domingo, 30 de dezembro de 2012

«Faina Maior» apresentada em Bruxelas

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Último registo de 2012…

Teve lugar no passado dia 11 de Dezembro de 2013, na Orfeu-Livraria Portuguesa de Bruxelas, a apresentação do livro Faina Maior. A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova, da autoria de Francisco Correia Marques e de Ana Maria Lopes, publicado pela primeira vez em 1996 e reeditado em 2011 pela Associação de Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo. A apresentação esteve a cargo do Dr. Fernando José Correia Cardoso, Assessor Jurídico na Direcção-Geral «Assuntos Marítimos e Pescas» da Comissão Europeia.
 
 
A apresentação consistiu em três partes distintas, assim se tendo proporcionado um enriquecimento do âmbito desta iniciativa. Previamente, foram divulgadas algumas notícias relativas ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no quadro do Centro de Investigação e Empreendedorismo do Mar do Município de Ílhavo e do Museu Marítimo desta cidade.
 
Na primeira parte da apresentação, foram apontados os dados biográficos dos Autores, salientados alguns pontos do Prefácio e realçados, entre outros, os seguintes aspectos do conteúdo do livro: a estrutura da obra, com um historial condensado da actividade até aos anos cinquenta do século passado e com elementos muito precisos sobre as operações de pesca e respectivas condições (aparelhamento dos navios e dos espaços a bordo; verificação das condições de navegabilidade; preparativos da pesca; alimentação a bordo; condições atmosféricas; actividade das mulheres; evolução tecnológica dos navios). Trata-se, no seu conjunto, de descrições muito coloridas, eivadas de um estilo realista, com apontamentos muito humanizados e uma observação extremamente perspicaz de todos os elementos materiais e simbólicos. Além disso, pode denotar-se uma escrita relativamente «codificada», pela utilização de expressões próprias da actividade, que transportam o leitor para uma ambiência particular. Daí o grande interesse do Glossário incluído na parte final do livro.

Na segunda parte foram avançados, de forma geral, elementos relativos à caracterização do sector da pesca no contexto da economia nacional e ao lugar que, nesse enquadramento, reveste hoje esta espécie piscícola, o bacalhau, tão apreciada no nosso País, em termos de fluxos comerciais, de processamento industrial, de inovação de imagem e de consumo. E foi também mencionado que muitos outros povos consomem hoje, e em grandes quantidades, esta espécie, para depois se indicar dois grandes factores diferenciadores a nível nacional: o apuramento da técnica de secagem e a extraordinária inventiva, não igualada, da gastronomia.


 
Na terceira parte foi desenvolvida a tese das «três sagas do bacalhau»: a saga do passado, a do presente e a do futuro. Desde logo, poderá afirmar-se que todas são percorridas por um elemento comum e constante constituído pela tripla realidade «produção – transformação/comercialização – consumo». Em relação à primeira, ela fica extremamente bem documentada no livro que foi apresentado. No que diz respeito à segunda, referiram-se os aspectos ligados à complexa teia de negociações internacionais necessárias à obtenção de possibilidades de pesca, bem como as relações que, no âmbito do comércio internacional, determinam os fluxos de importação e de exportação. A terceira passará por uma afirmação crescente das mais-valias a incorporar na qualidade e imagem do produto e pela conquista de nichos de mercado exigentes, associando um produto de alta qualidade ao 'saber-fazer' português. E passará ainda por uma ligação fecunda, que já se vem a verificar, entre as instâncias de investigação científica e o mundo empresarial no sentido de descobrir caminhos de diversificação em termos de utilização do produto em diversas áreas de actividade (nomeadamente a medicina e a biotecnologia).

Depois da apresentação houve um debate que se revelou muito profícuo e esclarecedor, tendo em conta a qualidade das contribuições efectuadas. Finalmente, teve lugar um cocktail com produtos confeccionados à base de bacalhau. Além disso, esteve patente uma exposição bibliográfica. Esta exposição incluiu obras e documentação sobre as diferentes facetas da actividade que incide sobre esta espécie: os aspectos da história económica ligados à captura e à comercialização; o valor nutricional da espécie; o aproveitamento em termos gastronómicos; as iniciativas de valorização da imagem do produto (marketing e merchandising).
 
