domingo, 26 de setembro de 2010

Encontro de Embarcações Tradicionais do Norte, em Viana do Castelo - 2


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Deixemos, por agora, um pouco, os pormenores técnicos e as hipóteses muito prováveis de influências nórdicas e dêmos uma ideia das emoções por que passámos, ao improvisar um passeio no rio, até à foz.

Convinha testar o barco, mesmo em condições adversas e algo diferentes do seu «modus faciendi» – dizia o João Paulo.

Brincalhona e destemida, a Ivone Magalhães, Directora do Museu de Esposende, prontificou-se a embarcar.

Olha, Maria vai com as mais e eu também fui – pensei, confiante na agilidade, saber e perícia do João Paulo Baptista, do Sr. Albino (Bino) Gomes, homem treinado e apaixonado por estas causas, que foi pescador de dóri, no Lousado e do Eng. João Barbas, conceituado velejador dos galeões do sal, recuperados, de Setúbal.


Não havia nada a temer. Éramos oito homens e três mulheres a bordo. Só esta curta mas emocionante viagem me permitiu captar algumas das imagens que utilizo.
Em direcção à foz, como o vento nos era adverso, fomos rebocados pela lancha poveira «Fé em Deus» e só isso já era um privilégio.



Até aí, tudo bem. Nela também embarcou o Dr. Manuel Gardete, médico, fotógrafo amador, mas conceituado, de Setúbal, para eternizar a viagem.

À saída da barra, os entendidos acharam por bem içar a vela, mas o vento que não era tanto de popa, como se pensava, não deixou brilhar o funcionamento da nossa vela de pendão.

Ventos de noroeste, ventos de refrega, ventos de través, naquela zona, atrapalhavam a manobra. E íamos sendo, aos poucos, arrastados, em direcção ao cais sul, cheio de pedra!



Encalhe à vista…

Decisão rápida – arria-se a vela. E tocar de lançar mão às duas varas, para impedir o encalhe, com alguns danos previsíveis.

Mas, calma! A situação era controlável! Não era bem a viagem trágico-marítima!
Nem seria preciso, tão-pouco, prometer um ex-voto à Senhora da Agonia!

Eis que a catraia de Esposende, a «Santa Maria dos Anjos», nos ultrapassou, velejando toda catita e despachada.
Socorro!!!!!!!!! – pedimos.


Solícita, aproximou-se. Lançado o cabo, o reboque actuou rapidamente.

Entretanto, passámos pelo Santa Maria Manuela, um ícone, também, para a cidade!




Rebocados mais para junto da margem da cidade, aí, toca de içar, de novo, a vela, para exibição perto do Gil Eannes, de 1955, outra grande referência para os Estaleiros de Viana e para a Faina Maior.


Vista de Santa Luzia, do rio



Folga a escota! – só escotas eram quatro, duas do pano e duas da verga e podem chegar a ser seis! Não é fácil!
Caça o pano! Atenção ao leme! – era o que mais ouvia.
E lá íamos singrando, calmamente, à medida que nos fotografavam das margens.

Vikings à vista…


O cais flutuante já se avistava e aportámos com atracação de mestre.

Estava ensaiado o Lanhezes, mesmo em situação adversa. Aprovado!

Verdadeiro Encontro de Embarcações Tradicionais, vivido e ao vivo!

Ílhavo, 26 de Setembro de 2010

Fotografias da autora do blog e gentil cedência de Manuel Gardete

Ana Maria Lopes

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Encontro de Embarcações Tradicionais do Norte, em Viana do Castelo - 1

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O 2º Encontro de Embarcações Tradicionais do Rio Lima, em Viana do Castelo, foi muito agradável. Convidada muito em cima da hora, imediatamente aceitei, pois o assunto fascinava-me.

E, embora nunca me tivesse detido com muito pormenor sobre embarcações de rio (cultura marítimo-fluvial), a apresentação pública da réplica navegante do Barco do Lima, o Lanhezes, seduzia-me.

Dois dias setembrinos quentes e calmos, o rio majestoso, as trocas de experiências e saberes e o convívio, muito produtivos. Hospitalidade espontânea e amável.

Outra visita com o grupo do Encontro ao Santa Maria Manuela, que muito diz a Viana e lá acostara durante dois dias, não podia faltar. Foi um autêntico e animado festival de cultura marítima, à vela.

Porque o tempo não é muito, vou mesmo deter-me, um pouco, no barco do rio Lima, o Lanhezes, patrocinado pela Junta de Freguesia com o mesmo nome.

