
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O sal era retirado das marinhas e era levado
para os armazéns do canal de S. Roque.
Tirada
de sal junto a marinha
Descarga do sal no Canal de S. Roque
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Daí,
primeiro para Águeda, depois para o Cais de Ovar (Ribeira de Ovar), onde o
movimento era intenso e activo, não podia também de deixar de passar também
pelo esteiro de Estarreja.
Na Ribeira de Ovar, os saleiros carregados
Descarga de sal, no esteiro de Estarreja
A
rota do sal não podia praticamente separar-se da rota do peixe, porque a seguir
ao sal, era o peixe o produto mais transportado.
Vindo
desde a Costa Nova, onde era lavado, salgado e vendido em palheirões à beira-ria, de S. Jacinto e da Torreira para Aveiro,
daí seguia os destinos já designados.
Armazéns de venda de peixe, na Costa Nova
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Imagens
diversas: postais, retiradas do Google e cedidas por amigos
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Ílhavo,
29 de Março de 2015
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Ana Maria Lopes
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