 
A obra em apreço está à venda nas lojas do Museu Marítimo de Ilhavo, do Museu de Marinha e do navio-museu Gil Eannes, em Viana do Castelo, na Casa Garraio e na Livraria Ferin, em Lisboa e em algumas livrarias de Ílhavo, Aveiro e Gafanha da Nazaré. O número de exemplares ainda disponíveis, contudo, é já muito limitado.
 
Fotos de Friedrich W. Baier


Ílhavo, 30 de Dezembro de 2012
 
AML
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domingo, 23 de dezembro de 2012

Ceia de Natal - as mulheres das secas

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Aproxima-se o Natal… a ceia… bacalhau cozido com todos como uma das nossas principais tradições gastronómicas natalícias.
 
É confrangedor que ele não possa, sobretudo este ano, mimosear as mesas de todos os portugueses.
 
E por associação a bacalhau, recordemos o trabalho árduo das mulheres, nas secas.
 
 
Uma das últimas secas tradicionais…a IAP

 
Com o andar dos tempos, com o avanço das tecnologias, com regras mais higiénicas, com as exigências da ASAE, com a competição aguerrida, viriam a acabar, mas, para amostra, nem uma, naquele seu tabuado acastanhado, trincado, nos seus extensos armazéns, na sua carpintaria consertadora dos dóris, nos tanques/lavadouros, frequentemente exteriores e rústicos, singulares e típicos carros-de-mão de roda de ferro e, sobretudo, naquela vastidão imensa do «secadouro», com as tradicionais «mesas» de arame para exposição do «fiel amigo» ao sol.

 
 
Em primeiro plano, os carros de mão…

 
Os tempos são outros, o progresso fez-se sentir, mas as mulheres das secas, sobretudo da Gafanha da Nazaré e arredores foram grandes MULHERES e merecem a honra desta singela homenagem.
 
Tive, por afinidades familiares, contactos, com as ditas mulheres, verdadeiras heroínas, pelo início dos anos sessenta, em que os trajares já eram mais aligeirados do que foram, outrora, e, porventura, as mentalidades, um tudo ou nada, mais abertas. Foi, então, que me deu para as fotografar.
 
Os clichés a preto e branco, num tempo em que «clicar» não era vulgar como agora, aprecio-os mais, porque são imagens de um passado que não volta, a que tive oportunidade de assistir ao vivo. E até de surripiar, para saborear, umas lasquinhas de bacalhau, das altas e ordenadas pilhas. Era uma técnica dura, pesada, mas perfeita, cheia de saberes e de «conhecimentos».

 

Lambreta carregada…

 
As secas do bacalhau, na Gafanha, empregavam muitas centenas de mulheres, durante parte do ano, havendo empresas onde o trabalho era permanente, porque abrangia duas campanhas, a dos lugres e a dos arrastões.
 
A escritora Maria Lamas, que andou pela nossa região na década de quarenta, recorda a maneira de viver das mulheres da Gafanha, com a sua ignorância, o seu fatalismo, mas também com a sua responsabilidade e solidariedade. Assim, acentua Maria Lamas (…), a psicologia das trabalhadoras das secas de bacalhau, desembaraçadas, faladoras e alegres, como se a vida lhes não pesasse. Em conjunto, nas horas de plena actividade, cantando em coro ou simplesmente escutando os programas de rádio, elas constituem um quadro de plena vitalidade e de optimismo. (…)
 
O trabalho da mulher, nas secas, consta de: descarregar, lavar, salgar e levar o bacalhau, todos os dias, para as “mesas” da seca, recolhendo-o à tarde; depois há ainda a tarefa de o empilhar, seleccionar e enfardar. (…) A lavagem faz-se em tanques; depois o peixe é colocado, em pilhas, a escorrer, sobre pequenos carros, que cada mulher conduz à secção onde recebe o sal. (…)

As mulheres, que se ocupavam nestes serviços, eram de todas as idades, solteiras e casadas, predominando as mais jovens. Tinham consciência plena da dureza daquela vida de labores diversificados e pesados. Se o tempo estava bom, a tarefa era-lhes facilitada.
 
