Pessoa
amiga, conhecendo os meus gostos, teve a amabilidade de me oferecer uma
fotografia em suporte de papel, cerca de 15 por 20 cm, conseguida na livraria Galileu
de Cascais. Fiquei encantada. Para mim, um registo único.
Todas
as imagens que até agora conheço de bateiras
ílhavas são registos isolados, em princípio. Esta, pelo contrário é um
registo integrado.
É
um tal entrelaçado de pessoas e barcos que ofusca e seduz. Imaginamos, pois,
que se trata de uma cena cujo palco é o Cais
da Ribeira, que engloba classes de vários estratos sociais – pelo aspecto
e, sobretudo, pelo diferente trajar.
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Rapazotes,
de boina ou boné, sentados no cais, descalços… Raparigas, de saia comprida,
coberta por avental, encilhados por faixa escura, e blusa de manga comprida,
lisa ou axadrezada. A cabeça protegida por lenço atado sob o queixo, ou caído
de pontas soltas, coberto por chapéu redondo, em formato de queijo, tipo miroa ou de aba pouco larga…Alguns
senhores de fato escuro e chapéu de feltro de aba …
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Encalhadas
na areia, proas e popas emaranhadas, com vergas
e mastros cruzados, de
embarcações distintas – traineira de
Peniche, caíque do Algarve, canoas de Cascais…
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Ao
largo, ancoradas, pesadas fragatas,
no seu negro característico, com roda de
proa direita, bem distinta da do varino,
com a água a tocar os bordos, tal era
a sua carga. Aqui e acolá, ao longe, «pintado» um ou outro navio…
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É
este o quadro que me encanta e seduz… Mas o que é que mais me fascina e atrai?
Entre
este emaranhado complexo, é a presença de duas bateiras ílhavas, nas
suas proas bem abicadas, negras,
donairosas, altivas e elegantes.
É
a presença dos ílhavos, no seu barrete negro de borla, aqui e acolá, de gabão
escuro, sobre manaias e camisa
claras.
Seguindo
com paciência as linhas das bateiras,
entre pessoal apinhado na praia, somos conduzidos às suas rés, varadas na areia.
Um
quadro raro, fotografado, da nossa expansão, litoral abaixo. Na ausência de
data, pelo que venho observando, arrisco-lhe uma datação – ali pelo último
decénio do século XIX.
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Apreciem…que
vale a pena.
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Ílhavo,
15 de Agosto de 2014
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Ana Maria Lopes
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