O barco que parte
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O barco parte, e para trás, fica
uma safra...
Essa barca de sal abençoada ruma agora em direcção ao cais, onde atracam
outras tais, para tão ansiada largada.
A viagem tem início. Haja vento
favorável, mãos hábeis para a manobra e este ser
de rudes tábuas deslizará, decidido, sobre as águas.
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Entre o pregueado do pano e o entrelaçado dos cabos, desbravando
o complexo aparelho, prepara o barqueiro
o içar da vela.
Tem pressa de partir.
Sai com a maré, que o vento está
de feição…
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Ei-lo que parte!
Essa barca de pouco calado, carregada até às «aferas», arrasta precioso
lastro.
Sulcando e marulhando as águas da
laguna, possantemente, navega segura, às mãos
do seu comandante.
Este, emproado e firme no manejo,
monta o dorso do seu corcel, tomando-lhe as rédeas com saber.
Da proa à popa, ele governa os 18
metros de tabuado, à sirga, com tira-vira.
Assim, liberto do leme, solta-se para
outras manobras. E não são poucas... essas águas não dão tréguas. Haja maré!
São barcos, são barqueiros que
navegam sem medo. Cruzam-se com outras gentes e entes, passam pontes,
comportas...
Sempre atentos à maré, rumam ao
encontro da ria aberta.
São registos, são recortes de
gente crente.
O barqueiro que voga pela Ria projecta o olhar na lonjura, prevendo o
seu destino, ora certo, ora incerto, mas sem nunca perder o rumo. Tem pressa,
leva frete.
Sob céu limpo e sol intenso, a
contra-luz, dominam as silhuetas que se destacam pela sua firmeza – homem, barco
e ave.
São seres alados, que ali
plasmados sobre fundo azulão, parecem voar até ao infinito…Ambicionada
pretensão, a da liberdade.
Congela-se o momento, mas o
tempo, esse, perdura na memória…
O majestoso saleiro, que agita e revolta as águas à sua passagem.
Rasga com a sua ossada de tábuas
o caminho, deixando para trás um profundo sulco negro, descrito em esteira de
espuma, que suavemente se vai dissipando…
É grande o encantamento!
Sereno, ruma ao seu destino.
Entre a incerteza do caminho espera-o a
certeza do seu poiso…
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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01| 04 | 2014
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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Se bem compreendi o (excelente...)texto,"sirga" seria o "cabo",de "ida-e-volta"lançado dos dois "lados" do leme até a um "moitão" (?)preso à bica da proa,e que permitia,além da situação descrita no texto,comandar o leme quando se navegava "à vara",ou por ausência de vento,ou (calculo...)quando se percorria um canal estreito e não se podia "bolinar"...Na juventude (ignorante,nem sabia o que era "amuras a bombordo",como fui uma vez interpelado por um rapazola, timoneiro de "Optimist"...)julgava que "ir à sirga" era "ir de tôa",ou seja,puxado,de terra,por um ou 2 cabos,como,por exemplo,os "barcos rabelos",nos rápidos onde morreu o Barão de Forrester,ou quando,simplesmente,não havia vento favorável para subir o Douro...
ResponderEliminarSempre a aprender!...Cumprimentos,"kyaskyas"
Obrigada, caro conterrâneo, pelo seu comentário. Cumprimentos
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