Réplica navegante, destinada a passeios e travessias no rio, foi construída com muito saber e respeito histórico pelo Sr. Canijas, Caninhas, de alcunha, assim era tratado.

Embarcação com o construtor dentro


Características completamente opostas à construção em tabuado liso (skeleton first) da ria de Aveiro, usava o tabuado trincado (shell first), característico das construções vikings.
Consultar, para saber mais, aqui.

O leme com formas arredondadas e muito baixo, a imponente vela de pendão (tipo rabelo), com várias escotas de difícil manejo, a proa abicada, estreito painel de popa, varas, intrigavam-me.

Pormenor interior do tabuado trincado, liames e paneiros

Pormenor do leme

Pormenor das cadilhas das escotas, desmontáveis

Pormenor da troça e polés

Majestosa vela de pendão, suspensa da verga


O barco de Água-arriba ou Riba-acima do rio Lima era uma embarcação de cerca de 13,50 metros de comprimento, 2 m de boca e 0, 80 m de pontal, usado desde Viana até Ponte da Barca, no tráfego fluvial.
Os maiores chegaram a medir 22 metros de comprimento.
Transportavam toda a espécie de mercadoria, faziam a travessia do rio e transportavam pessoas para as romarias e mercancias para feirar.

À noite, no Auditório do Museu de Arte e Arqueologia, assistimos ao comovente filme de homenagem Água Arriba, a propósito dos barcos e dos barqueiros do Lima, bem elucidativo e esclarecedor da vida no rio.


O progresso condenou estes barcos ao desaparecimento, mas era preciso revivê-los e a Junta de Freguesia de Lanhezes assim o fez. Boas navegações!

(Cont.)

Ílhavo, 20 de Setembro de 2010

Fotografias da autora do blog

Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Nos Mares da Terra Nova - A Saga dos Bacalhoeiros


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Na Costa Nova, em Agosto, tive conhecimento da existência do livro Nos Mares da Terra Nova – A Saga dos Bacalhoeiros, de Anselmo Vieira, editado em Junho de 2010 (muito recentemente), pela Editorial Presença. Adquiri-o. Consegui o último exemplar na Bertrand. Ainda não o conhecia? Até parece impossível!



Na contracapa, pode ler-se:

Este livro reconstitui sob a forma de romance a última viagem bem sucedida do bacalhoeiro Júlia IV, que o autor acompanhou pessoalmente, em 1948. Naqueles anos, a frota portuguesa era a única que ainda comparecia nos mares do Árctico com veleiros quase medievais, entre as frotas mecanizadas de espanhóis, franceses e russos. Narrada como um diário de bordo, em grande parte acompanhando a perspectiva de Telmo, um alter-ego do autor, a obra caracteriza magnificamente estes homens rudes e ingénuos, inconscientes da sua grandeza, recriando a sua linguagem, o seu quotidiano, a camaradagem bem-humorada e os conflitos, sempre solidários nas horas de perigo. De certa forma uma celebração à virilidade e espírito de aventura, esta narrativa tinge-se de poesia e emoção que nos arrebatam e comovem. Nos Mares da Terra Nova é também um documento de inestimável valor histórico.

Devorei-o, mas mais, li-o, reli-o, meditei-o, sublinhei-o. As agruras, todos os perigos da Faina Maior, em que muitos dos «nossos homens de Ílhavo» foram actores, desfilavam-me incessantemente pela mente, bailavam-me no imaginário, criado pelos genes…imagino… e fruto do conto e reconto de muitos…muitos dos seus heróis.


A narrativa não é romanceada e muito menos ficcionada; retrata fiel e dramaticamente o que era a vida de um bacalhoeiro: (…) cada dia uma chaga de cansaço, o frio, os remos, a saudade, o gosto de sal, um montão de aborrecimentos e, às vezes, de pesca, nem vê-la! Raio de vida, a do bacalhoeiro! – dando especial relevância à parte humana de cada marinheiro.
O tema absorvia-me. A narrativa forte, dramática e bela prendeu-me, tanto mais quando se conheceram pessoas e locais lá retratados.

Ílhavo – Telmo pensava que talvez repetisse a aventura dos lugres bacalhoeiros, porque o fascinava a navegação de vela. Mas não tencionava fixar-se toda a vida naquela actividade da pesca longínqua como os oficiais de tradição de Ílhavo.

Costa NovaSem ser propriamente um lugarejo aquático, Ílhavo, fica situada a cerca de cinco quilómetros da praia da Costa Nova; dá para respirar a brisa marítima sem se molharem os pés, a não ser na estação de veraneio.

