Que
mais dizer de novo que ainda não tenha sido estudado ou publicado sobre o barco
mercantel, acerca da sua função como carregador
do sal – saleiro –?
Respiguemos,
aqui e ali, o que diversos autores transmitiram, nomeadamente Senos da Fonseca,
Inês Amorim e outros, sobre esta função do mercantel,
o grande senhor da ria.
Que
está extinto, é uma realidade e que é uma pena, também.
Como
manter a sua memória? Divulgando imagens? É uma hipótese. Exibi-lo, como barco
de museu? Outra. Nenhuma lhe tira a saudade da sua navegação e presença na ria,
em labores diversos.
Eram-me
familiares, quando na adolescência frequentava bastante o cais da Gafanha da
Nazaré.
Fotografei-os,
sem ter a noção que registava futuras relíquias.
Gafanha da Nazaré. 1963. AML
-
Pessoa
amiga cedeu-me alguns registos do último mercantel
construído pelo Mestre Joaquim Raimundo, da Murtosa, em 1959, em dia festivo de
bota-abaixo.
-
Um dos últimos mercantéis.
1959. PHC
Ainda
para serviço efectivo, foi construído em 1973, o último mercantel, por Mestre Lavoura, afamado construtor de Pardilhó.
Como
peça de museu, o MMI acolheu um, para exibição, em 2001, construído por Mestre
Esteves, também de Pardilhó. E lá continua…
Muitas
serventias…
O
grande carregador lagunar teve três funções essenciais:
-
Na passage, sendo mais conhecido,
pela designação de barca.
-
No carreto – de variadíssimos fretes
– o junco, o caulino, a madeira, peixe, fruta, cereais, animais, artigos de
artesãos locais, etc.
-
No transporte específico do sal – o saleiro.
-
O
Cais da Ribeira de Ovar era o destino mais habitual do sal. Em tempo de abastança!
Ribeira de Ovar, em meados do século XX
Arquivo Aveiro
Com
a evolução dos tempos, com a construção de estradas e pontes, com a diminuição
de alguns destes produtos, a utilização do mercantel
foi-se tornando cada vez mais escassa, conduzindo-o ao desaparecimento total.
As
imagens que se seguem, inéditas e estonteantes, são registos de sonho, testemunhos
de uma época não muito distante, que já não volta. Conseguidas do alto da Ponte
da Varela (sempre depois de 1964), atestam idas e voltas de saleiros vazios e cheios, impulsionados
por uma brisa suave que enfunava uma ou duas velas.
Imagens
raras, etéreas, divinas, espelhadas entre azuis cerúleos, mortiços e
acinzentados, distintos, sem linhas de horizonte notórias.
E
o olhar alcandorado do arco central da ponte esfuma-se entre barco, sal e majestade
da ria…
Têm
a dimensão de uma visão efémera…
Imagens
finais – Gentil cedência do Sr. Comandante A. Bento
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Ílhavo,
27 de Dezembro de 2014
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Ana Maria Lopes
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