 
 
Escolha e separação do peixe…
 
Um criativo designer de moda, hoje, inspirar-se-ia nos trajes das mulheres das secas para uma toilette jovial e contemporânea – saias sobre calças, caneleiras (canos) sobre o calçado e chapéu sobre o lenço…que tal? E, não raro, botas de borracha, a que hoje se chamam galochas. Um laivo de modernidade?...

 
E a tarefa prossegue…

 
Já agora, se temos receado que as crianças e pessoas menos conhecedoras do assunto pensem que o bacalhau é um peixe espalmado, tal qual o vemos nos supermercados/mercearias, com cura mais ou menos tradicional, temamos também que com a próxima abertura ao público do aquário do MMI, as crianças comecem a exigir aos pais a presença de um aquário, na cozinha, com bacalhaus pequeninos, tal Nemo, colorido e listado, com a sua história comovente.

 

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

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Ílhavo, 23 de Dezembro de 2012
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Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

«Faina Maior», apresentado na Livraria Portuguesa Orfeu, em Bruxelas


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No próximo dia 11, terça-feira, pelas 18 horas e trinta, vai ser apresentado na Livraria Portuguesa Orfeu, em Bruxelas, o livro Faina Maior, a Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova, de Francisco Marques e Ana Maria Lopes.
 
 

Ao valorizar culturalmente a 'grande faina' e ao recriar uma ligação sentimental à actividade marítima, está também a contribuir para estimular a reflexão sobre o almejado 'regresso de Portugal ao Mar', à luz de novas perspectivas. (Mário Ruivo).

O livro foi reeditado em 2011 pela Associação de Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo. Será apresentado por Fernando José Correia Cardoso.

Do site da livraria Orfeu, em Bruxelas

Ílhavo, 6 de Dezembro de 2012

AML
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um olhar sobre o sal

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Fruí desde muito jovem o sabor do salgado aveirense, pois o ambiente convidava-me e o Marintimidades de hoje já me bulia.
Pelos anos 50/60, sempre que alguém me levava à empresa, na Gafanha da Nazaré, para além dos estaleiros, dos navios e da laguna envolvente e sedutora, lá tinha aquele espectáculo deslumbrante diante da vista – de Julho a Setembro, montes de sal até onde a vista alcançava. E aprendi a vê-los, a amá-los e a com eles conviver.
E o Marintimidades de outrora, para mim, já tinha um não sei quê de salinidades.
Esta tendência, porventura, natural, genética, quem sabe, foi trabalhada na disciplina de Linguística Portuguesa I e II, sobretudo com o impulso do professor Paiva Boléo, defensor da escola «Coisas e palavras», que tinha por base o cruzamento da linguística com a etnografia. E cedo, trabalhei no terreno, depois de bibliográfica e logisticamente, bem preparada.
O chamado ILB (Inquérito Linguístico Boléo) levou-me a fazer um trabalho obrigatório para a cadeira de Linguística Portuguesa II, «in loco» na Gafanha da Nazaré, em 1964, onde residi mesmo durante 8 dias, numa casa perto dos estaleiros, cedida pelo Sr. Artur Carvalho, encarregado de Testa & Cunhas. Hoje, parece irrisório «ir assentar arraiais na Gafanha» para fazer um trabalho, mas, naquele tempo, tinha as suas razões.
Os primeiros contactos com operários dos estaleiros, com moliceiros, com mulheres das secas, com agricultores, com o pároco da época que me auxiliou, cinzelaram-me a memória, já posso dizer…, para toda a vida. E as marinhas?
Ao tempo, a minha avó era proprietária de uma marinha (adquirida em 1953), pertencente ao chamado Grupo do Mar, marinha dobrada, de configuração regular, de nome Pioneira. Entre marnotos e moços, sempre brejeiros, conheciam-na por um outro nome maroto, com o qual rimava…-eira.
Foi nosso marnoto durante muitos anos o Sr. João dos Santos Estanqueira, em parceria de metade, exemplar trabalhador, que, num fatídico dia, caiu desfalecido sobre um monte de sal que cobria com bajunça, devido a um colapso fulminante.
Nunca mais a Pioneira foi a mesma e, em remota lembrança, recordo-o, numa seriedade impressionante, quando vinha fazer contas do sal, das areias, da bajunça, das madeiras ou mimar-nos com saborosas e escorregadias enguias de viveiro.
Não tinha acesso directo por terra a Pioneira, e era preciso atravessar a Cale da Vila, de bote ou bateira e, de seguida, andarilhar, por entre veredas estreitas e sinuosas.
De uma visita à marinha em Abril de 64, enquanto os trabalhos preparatórios da nova safra começavam, colhi ainda estas imagens, que guardei sagradamente. Foi o meu primeiro olhar sobre o sal.
 
