Realiza-se anualmente a festa do Sr. Jesus dos Navegantes, no primeiro
domingo de Setembro. Esta é, talvez a de maior tradição, e a que se mantém mais
viva de entre as festas de Ílhavo.
A imagem do Senhor Jesus, um
Cristo crucificado (…) desce do altar (na sexta-feira anterior) para incorporar o andor, com a miniatura do
lugre bacalhoeiro “Navegante” do seu lado direito, num mar de lona pintada, dando mote ao que é a sua denominação
popular: Senhor Jesus dos Navegantes.
Ílhavo, terra de porto de mar, onde existem registos de pesca longínqua
desde finais do séc. XVI, reza em devoção, lembrando seus marinheiros e
embarcações naufragadas, vidas de esforço feitas de água salgada e peixe.
Andor, com o Altar como fundo, antes da Procissão
Cumprindo uma tradição
centenária, é exactamente, neste fim-de-semana, de 5 a 8 de Setembro que se
realiza a festa, o que nem sempre aconteceu, tendo-se já efectuado, em anos transactos,
em Novembro (1941, 54 e 55) e até em Dezembro, em 1956, com a frota bacalhoeira
já no ancoradouro.
Procissão numa das ruas de Ílhavo – Anos 60
O modelo do lugre “Navegante”, com três mastros e velas latinas, foi construído pelo
marinheiro ilhavense José Domingues Pena, nascido em 1902.
Lugre Navegante, em pormenor
Ao começar a sua miniatura, o autor teria 17
anos, levando peças para bordo para ir trabalhando em dias de temporal, como,
aliás eram hábito dos marítimos habilidosos. Quando naufragou na pesca do
bacalhau, prometeu ao Senhor Jesus dos Navegantes que, se a acabasse, lha
ofereceria e assim o fez, em 1919. A
miniatura esteve na Igreja Matriz algum tempo, passou a ficar guardada na casa
de uma irmã de José Pena, ficando mais tarde definitivamente na Igreja. Tem
sempre figurado na procissão, no andor do Senhor Jesus, tendo sofrido alguns
restauros conservativos, que eu saiba, em 1992 pelas hábeis mãos de José
Alberto Malaquias e, outro, em 2007, pelo Capitão Francisco Paião, dada a sua
fragilidade, os efeitos do tempo e a saída agitada no andor, difícil de
transportar pelo peso excessivo e demasiada altura.
Do programa religioso são de destacar
a Sagrada Eucaristia, na Igreja
Matriz, pelas 11 horas de domingo, bem como a saída da Procissão em honra do Santo Padroeiro, pelas 17 horas, tendo lugar,
no cais da Malhada a bênção das actividades marítimas, com a presença da Banda
dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo, Banda Filarmónica Gafanhense e Fanfarra
dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão.
Na segunda-feira, dia 8, último dia das festividades, pelas 19 h, terá lugar na nossa Igreja uma Missa de sufrágio pelos marinheiros falecidos e são muitos! Segue-se a entrega dos ramos da mordomia.
“Quem não rema, já remou!” – diz a tradição e a Igreja costuma ficar
repleta, pois a maioria das pessoas tem raízes ligadas ao mar.
Outros e variados eventos de
carácter profano completam a Romaria, no Jardim Henriqueta Maia.
A escultura do “nosso” Senhor
Jesus e a miniatura do “Navegante” foram integrados com todo o aparato na Bênção dos Lugres Bacalhoeiros, em
Belém, no dia 12 de Abril de 1953,
há 61 anos.
Bênção dos Lugres Bacalhoeiros, em Belém
Não foi a única saída que teve, a
miniatura. Depois da festa de 1992,
até finais de 1993, a
miniatura teve uma guarida diferente. Foi albergada e acolhida afectuosamente
numa vitrina do MMI, integrada na
exposição Faina Maior, Pesca do
bacalhau à Linha, no painel Ex-Votos. Curioso que no ano de
1993, o modelo foi transferido do museu para os festejos religiosos e ao museu
voltou, visto que a exposição, em princípio, temporária, ainda não tinha
alcançado o seu término.
Fontes – Senhor Jesus dos Navegantes –
Mar e Devoção de Hugo Cálão e Isabel Cachim Madaíl. Agosto de 2007.
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Folha
de Sala Ex-Votos, de Ana Maria Lopes.
Novembro de 1992.
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Imagens
– Arquivo pessoal da autora
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Ílhavo, 5 de Setembro de 2014
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Ana Maria Lopes
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