quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Das reservas do Museu...para a nova Sala de Pintura - II

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Cont.)

Vamos então, agora, a alguns dos melhores artistas ditos nacionais, que pintaram ou representaram temas idênticos, relativos ao mar e à ria, suas gentes e paisagens.
A ordem pretende ser arbitrária. E, tal como fizemos com a I parte relativa à Sala de Pintura, apenas uma amostra, para convidar à visita.
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- De J.P. Ribeiro, em estudo, a pintura a óleo sobre madeira, Camponesa de Ílhavo, assinada, datada de 1869 (no reverso).
 

Camponesa de Ílhavo, 1869


- De Alberto de Souza (1880-1961), Mulher de Ílhavo, aguarela sobre papel, assinada e datada de 1938.


Mulher de Ílhavo, 1938

- A aguarela sobre papel, Vendedeiras de Mercado, assinada e datada de 1938. Ambas foram doadas ao Museu pelo autor, em Setembro de 1957.

 
- De Lino António (1898-1974), o desenho a lápis sobre papel, Nazarena, assinado e datado de 1929, doado pela AMI, em Maio de 2008.

 
Nazarena, 1929

- De Carlos Botelho (1899-1982), Varina, tinta-da-china sobre papel, assinada, sem data, doada pela AMI, em Agosto de 2013.


Varina, sem data
 
- De B. Lazaro Lozano (1906-1999), Pescadores, técnica mista sobre papel, assinada, datada de 1981, igualmente doada pela AMI, em Agosto de 2013.


Pescadores, 1981

- O óleo sobre tela, Regresso do mar, assinado, datado de 1990 (no reverso), doado pela AMI, em Agosto de 2009.
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- De João Vaz (1859-1931), Barco à vela, aguarela sobre papel, assinada, sem data, doada pela AMI, em Outubro de 2007.
 
- De Fausto Sampaio (1839-1956), Costa Nova, óleo sobre madeira, assinado e datado de 1933, doado pela AMI, em Outubro de 2008.


Costa Nova, 1933

- O óleo sobre tela, Costa Nova num dia de nevoeiro, assinado e datado de 1939, doado ao Museu por Manuel Craveiro, em Setembro de 1939.

- De Júlio Pomar (n. em 1926), Ulisses e as Sereias, óleo sobre tela, assinado e datado de 2007, foi adquirido pela CMI, na mesma data, integrado nas comemorações do 70º Aniversário da Instituição.

Ulisses e as Sereias, 2007

 - Do escultor Raul Xavier (1894-1964) Pescador e peixeiras, gesso patinado ocre, atribuído ao autor e não datado, baixo-relevo de grande dimensão, incorporado nas colecções do museu, na década de sessenta.
 

Pescador e peixeiras, sem data


O Marintimidades pretende despertar no público o interesse por visitar a colecção de Arte do Museu, que é una e, ao mesmo tempo, díspar, incluindo peças desde meados do século XIX até à actualidade, de toque marítimo, regional e nacional. É pois, um regresso às origens do museu…
Imagens – Arquivo da autora do blogue
Ílhavo, 31 de Outubro de 2013
Ana Maria Lopes
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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Das reservas do Museu...para a nova Sala de Pintura - I

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No pretérito 8 de Agosto, na plenitude dos seus 76 Verões, com a força do calor, o MMI abriu ao público uma nova sala de pintura, com «o ouro da casa», vindo das reservas do museu, desde os seus primórdios, antes de 1937 até à actualidade.
A intenção foi mesmo reunir numa mesma temática, arte ilhavense (a mulher de Ílhavo, suas varinas, suas gentes, suas belezas, suas praias…) através dos nossos «melhores», bem como de alguns dos melhores artistas ditos nacionais, que pintaram ou representaram temas idênticos, alusivos ao mar e à ria, suas gentes e paisagens.
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Na impossibilidade de plasmar aqui toda a exposição, deixo um «cheirinho», para que lá vão inalar todo o resto do perfume.
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De artistas da nossa terra:
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- De Cândido Teles (1921-1999), a pintura a óleo sobre tela, Moliceiros, assinada e datada de 1941, doada pela AMI, em Outubro de 2007.
 