O Capitão Vitorino Parracho (1906 – 1991), de que bem me lembro, no seu rosto cheiinho, luzidio e arredondado, olhos muito azuis/esverdeados, sabedor e bondoso, era o capitão da viagem em causa (ano de 1948), no lugre Júlia IV.
Achei por bem consultar a sua ficha de inscrição no Grémio, existente no MMI, para me situar e aí, cheguei à conclusão que o seu verdadeiro nome era João Fernandes Parracho. Complicado, hein? Ílhavo tem coisas destas. Victorino vinha da madrinha Victorina…E descobrir? Não há dúvida, era ele.

Ficha do Grémio


O lugre, o Júlia IV, que comandava, construído por António Bolais Mónica na Figueira da Foz, em 1914, para a «Atlântica Companhia Portuguesa de Pesca», participou na campanha de 1915.
Naufragou, por incêndio, no Virgin Rocks, na campanha seguinte, a de 1949.

O Júlia IV


Doutros lugres que me foram familiares, o Autor fala – o Ana Maria do Capitão Joaquim Agonia, o Ana I do Capitão João Grilo, o Creoula do Capitão Francisco Paião, o José Alberto do Capitão José Vaz, o São Ruy do Capitão Aquiles Bilelo, o D. Dinis do Capitão Ferreira da Silva, o Milena do Capitão Tude Namorado, o Cruz de Malta do Capitão Ponche, o Lousado do Capitão Carlos de Castro, o Maria das Flores do Capitão Manuel Teles, o Maria Frederico do Capitão Vidal, o Paços de Brandão do Capitão João C. Pereira e outros…Faziam parte da mesma saga e viviam sobre as mesmas águas e sob o mesmo céu.
O Gaspar do Capitão João Firmeza, esse, lá ficará; naufraga, nesse ano, com água aberta.


Mais uma vez encaixa bem, de facto, aqui, a célebre frase de Anacarsis, filósofo grego do séc.VII a. C., que o próprio Autor também cita «Há três espécies de seres: os vivos, os mortos e os marinheiros».

Comprem o livro, leiam-no e divulguem-no, pois vale a pena!
Prometo que dentro em breve estará disponível, para venda, na loja do Museu.

Fotografia do Júlia IV de Arquivo.
Ficha do Grémio gentilmente cedida pelo MMI.

Ílhavo, 17 de Setembro de 2010

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Congresso European Maritime Heritage, no Seixal

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SOMOS CAPAZES DE TRANSMITIR O PATRIMÓNIO MARÍTIMO ÀS GERAÇÕES FUTURAS?

A Câmara Municipal do Seixal, através do Ecomuseu Municipal, organiza o 7º Congresso da Associação European Maritime Heritage (EMH), nos dias 23 e 24 de Setembro de 2010, no Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal.

Através da sua organização, o Ecomuseu Municipal visa promover a troca de experiências e o desenvolvimento da cooperação entre museus marítimos e outras entidades envolvidas no conhecimento, na salvaguarda e na valorização do património marítimo, prestando particular atenção à necessidade de encontrar formas de estimular o interesse dos jovens pelo património, fazendo com que os mesmos participem activamente na definição dos programas de natureza patrimonial.

5 ª Feira, dia 23 de Setembro

9h – Recepção aos participantes e entrega de documentação
10h – Sessão de abertura
- Jorge Raposo (Director do EMS), Capitania do Porto de Lisboa, Instituto dos Museus e da Conservação, Per Jessing (Presidente do European Maritime Heritage (EMH), Alfredo Monteiro (Presidente da Câmara Municipal do Seixal).
10.40h – Pausa para café


Sessão 1. Colocando questões sobre património marítimo

Moderador: Jorge Raposo (EMS)
11h – Per Jessing, European Maritime Heritage
11.20h – Elisabete Curtinhal, Ecomuseu Municipal do Seixal
11.40h – Alan Edenborough, International Congress of Maritime Museums (ICMM)
12.h – Debate
12.30h – Almoço volante no Núcleo da Mundet

Sessão 2. Dimensão e economia da frota patrimonial

Moderador: Michael vom Baur (EMH)
14.00h – Per-Inge Lindqvist, European Maritime Heritage
14.20h – João Barbas, Associação Portuguesa de Património Marítimo (APPM)
14.40h – Tom Bade, Geógrafo ambiental
15h – Jorne Langelaan, Projecto Tres Hombres
15.20h – Debate
15.50h – Pausa para café