Aspecto geral

Neto do marnoto com almanjarra

Ajeitando a cobertura de um monte

Algumas alfaias, junto ao palheiro

Dois saleiros, os grandes senhores da ria
 
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E tudo se foi…in illo tempore. Agora, são outros. Escrevinhemos sobre os que passaram, enquanto alguns pomposos programas europeus os tentam projectar nos tempos futuros. Oxalá!
Fotos do arquivo da autora
Ílhavo, 3 de Dezembro de 2012
Ana Maria Lopes
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sábado, 24 de novembro de 2012

Milena - 1948 | Memórias de uma campanha


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No ano de 2010, através do Marintimidades, foram-me solicitados alguns dados sobre o lugre Milena por familiares de dois tripulantes que nele fizeram algumas viagens e que, por coincidência, ambos naufragaram com o navio (em 1958) – a saber, Joaquim António da Silva Belo, da Torreira e o avô de um tal Emílio Gomes do Novo. E assim, com singelos episódios, se vai fazendo a história dos lugres, recorrendo a pequenos /grandes «puzzles».
 
Situar o navio, convém sempre – o imponente Milena, lugre de madeira de quatro mastros, foi construído na Florida, E.U.A., em 1918. Foi o ex “Burkeland”, pertencente a J.A. Merritt & Co., Pensacola, Florida, entre 1918 e 1935. Adquirido em Génova pela Indústria Aveirense de Pesca, Lda., (IAP), de Aveiro, iniciou a actividade de pesca em 1936. Durante os anos de 1940 e 1941, o navio efectuou viagens de comércio, tendo regressado à pesca na campanha de 1942.
Acabou por naufragar, por motivo de alquebramento, no Virgin Rocks, Terra Nova, a 7 de Agosto de 1958.
 

O lugre Milena (Reimar)

 
Nele embarcaram os capitães António Augusto Marques, o Capitão Marcela (1936 até 1945), Tude Brito Namorado (1946 a 1948), João Fernandes Matias (1949 até 1951), Carlos Augusto Castro (1952 a 1955) e Joaquim Marques Bela (1956 a 1958).
 
Eis que um soberbo testemunho foi passado ao papel, num singelo mas caloroso livro, editado pelo jornal «O Ilhavense», que espero ler de uma golfada. Basta ser um relato na primeira pessoa, vivido, sentido, suportado, sofrido, experimentado e recordado. O ilhavense Armindo José Bagão da Silva, nascido em 7 de Julho de 1932, emigrado no Canadá desde 1970 até hoje, é o seu Autor.
 
Com 14 anos vai pela primeira vez ao bacalhau, em 1947, actividade que conserva até 1959, de moço de câmara, no Milena, tendo passado pelos navios Terra Nova, Estêvão Gomes, Pedro de Barcelos, Luiza Ribau, Condestável e Vila do Conde, entre os cargos de moço e de ajudante de cozinheiro.


 
Ficha do GANPB

 
Revelou-se bastante atribulada e flagelada aquela que seria mais uma viagem ao bacalhau, a campanha de 1948 do lugre Milena.
 
E entreguemo-nos à memória prodigiosa de Armindo Bagão, jovem autor de 80 anos, com apenas a 4ª classe da época.
 