Moliceiros, 1941

 - A pintura a óleo sobre madeira, Salinas, assinada e datada de 1946.


Salinas, 1946

-De João Carlos Celestino Gomes (1899-1960), a pintura a óleo sobre tela, Presépio, assinada e datada de 1930.


Presépio, 1930

- O desenho a lápis sobre papel, Varina, assinado e datado de 1941.

Varina, 1941

- Estudo para uma fonte, em gesso patinado ocre, Ondina, assinado e datado de 1953, adquirido pela CMI, em 1960.
 
Ondina, de 1953
 
Do escultor Euclides Vaz (1916-1991), a escultura em bronze de João Afonso de Aveiro, datada de 1956, oferecida, pelo autor, ao Museu, em Fevereiro de 1969.
 

João Afonso de Aveiro, 1956
- Escultura em gesso de Luís de Camões, assinada e datada de 1961.
Não sem esquecer Carlos Fragoso, pintor e cenógrafo ilhavense, discípulo de Amadeu Teles, Paulo Namorado, pintor e fotógrafo, também ilhavense, do virar do século XIX, e M.F., que ainda não conseguimos identificar, todos com estes óleos sobre tela ou madeira, presentes na Semana de Arte Ilhavense, em 1932, anterior à abertura do actual museu, em Ílhavo, que só veio a acontecer em 8 de Agosto de 1937.

Carlos Fragoso – Costa Nova, 1921
 
 
Paulo Namorado – Costa Nova, 1921

Este óleo de Paulo Namorado foi doado ao Museu, por Américo Teles, em Fevereiro de 1925.
(Cont.)
Ílhavo, 22 de Outubro de 2013
Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os «Garridos» de Salreu

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Por um acaso ou talvez não, demorámos quase trinta anos a saber algo mais sobre os Garridos de Salreu, construtores navais de machado e enxó, daquela localidade.
Eram eles Mestre José Luciano Rodrigues Garrido (1897-1962) e Mestre Manuel Maria R. Garrido, irmãos, que tinham tido um estaleiro de construção naval, em Salreu, até meados do século XX, seguramente.
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Pelos anos 80, ao visitarmos o esteiro, afirmamos em Moliceiros – A Memória da Ria, que tudo estava deserto e ninguém sabia nada de ninguém.
Só o estaleiro abandonado e arruinado do Manuel Maria testemunhava o eco de um passado que já parecia muito distante.
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Mas tinham existido os Garridos! Tivemos provas.
O afável Ti Arnaldo Pires, de Canelas, com eles tinha trabalhado na arte de construção de embarcações lagunares diversas, durante cerca de 30 anos – foi uma credível prova.
E, que melhor testemunho visual? O MMI mantém e exibe uma proa de moliceiro, encomendada em 1934, ainda em período anterior à própria fundação do museu (1937). Em legenda de estibordo, regista-se Mestre LUÇIANO GARRIDO Me Fes.


Mestre LUÇIANO GARRIDO Me Fes.
 
Tínhamos tido notícia há uns tempitos que um dos filhos do Luciano Maria Garrido, o Manuel (Augusto Tavares Garrido), tinha regressado da Venezuela, para onde emigrara ainda jovem, por volta de 1956.
Em busca de alguns esclarecimentos perdidos no tempo das «mui sui generis» embarcações de Canelas e Salreu, lá encontrámos, perto dos vestígios do antigo estaleiro do pai e tio, uma casa boa, espaçosa, tipicamente de emigrante venezuelano, pela traça e materiais usados.
Manuel Garrido (n. em Janeiro de 1937) e esposa acolheram-nos simpaticamente, mas, como ele próprio dizia, nos seus 76 anos feitos, com algumas maleitas e achaques, já não era muito exacto nos dados que fornecia. Foi o possível….o que a memória foi  deixando peneirar.
Cedeu-nos uma fotografia do pai, do Mestre Luciano Garrido e duas outras de uma reconstrução levada a efeito em Agosto de 1990, numas férias na região.


