A apajar...
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Chega a hora de achegar o
que atirado foi durante os longos de dias de labor.
Eis que se completa o monte e, à
pazada, se arrumam as últimas canastras de sal que foram arrimadas para o cimo.
É preciso apajar o monte
com brio, que o comprador em breve chegará para transportar tão precioso
carregamento – o sal da Ria de Aveiro.
Lá, muito perto do céu, quase
tocando as nuvens, este «ser» do sal agacha-se. Em posição esforçada, arruma os
cristais pelo cume, ajeitando, aprumando e rematando o último coruto
com a pá do sal.
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Achega, bate e alisa o sal com a
pá – toque ali, toque acolá – o homem da marinha apaja o seu monte com
suor e saber.
Num misto de arte e de rudeza,
vemos os montes crescer e ganhar forma às mãos do artista. E, sob um céu de
pintor, ele vai criando a obra, inspirado pelo dever e pelo brio do seu «ser».
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P’ra lá, p’ra cá – afaga, aquilo
que criou, apaja o seu monte, como quem bajula e corteja o seu
amor... até o sal gosta de ser apaijado.
Por fim, lá em cima, o marnoto
remata o topo e, como quem ergue a bandeira da vitória, dá um último batimento,
orgulhoso.
De baixo vislumbram-se os adornos
em relevo que pontilham toda a roda do monte – são estas formas de canastras,
inscritas em relevo, que denunciam o artefacto de carreto de todo este ouro
branco.
Entre todas as alfaias e
artefactos da faina, só de pás... com elas se
remove, se amanha, se abre, se baldeia, se espalha, se bate, se alisa e se apaja
– mas é preciso ter arte para esculpir no sal!...
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Nota – Para esclarecimento de
linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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11| 02 | 2014
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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