Aproxima-se o Natal… a ceia…
bacalhau cozido com todos como uma das nossas principais tradições
gastronómicas natalícias.
É confrangedor que ele não possa,
sobretudo este ano, mimosear as mesas de todos os portugueses.
E por associação a bacalhau,
recordemos o trabalho árduo das mulheres, nas secas.
Uma das últimas secas
tradicionais…a IAP
Com o andar dos tempos, com o
avanço das tecnologias, com regras mais higiénicas, com as exigências da ASAE,
com a competição aguerrida, viriam a acabar, mas, para amostra, nem uma, naquele seu tabuado
acastanhado, trincado, nos seus extensos armazéns, na sua carpintaria
consertadora dos dóris, nos
tanques/lavadouros, frequentemente exteriores e rústicos, singulares e típicos
carros-de-mão de roda de ferro e, sobretudo, naquela vastidão imensa do
«secadouro», com as tradicionais «mesas» de arame para exposição do «fiel
amigo» ao sol.
Em primeiro plano, os
carros de mão…
Os tempos são outros, o progresso
fez-se sentir, mas as mulheres das secas, sobretudo da Gafanha da Nazaré e
arredores foram grandes MULHERES e merecem a honra desta singela
homenagem.
Tive, por afinidades familiares,
contactos, com as ditas mulheres, verdadeiras heroínas, pelo início dos anos
sessenta, em que os trajares já eram mais aligeirados do que foram, outrora, e,
porventura, as mentalidades, um tudo ou nada, mais abertas. Foi, então, que me
deu para as fotografar.
Os clichés a preto e branco, num tempo em que «clicar» não era vulgar
como agora, aprecio-os mais, porque são imagens de um passado que não volta, a
que tive oportunidade de assistir ao vivo. E até de surripiar, para saborear,
umas lasquinhas de bacalhau, das
altas e ordenadas pilhas. Era uma
técnica dura, pesada, mas perfeita, cheia de saberes e de «conhecimentos».
Lambreta carregada…
As secas
do bacalhau, na Gafanha, empregavam muitas centenas de mulheres, durante parte
do ano, havendo empresas onde o trabalho era permanente, porque abrangia duas
campanhas, a dos lugres e a dos arrastões.
A
escritora Maria Lamas, que andou
pela nossa região na década de quarenta, recorda a maneira de viver das
mulheres da Gafanha, com a sua ignorância, o seu fatalismo, mas também com a
sua responsabilidade e solidariedade. Assim, acentua Maria Lamas (…), a psicologia das trabalhadoras das secas de
bacalhau, desembaraçadas, faladoras e alegres, como se a vida lhes não pesasse.
Em conjunto, nas horas de plena
actividade, cantando em coro ou simplesmente escutando os programas de rádio,
elas constituem um quadro de plena vitalidade e de optimismo.
(…)
O trabalho da mulher, nas secas, consta de:
descarregar, lavar, salgar e levar o bacalhau, todos os dias, para as “mesas”
da seca, recolhendo-o à tarde; depois há ainda a tarefa de o empilhar,
seleccionar e enfardar. (…) A lavagem faz-se em tanques; depois o peixe é
colocado, em pilhas, a escorrer, sobre pequenos carros, que cada mulher conduz
à secção onde recebe o sal. (…)
As
mulheres, que se ocupavam nestes serviços, eram de todas as idades, solteiras e
casadas, predominando as mais jovens. Tinham consciência plena da dureza
daquela vida de labores diversificados e pesados. Se o tempo estava bom, a
tarefa era-lhes facilitada.
Escolha e separação
do peixe…
Um
criativo designer de moda, hoje,
inspirar-se-ia nos trajes das mulheres das secas para uma toilette jovial e contemporânea – saias sobre calças, caneleiras
(canos) sobre o calçado e chapéu sobre o lenço…que tal? E, não raro, botas de
borracha, a que hoje se chamam galochas. Um laivo de modernidade?...
E a tarefa prossegue…
Já agora, se temos receado que as
crianças e pessoas menos conhecedoras do assunto pensem que o bacalhau é um
peixe espalmado, tal qual o vemos nos supermercados/mercearias, com cura mais
ou menos tradicional, temamos também que com a próxima abertura ao público do
aquário do MMI, as crianças comecem a exigir aos pais a presença de um aquário,
na cozinha, com bacalhaus pequeninos, tal Nemo,
colorido e listado, com a sua história comovente.
Fotografias
– Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 23 de Dezembro de 2012
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Ana Maria Lopes
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Belas fotos. São uma reliquia.
ResponderEliminarObrigada.
Bons tempos, que recordo com saudade, aí pelos anos 60, passados na seca de Lavadores.
ResponderEliminarA encarregada dava pelo nome de Blandina e era natural de Fafe. Deixava-me andar com a bicicleta que ela usava para ir de casa para a seca e eu abusava da oferta e ia até à Costa Nova ou à Barra.
Quando chegava levava um raspanete e a promessa de não me emprestar mais a bicicleta.
Bom Ano de 2013, com os meus respeitosos cumprimentos.
Martins
Obrigada, caro Amigo. Bom Ano de 2013 para si também, o melhor possível, sobretudo com SAÚDE e PAZ. Cumprimentos AML
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