Deixemos, por agora, um pouco, os pormenores técnicos e as hipóteses muito prováveis de influências nórdicas e dêmos uma ideia das emoções por que passámos, ao improvisar um passeio no rio, até à foz.
Convinha testar o barco, mesmo em condições adversas e algo diferentes do seu «modus faciendi» – dizia o João Paulo.
Brincalhona e destemida, a Ivone Magalhães, Directora do Museu de Esposende, prontificou-se a embarcar.
Olha, Maria vai com as mais e eu também fui – pensei, confiante na agilidade, saber e perícia do João Paulo Baptista, do Sr. Albino (Bino) Gomes, homem treinado e apaixonado por estas causas, que foi pescador de dóri, no Lousado e do Eng. João Barbas, conceituado velejador dos galeões do sal, recuperados, de Setúbal.
Não havia nada a temer. Éramos oito homens e três mulheres a bordo. Só esta curta mas emocionante viagem me permitiu captar algumas das imagens que utilizo.
Em direcção à foz, como o vento nos era adverso, fomos rebocados pela lancha poveira «Fé em Deus» e só isso já era um privilégio.
Até aí, tudo bem. Nela também embarcou o Dr. Manuel Gardete, médico, fotógrafo amador, mas conceituado, de Setúbal, para eternizar a viagem.
À saída da barra, os entendidos acharam por bem içar a vela, mas o vento que não era tanto de popa, como se pensava, não deixou brilhar o funcionamento da nossa vela de pendão.
Ventos de noroeste, ventos de refrega, ventos de través, naquela zona, atrapalhavam a manobra. E íamos sendo, aos poucos, arrastados, em direcção ao cais sul, cheio de pedra!
Mas, calma! A situação era controlável! Não era bem a viagem trágico-marítima!
Nem seria preciso, tão-pouco, prometer um ex-voto à Senhora da Agonia!
Eis que a catraia de Esposende, a «Santa Maria dos Anjos», nos ultrapassou, velejando toda catita e despachada.
Socorro!!!!!!!!! – pedimos.
Solícita, aproximou-se. Lançado o cabo, o reboque actuou rapidamente.
Entretanto, passámos pelo Santa Maria Manuela, um ícone, também, para a cidade!
Rebocados mais para junto da margem da cidade, aí, toca de içar, de novo, a vela, para exibição perto do Gil Eannes, de 1955, outra grande referência para os Estaleiros de Viana e para a Faina Maior.
Folga a escota! – só escotas eram quatro, duas do pano e duas da verga e podem chegar a ser seis! Não é fácil!
Caça o pano! Atenção ao leme! – era o que mais ouvia.
E lá íamos singrando, calmamente, à medida que nos fotografavam das margens.
O cais flutuante já se avistava e aportámos com atracação de mestre.
Estava ensaiado o Lanhezes, mesmo em situação adversa. Aprovado!
Verdadeiro Encontro de Embarcações Tradicionais, vivido e ao vivo!
Ílhavo, 26 de Setembro de 2010
Fotografias da autora do blog e gentil cedência de Manuel Gardete
Ana Maria Lopes