Aconteceu de tudo um pouco naquela campanha de 1948, desde uma saída quase trágica da barra de Aveiro, até um temporal que atirou borda fora cinco homens, dos quais apenas quatro foram devolvidos ao convés. Uma vida perdida – o Guia, de Setúbal, como tantas… Vamos aguardar a leitura integral, com ansiedade…
 
Da mesma campanha de 48, do mesmo navio, estiveram presentes na apresentação deste livro, na nossa Junta de Freguesia, Júlio Manuel (n. em 1930), irmão do autor, ajudante de motorista, à época, e Luiz Franco Malta (n. em 1922), ajudante de cozinheiro. Também tivemos o prazer da companhia do Sr. Capitão António Morais Pascoal, com a respeitável idade de 89 anos, que foi piloto do Milena, mas nas campanhas de 1946 e 47. Já não entre nós, foi recordado o excelente contramestre Francisco Ramos (1915-2002), de quem tenho gratas recordações.

 
A bordo do Milena, em 1946 ou 47
 
A bordo do Milena, em 1946 ou 47. Quem?
 
Prefaciou o relato, o sobrinho do autor, João Bagão, e apresentou-o, emocionado, o irmão João António Bagão da Silva (n. em 1939), perante uma assistência interessada e calorosa, num ambiente simpático e salutar.
 
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Umas horas mais tarde…
 
Também com uma vida atribulada, aportei onde devia e, enquanto velava e acompanhava, lia sofregamente o registo há pouco chegado às minhas mãos. É uma pérola de um livrinho.
Embevecida, sorvi-o na clareza da sua linguagem técnico-marítima, que entendo e recordo com alguma facilidade, apesar de nunca ter embarcado.
Que prazer! Veio-me à lembrança o corre-corre das manobras apressadas da montagem da primeira Exposição Faina Maior, em que, aí era a «capitoa», bem escorada pelo grande Francisco Marques e pelos marinheiros, pescadores, contramestres, cozinheiros, ainda vivos, desta nossa terra. Vivi-a com PAIXÃO! Nunca o negarei ou não fosse neta do capitão Pisco e bisneta da arraisa Caloa.

Ecoam-me aqui aos ouvidos…umas vozes celestiais – e lá vem aquela com a Faina Maior, o que é que ela sabe?… nunca saiu a barra…Enganam-se. Olhem que saí, saí …
 
Curioso…quase 20 anos – a exposição inaugurou-se no dia 28 de Novembro 1992. Quase, quase coincidiu…Às vezes, acredito nas coincidências.
Perdoem-me alguma incorrecção – foi a pressa, que é inimiga da perfeição. Eu estava sôfrega por postar o blogue.
 
Imagens do Arquivo da Autora do blogue e ficha gentilmente cedida pelo MMI

 
Ílhavo, 24 de Novembro de 2012
Ana Maria Lopes
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domingo, 18 de novembro de 2012

Apresentação da «Terras de Antuã», na Câmara de Estarreja

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Ontem, sábado, por ocasião da comemoração do 493º aniversário da outorga do Foral à vila de Antuã, por D. Manuel, em 15 de Novembro de 1519, foi apresentado o número seis da revista Terras de Antuã – História e Memórias do Concelho de Estarreja, mais uma vez com uma assistência numerosa, no belíssimo Salão Nobre dos Paços do Concelho, numa sessão presidida pelo Presidente da Câmara Municipal de Estarreja José Eduardo de Matos.



Este VI volume é constituído por 11 artigos de vários autores, cujas temáticas vão desde a biografia de ilustres da terra, embarcações tradicionais, património cinéfilo, arqueologia, emigração, arte sacra, freguesias, papel cultural do património no contexto local e regional até à genealogia e jornalismo, entre outras.

Para nós foi gratificante participarmos com o singelo artigo sobre as embarcações tradicionais de Canelas. É sempre um prazer navegar pela laguna e é o que temos feito, retendo todos os testemunhos que nos tem sido possível recolher.

