A encher a canastra…
Vai-se tirar o sal.
Longas e estreitas veredas de chão endurecido preenchem-se de montículos
de cristais brancos – são os tabuleiros.
Quebrado, rido e encimado, ali escorre o sal puro, servido «sobre tabuleiro
de lama endurecida».
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Homens e rapazes valentes chegam pelo fresco da manhã.
Apetrecham-se de bilhas e tachos com o parco repasto, para enfrentar o duro carreto
– é um tal encher, carregar e acarretar o primeiro tempero, cuidadosamente
encanastrado... do tabuleiro para a eira.
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O moço enche
a canastra... não com punhos de madeira, mas «à rasoila», que os tempos são outros.
Num ímpeto, o jovem rapidamente cobre-a de sal, fazendo-a
transbordar.
Será ela a sua companheira ao longo do dia. Feita de tiras de
madeira entrelaçadas, bem encanastradas, transforma-se no cesto de carrego do
tempero da Ria.
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Entre as praias da marinha
velha e o entraval, o marnoto
aguarda serenamente o seu moço...
É o início do transporte do sal – do tabuleiro para o monte.
Ali plasmado junto à canastra, pensa… faz conta aos
carregos de sal.
– Cada meio dá cerca de três canastras, uma meia
centena deles terão de ser colhidos ao longo do dia... uma canseira!
– E o peso? Quase o meu!...
– E o percurso? Meia centena de metros de tabuleiro duro e
salpicado de cristais que desgastam e ferem as solas dos pés...
Mas há ir e voltar: um retorno leve num passo acelerado; uma canastra
cheia e os pés em chaga.
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Audaz, o marnoto ergue a
canastra e carrega-a sobre a cabeça do jovem, confiando-lha como se de
uma oferenda se tratasse. Ele alomba com o peso, mas, no caminho para o malhadal,
sorri... Vai atirar a primeira canastra de sal para a eira!
Vai estreá-la!
Mas a correria ainda agora começou e o sol vai apertar...
Mas a correria ainda agora começou e o sol vai apertar...
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Quase nus, enfrentam o sol e a aspereza da salsugem,
correndo, pisando, subindo e descendo machos e pranchas, percorrendo caminhos
intermináveis, num vaivém… calejando os pés e castigando a cabeça de tanta
canseira. Os seus corpos recebem a moira escorrida que estala a pele – é a vida dura na marinha!
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Nota – Para esclarecimento de
linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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12| 11 | 2013
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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