Por
um acaso ou talvez não, demorámos quase trinta anos a saber algo mais sobre os Garridos de Salreu, construtores navais
de machado e enxó, daquela localidade.
Eram
eles Mestre José Luciano Rodrigues Garrido (1897-1962) e Mestre Manuel Maria R.
Garrido, irmãos, que tinham tido um estaleiro de construção naval, em Salreu,
até meados do século XX, seguramente.
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Pelos
anos 80, ao visitarmos o esteiro, afirmamos em Moliceiros – A Memória da Ria,
que tudo estava deserto e ninguém sabia nada
de ninguém.
Só o estaleiro
abandonado e arruinado do Manuel Maria testemunhava o eco de um passado que já
parecia muito distante.
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Mas
tinham existido os Garridos! Tivemos provas.
O
afável Ti Arnaldo Pires, de Canelas,
com eles tinha trabalhado na arte de construção de embarcações lagunares
diversas, durante cerca de 30 anos – foi uma credível prova.
E,
que melhor testemunho visual? O MMI mantém e exibe uma proa de moliceiro, encomendada em 1934, ainda em período anterior à própria fundação do museu (1937). Em legenda de estibordo, regista-se
Mestre LUÇIANO GARRIDO Me Fes.
Mestre LUÇIANO
GARRIDO Me Fes.
Tínhamos
tido notícia há uns tempitos que um dos filhos do Luciano Maria Garrido, o Manuel (Augusto Tavares Garrido), tinha
regressado da Venezuela, para onde emigrara ainda jovem, por volta de 1956.
Em
busca de alguns esclarecimentos perdidos no tempo das «mui sui generis»
embarcações de Canelas e Salreu, lá encontrámos, perto dos vestígios do antigo
estaleiro do pai e tio, uma casa boa, espaçosa, tipicamente de emigrante
venezuelano, pela traça e materiais usados.
Manuel
Garrido (n. em Janeiro de 1937) e esposa acolheram-nos simpaticamente, mas,
como ele próprio dizia, nos seus 76 anos feitos, com algumas maleitas e
achaques, já não era muito exacto nos dados que fornecia. Foi o possível….o que
a memória foi deixando peneirar.
Cedeu-nos
uma fotografia do pai, do Mestre Luciano
Garrido e duas outras de uma reconstrução
levada a efeito em Agosto de 1990, numas férias na região.
Mestre Luciano Garrido
No
largo da freguesia e perto da ribeira de Salreu, ajudava o Mestre Arnaldo a
reparar a bateira do José Maria do Ilídio.
Reconstrução no largo…
No largo, perto do esteiro de Salreu
Em
casa, esboçou a sigla (marca pintada
no leme), dos Garridos, que ainda
ninguém me soubera definir – uma espécie de flor com 5 círculos em amarelo e
verde, circundada por um círculo maior a negro.
Em
ameno cavaqueio, tivemos a oportunidade de observar restos de ferramenta de
construção, incluindo «um macaco» de elevar as embarcações, bem como um grande
e prazenteiro bertedoiro de moliceiro, saído das mãos do nosso hospitaleiro
salreense. Cobiçámo-lo e em negócio amigável, lá o trouxemos, para fins
decorativos.
Sobras de ferramenta…
Imagens
– Gentil cedência de filho de Luciano Garrido
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Ílhavo,
17 de Junho de 2013
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Ana Maria Lopes
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Um blog com conteúdo que enaltece as artes da construção dos barcos que dão colorido à nossa Ria.
ResponderEliminarEh lá cachopa: que não contes tudo, é contigo,
ResponderEliminarmas o vertedouro é meu.....
Mas sim ,foi interessante encontrar o Garrido e esposa.....
Ah, ah, mas fui eu que o negociei!
ResponderEliminarAh, ah ,fui eu que tirei as fotos...!
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