Para além do artigo do historiador José Mattoso sobre O património e o seu papel cultural no contexto local e regional, já apresentado oralmente nas II Jornadas de História e Património, em Setembro de 2011, saboreámos o artigo António Mota Godinho MadureiraUm esboço histórico, de Delfim Bismarck Ferreira, Conservador da Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, a que alguns afectos nos ligaram aquando da preparação no Museu de Ílhavo da Exposição retrospectiva JOÃO CARLOS, em Abril/Maio de 1991.

Tivemos a prazer de ainda conhecer o Senhor Dr. António Madureira, cuja grande parte da vida dedicou à colecção de obras de arte, entre as quais estão onze trabalhos do nosso JOÃO CARLOS Celestino Gomes, seu amigo particular, cuja cedência nos facultou para supracitada exposição.


 
Desta vez, a capa da Terras de Antuã homenageia o Dr. António Madureira, pelo centenário do seu nascimento, em 1912, através da reprodução de um óleo sobre tela do pintor Fernando Martinez Rubio, em 1952, exposto habitualmente na sala de estar da Casa-Museu.


Ílhavo, 18 de Novembro de 2012

Ana Maria Lopes
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domingo, 11 de novembro de 2012

Bateira erveira «prova» as águas da Ribeira de Canelas

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Depois das detalhadas notícias de ontem e hoje que o Diário de Aveiro nos dá a conhecer sobre a matéria, limitamo-nos a deixar umas impressões da nossa participação no bota-abaixo da réplica do «barco de ervagens» de Canelas.
Quem semeia, colhe, concluímos e, graças ao investimento etnográfico-linguístico feito em pesquisas, nos anos 80, em andanças pelas ribeiras e esteiros da zona, em livros publicados, com espanto, mas satisfação, fomos convidados para o saudável e simples evento, pelo Presidente da Junta de Freguesia de Canelas. E lá estivemos com muito para contar e muito para ouvir sobre a embarcação.
Depois daquelas saudáveis discussões académicas acerca da terminologia mais correcta para a classificação da embarcação, concluímos, ontem, mais uma vez, que embora muito conhecida por «bateira erveira de Canelas», entre os populares, a terminologia mais adequada e correcta seja «barco de ervagens de Canelas», mandado fazer pelos proprietários com mais posses, já extinta a mais tradicional bateira erveira da região (a fêmea), que ainda conhecemos, a flutuar, mas já afastada de uso.
Reportagem fotográfica:
 
Aí vem ele! Saída do estaleiro
 
 
Proa elegante, breada a negro, polvilhada de casca de arroz
 
 
Sinal festivo! O ramilhete da praxe de flores campestres
 
 
Arrojada manobra! Trajecto arriscado
 
 
O Zé da Fonte, sorridente, experiente, homem de outros tempos, orienta o caminho
 
 
Chegada ao Ribeiro de Canelas, novo local de residência
 
 
Depois dos discursos da praxe, bênção pelo pároco da freguesia, a embarcação prova as águas da região.
 
 
Arriscada descida!
 
 
Construtor Manuel Pires e a «sua» obra
 
 
Manuel Pires e Zé da Fonte deslocam-se à vara
 
 
As «meninas da Ria», a junior e a senior, deliciadas...
 
 
E assim se passou a tarde de sábado, entre chuviscos e sol, num convívio alegre, salutar, singelo, mas cheio de calor humano.
 
 
Fotografias da autora do blogue

Ílhavo, 11 de Novembro de 2012

Ana Maria Lopes
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terça-feira, 6 de novembro de 2012

O encalhe do lugre Neptuno Segundo

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Na senda de alguns navios e não foram poucos que encalharam à entrada da barra de Aveiro, também tive conhecimento do acidente do Neptuno II, mas porque não consegui imagem, foi ficando, foi ficando para trás, até hoje…que vem a lume.
O que se passou, então?
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Valendo-nos do jornal O Ilhavense de 20 de Outubro de 1948, ficámos a saber que o lugre Neptuno II, de regresso da pesca do bacalhau, em 16 do corrente mês, rebocado pelo vapor Neiva, ao passar na pancada do mar, bateu num baixio, partindo-se a amarra que o ligava ao rebocador.
 
Feitas manobras de emergência, o Neptuno entrou o porto impelido pela corrente de água e foi parar a uma restinga, do lado do canal que vai para S. Jacinto. Não houve acidentes pessoais.
 