Sessão 3. Classificação de património marítimo

Moderadora: Graça Filipe (IMC)
16.10h – João Martins Claro, Jurista
16.30h – Georges Prud’homme, Fondation du Patrimoine Maritime et Fluvial
16.50h – Olga López, Museu Marítimo de Barcelona
17.10h – Fernando Carvalho Rodrigues, Associação dos Proprietários e Arrais das Embarcações Típicas do Tejo (APAETT)
17.30h – Lourens Touwen, Proprietário de embarcação tradicional
17.50h – Debate

6 ª Feira, dia 24 de Setembro

Sessão 4. Os jovens e o património marítimo

Moderadora: Carla Costa (EMS)
09.30h – Monique Touwen, Sail Training International
09.50h – Carlos Costa, Escola de Actividades Náuticas de Cascais
10.10h – João Martins, EMS
10.30h – Pausa para café
10.50h – Xabier Agote, Projecto Dorna
11.10h – Vladimir Martous, Projecto Shtandart
11.30h – Debate
12h – Almoço volante no Instituto Hidrográfico, na Azinheira

Sessão 5. Património imaterial marítimo

Moderadora: Cláudia Freire (Rede Portuguesa de Museus)
14.30h – Carla Queirós, Departamento de Património Imaterial do IMC
14.50h – Dragana Lucija Ratkovic, Associação dos Museus Marítimos do Mediterrâneo (AMMM)
15.10h – Projecto Europa Nostra
15.30h – Pablo Carrera, Museo do Mar de Galicia e Federação Galega pela Cultura Marítima e Fluvial
15.50h – Debate
16.20h – Pausa para café

Sessão 6. Encerramento

Moderadores: Per Jessing e Elisabete Curtinhal
16.40h – Apresentação das recomendações resultantes do congresso
17h – Encerramento



17.30h – Passeio a bordo de uma embarcação do EMS com destino a Cacilhas. Jantar a bordo da fragata D. Fernando II e Glória



Este mês de Setembro está a ser fértil em Regatas, Encontros e em Congressos sobre Embarcações Tradicionais.
No próximo fim-de-semana, terá lugar em Viana do Castelo o 2º Encontro de Embarcações Tradicionais do Rio Lima (ler mais aqui). Lá contaremos estar para contar como foi, bem como no Seixal.


Coincidência das coincidências! O Santa Maria Manuela, no seu regresso do norte da Europa, vai também aportar a Viana do Castelo, praça a que pertenceu, de 17 a 19 próximos.

Imagens de arquivo.

Ílhavo, 13 de Setembro de 2010

Ana Maria Lopes

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A ida à romaria do S. Paio... em 2010


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Esta ida à romaria do S. Paio…ficou-me gravada a cinzel, na memória.


A oferta, ontem, dia 5 de Setembro, era variada em acontecimentos: Encontro Nacional de Optimists (infantis), na Costa Nova, a Festa do Senhor Jesus dos Navegantes, em Ílhavo e a Regata do S. Paio da Torreira, com viagem garantida, a bordo de «O Inobador», o moliceiro da PT. Esta terceira opção era irrecusável!


Tinha direito a alvorada!!!!!! Tripulação (Pedro Paião, Miguel Matias e Toninho Martins Pereira) e passageiros (dois amigos do Miguel Matias, a Etelvina, o meu filho Miguel e eu) presentes no pontão do CVCN, perto das nove, com saída às 9 h e meia.


A ida estava prevista a motor fora de borda, para demorar menos, já que a maré também subia e para evitar madrugada. O dia prometia longo e cansativo, mas muito aliciante…
Arranjei um assento improvisado em cima das velas que repousavam sobre as tostes, em descanso.

Com a Ria completamente espelhada, a paisagem, sempre atraente, ia ficando para trás: a Costa Nova, a Ilha Branca, as gaivotas esgravatando as coroas, o arrastão Santo André, o Jardim Oudinot renovado, o Farol, o Forte desmazelado, a saída da Barra (definida pelo Triângulo), São Jacinto. Os estaleiros desactivados e degradados, para quem já lá conheceu eventos brilhantes e dignos de registo, chocam.


Mas, daí para diante, a marginal entre São Jacinto e Ovar, verdejante, é sempre deliciosa: pescadores de recreio viciados, entretidos, a Casa-Abrigo de São Jacinto, onde se faziam tantos piqueniques, trapiches toscos e palafíticos serviam de cais a pequenas lanchas de recreio, a Pousada da Ria convidativa, o pseudo-estaleiro do Monte Branco…, já na Torreira.

A nossa Ria, única, ainda vai sendo, a certas horas e em certos momentos, a ria de Raul Brandão…Que largueza, que liberdade, que beleza!!!