Mestre Luciano Garrido
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No largo da freguesia e perto da ribeira de Salreu, ajudava o Mestre Arnaldo a reparar a bateira do José Maria do Ilídio.
 

Reconstrução no largo…


No largo, perto do esteiro de Salreu

 
Em casa, esboçou a sigla (marca pintada no leme), dos Garridos, que ainda ninguém me soubera definir – uma espécie de flor com 5 círculos em amarelo e verde, circundada por um círculo maior a negro.
Em ameno cavaqueio, tivemos a oportunidade de observar restos de ferramenta de construção, incluindo «um macaco» de elevar as embarcações, bem como um grande e prazenteiro bertedoiro de moliceiro, saído das mãos do nosso hospitaleiro salreense. Cobiçámo-lo e em negócio amigável, lá o trouxemos, para fins decorativos.


Sobras de ferramenta…

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Imagens – Gentil cedência de filho de Luciano Garrido
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Ílhavo, 17 de Junho de 2013
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Ana Maria Lopes
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domingo, 6 de outubro de 2013

Uma janela para o sal - VI

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A circiar
E a dureza do trabalho continua nesta fase de preparação...
 
Na marinha, moço e marnoto «rolam» pelas praias já secas, descalços e arregaçados pelo esforço de tão árdua tarefa, a de circiar.
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É preciso alisar e calcar o solo já duro e seco, curado...
 
Depois de tantas molhaduras, de tantos banhos de águas velhas e novas, escavações, enchimentos e alisamentos de vieiros, eis finalmente a «pedra de toque», a compactação que dará provas da consistência do solo.
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Homem das marinhas, recortado nessa imensa planície de água e terra, é pelo fresco da manhã que caminhas, em posição esforçada, pelos vieiros já duros, empurrando esse pesado cilindro.

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Entre barachinhas em cutelo, de mãos firmes nas hastes, em quícios encaixadas, circias vezes sem conta, para nivelares, compactares e impermeabilizares esse chão que pisas e que BOM SAL PRODUZIRÁ.
 

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Marnoto, que percorres o solo salgado, bem suado e alisado, só tu crês no dia em que dele brotará o branco cristal que alimento te dará.
Nas moeiras te apoias e impulsionas o roliço rolo de madeira, num vaivém interminável...
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A passo cadenciado e ritmado, olhos fixos no cilindro que te endurece os membros e te cansa a alma... prossegues embalado, por esse chão duro, acamado e cimentado do trabalho.
 
Nota – Para esclarecimento de linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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17 | 06 | 2013
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Uma janela para o sal - V

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A dar molhaduras…
 
Ainda na preparação da marinha, se cura, se arreia, se deixa morrer ou se ugalham as praias numa tomada de águas novas para bom sal produzir.
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E é com sentido e com querer que as tarefas se cumprem – ritmadas, repetidas, esforçadas e precisas.
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E é numa entrega total, num consolo que alenta estas almas crentes de homens valentes, que colaboram de sol a sol, que a marinha ganha vida.
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Entre neblinas matinais, ei-los prontos para a jornada, homens do sal!
Ugalhar é necessário!
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Ó marnoto, que estás nessa praia salgada, leva teu moço e, em uníssono, «cantem» os mesmos movimentos, atirem essa água velha contra o ugalhadoiro.
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Moço laborioso, tostado e habilidoso, que, em movimentos lépidos, lanças água para lá...  borrifando e respingando como que se de uma dança de águas se tratasse.
 
E é com sabor a maresia no rosto que te refrescas e atiras essas águas, usando teu ugalho, de baixo para cima, e repetes e repetes…essas molhaduras. E que bem que o fazes!
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Equilibristas natos correm pelas travessas e com precisos movimentos braçais, de cima ugalham. Puxam com esforço redobrado essas águas frias da manhã, que lhes correm pelos pés,  engelhando-os.
Nota – Para esclarecimento de linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
 
Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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13 | 06 | 2013
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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