Depois da descarga de algum peixe, e quando o navio começou a aliviar, as bombas acusaram água no porão.
A descarga foi sendo feita com regularidade, mas imaginou-se que o navio teria um rombo no costado, tendo-se safado na maré da tarde do dia 22, e ancorado já na Gafanha.

 
 
Embora o jornal Comércio do Porto de 17 de Outubro de 1948 (acima) noticie que o navio poderia ser salvo, sabemos que a vistoria que, entretanto, a autoridade marítima fizera ao casco, considerara o navio inavegável, o que o obrigou ao abate e desmantelamento.
 
O navio de madeira Neptuno, de três mastros, tem uma longa história para contar.
O amigo Reimar, que colabora comigo, sempre que me vejo atrapalhada nestas barafundas marítimas, enviou-me, passados uns dias de pesquisa, um histórico do navio, «de luxo».
 

Dele respiguei aqueles pontos que imagino que os meus leitores apreciem mais, embora lhe esteja extremamente grata por todos os preciosos dados que me forneceu.
O lugre Neptuno Segundo construído em Vila do Conde, pelo mestre construtor Manoel Gomes Rodrigues, em 1873, como patacho, foi baptizado com o nome Mariana 1ª, com cerimónia de bota-abaixo no dia 9 de Setembro, ficando matriculado na Capitania do Porto de Lisboa.
 
Sem se conseguir identificar o armador, o patacho Mariana 1ª devia fazer parte duma frota que incluía a barca Mariana 3ª, o patacho Mariana 4ª, a galera Mariana 5ª, a galera Mariana 6ª e a barca Mariana 7ª, daí poder concluir-se pertencer a firma de considerável dimensão ou proprietário abastado.
 
Depois de alguns saltos em listas de navios portugueses até ao ano de 1897, o patacho ainda com as mesmas características, foi transferido para a Parceria Geral de Pescarias – ano em que deve ter efectuado a primeira campanha ao bacalhau, embarcando 32 tripulantes com 29 dóris.
 
Na lista de navios de 1925, o navio manteve ainda os mesmos atributos, julgando ser fácil averiguar na documentação dos Mónica, a grande reparação e transformação do navio para lugre, que teve lugar na Gafanha da Nazaré, em 1926. Depois da reconstrução nesse ano, mudou de nome para Neptuno Segundo, alterando a mastreação e as características. Efectuou uma nova matrícula em Lisboa, durante 1927, ano em que foi avaliado em 480.000$00 escudos, passando a navegar com os seguintes detalhes principais:
 
Nº Oficial: «357-F» – Indicativo internacional: «H.N.P.S.» – Registo: Capitania do porto de Lisboa
Arqueação: Tab 243,80 toneladas – Tal 170,50 toneladas.
Dimensões: Comprimento entre perpendiculares, 36,72 metros – Boca, 7,90 metros – Pontal, 3,82 metros.
Propulsão: Continuou a navegar à vela.
Navio com três mastros com proa de beque e popa redonda.
 
Em 1934 actualizou o indicativo internacional e em 1939 foi vendido à Empresa de Pesca de Portugal de Ílhavo, pela quantia de 245.000$00 escudos. Em datas posteriores, o lugre ficou matriculado inicialmente com o nº oficial «G-395» e depois «LX-7-N», em 1944.
 
Após 1934, embarcaram nele os seguintes capitães, alguns deles muito conhecidos na «nossa terra»:
 
Adolfo Simões Paião Júnior (1934 a 1936), Augusto S. Labrincha (1937 e 1938), Manuel Lourenço Catarino (1939 e 1940), António Andrade Rainho (1941), Samuel H. Damas (1942), Mário Paulo do Bem (1943), Manuel Paulo do Bem (1944), José Silva Rocha (1945 e 1946), Luiz Capote Teiga (1947) e José Simões Negócio, 1948, ano em que encalhou.


 
Em tempo da Segunda Grande Guerra, na época dos comboios

 

Fotografia – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 6 de Novembro de 2012

Ana Maria Lopes
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