Uma ligeira névoa semi-cerrada envolvia o horizonte. Céu de um cerúleo azulado, polvilhado de nuvens rarefactas; a linha do horizonte contínua e certa, bem delineada sobre a superfície lagunar espelhada e brilhante, reflectindo o sol que, envergonhadamente espreitava por entre nuvens.

Íamo-nos aproximando do nosso primeiro objectivo – a presença do moliceiro no Concurso de painéis, na esperança de uma boa classificação!
Na Torreira, é mesmo um desfile à vara, diante da multidão de fotógrafos e de um júri formado por elementos escolhidos pela CMM. Com direito a um prémio de presença de 100 euros e a um dos 5 prémios de 185 a 60 euros, o que importava mesmo era participar.


Orgulhoso, o Zé Rito desfilava…


O tempo que mediou entre o desfile e a regata foi bem aproveitado com uma ida até ao mar pela avenida principal ladeada de tendas recheadas de produtos variados, usuais nas actuais romarias, mais feiras do que outra coisa, com muita publicidade e preços tentadores, para superar a crise. Mas a clientela era pouca!

Não podia faltar, no regresso, uma visita ao S. Paio, na igreja, não fosse o «menino santificado» sentir-se desconsiderado versus a Senhora da Saúde!

E toca de arranjar um bom lugar, à sombra, frente à ria, para garantir uma favorável observação do espectáculo colorido e movimentado que é a Regata de moliceiros.
A afluência de barcos é que vai diminuindo, o que é uma pena. Moliceiros vernáculos só nove, quatro ou cinco meios barcos, como lhes chamam, e outras embarcações animavam a ria.

Suave brisa não ia prometer uma competição aguerrida! Mas há sempre o empenho e a luta pelos melhores lugares – prémio de presença de 200 euros e um dos cinco prémios de 180 a 65 euros, pela classificação!


Preparativos, ensaios e afinações…


Foi dado o sinal de partida com um estrondoso foguete que até me fez estremecer e acordar da sonolência que me tomava.

Autênticos cisnes brancos…após o sinal da partida


No cais, a multidão assistia, procurando a sombra das palmeiras marginais, que o sol estorricava.

Finda a regata, os barcos regressavam e nós voltávamos ao nosso meio de transporte aquático, com promessa de viagem à vela...pelas 5 e meia de uma tarde setembrina, morna.


Após a regata…


Que desejo de saborear os prazeres da vela, em moliceiro!


«O Inobador» esperava-nos


Ligado o motor para as manobras de largada, depressa foi retirado e, então, o silêncio da ria depois do ruído da festa! Que enlevo, que doçura, que calma interior! Já não é fácil ouvir só a ria e o chap-chap da ondulação contra o costado da embarcação.
E tivemos esse privilégio!

E ainda mais! A tripulação deu-me o prazer de fazer o gostinho ao dedo e ao pé, e timonar «O Inobador» por um bocado, rumo ao arco maior da ponte, de regresso à Costa Nova.

Dispensa legenda…


Chegámos cansados, mas felizes, suados, salgados, mas satisfeitos.
E hoje, sinto-me na ressaca! Quem me manda a mim meter em aventuras…já menos próprias para uma senhora menos jovem (aceitem o eufemismo)?

Valeu a pena! Há que aproveitar a ria e o convívio!
O nosso sincero agradecimento ao Pedro Paião e ao Miguel Matias.

Fotografias – Paulo Miguel Godinho

Costa Nova, 6 de Setembro de 2010

Ana Maria Lopes

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Creoula - 1973, através da objectiva de António São Marcos - 3



O Creoula saiu de Lisboa para mais uma viagem de treino de mar a 31 de Agosto último, desta vez, rumo a Ceuta.
Na sua actual missão, leva a bordo um grupo de jovens de ambos os sexos à descoberta do mar e do prazer que proporciona uma viagem neste veleiro.

Entretanto, saboreemos, virtualmente, a agrura de vida do mesmo, na última viagem à pesca do bacalhau, em 1973, em diversas situações acrobáticas de manobras de pano.


Manobras de pano, a bordo…

Acautelando o pano de proa.

Para içar a estênsula, alguns homens subiam a enxárcia para melhor fazerem força e não se molharem.

No pesqueiro, o pano era amarrado a «ficar», suspenso da carangueja.


Com vento fresco da popa, largava-se o pano redondo.

Em primeiro plano, à esquerda, o grande cadernal da escota. Pequenas reparações no pano faziam-se a bordo.


Na reparação do pano, uns trabalham e outros aprendem.


(Cont.)

Fotografias – Gentil cedência do Comandante António São Marcos

Costa Nova, 3 de Setembro de 2010

Ana Maria Lopes