Esta ida à romaria do S. Paio…ficou-me gravada a cinzel, na memória.
Arranjei um assento improvisado em cima das velas que repousavam sobre as tostes, em descanso.
Com a Ria completamente espelhada, a paisagem, sempre atraente, ia ficando para trás: a Costa Nova, a Ilha Branca, as gaivotas esgravatando as coroas, o arrastão Santo André, o Jardim Oudinot renovado, o Farol, o Forte desmazelado, a saída da Barra (definida pelo Triângulo), São Jacinto. Os estaleiros desactivados e degradados, para quem já lá conheceu eventos brilhantes e dignos de registo, chocam.
A nossa Ria, única, ainda vai sendo, a certas horas e em certos momentos, a ria de Raul Brandão…Que largueza, que liberdade, que beleza!!!
Uma ligeira névoa semi-cerrada envolvia o horizonte. Céu de um cerúleo azulado, polvilhado de nuvens rarefactas; a linha do horizonte contínua e certa, bem delineada sobre a superfície lagunar espelhada e brilhante, reflectindo o sol que, envergonhadamente espreitava por entre nuvens.
Íamo-nos aproximando do nosso primeiro objectivo – a presença do moliceiro no Concurso de painéis, na esperança de uma boa classificação!
Na Torreira, é mesmo um desfile à vara, diante da multidão de fotógrafos e de um júri formado por elementos escolhidos pela CMM. Com direito a um prémio de presença de 100 euros e a um dos 5 prémios de 185 a 60 euros, o que importava mesmo era participar.
O tempo que mediou entre o desfile e a regata foi bem aproveitado com uma ida até ao mar pela avenida principal ladeada de tendas recheadas de produtos variados, usuais nas actuais romarias, mais feiras do que outra coisa, com muita publicidade e preços tentadores, para superar a crise. Mas a clientela era pouca!
Não podia faltar, no regresso, uma visita ao S. Paio, na igreja, não fosse o «menino santificado» sentir-se desconsiderado versus a Senhora da Saúde!
E toca de arranjar um bom lugar, à sombra, frente à ria, para garantir uma favorável observação do espectáculo colorido e movimentado que é a Regata de moliceiros.
A afluência de barcos é que vai diminuindo, o que é uma pena. Moliceiros vernáculos só nove, quatro ou cinco meios barcos, como lhes chamam, e outras embarcações animavam a ria.
Suave brisa não ia prometer uma competição aguerrida! Mas há sempre o empenho e a luta pelos melhores lugares – prémio de presença de 200 euros e um dos cinco prémios de 180 a 65 euros, pela classificação!
Preparativos, ensaios e afinações…
Foi dado o sinal de partida com um estrondoso foguete que até me fez estremecer e acordar da sonolência que me tomava.
No cais, a multidão assistia, procurando a sombra das palmeiras marginais, que o sol estorricava.
Finda a regata, os barcos regressavam e nós voltávamos ao nosso meio de transporte aquático, com promessa de viagem à vela...pelas 5 e meia de uma tarde setembrina, morna.
Após a regata…
Que desejo de saborear os prazeres da vela, em moliceiro!
«O Inobador» esperava-nos
Ligado o motor para as manobras de largada, depressa foi retirado e, então, o silêncio da ria depois do ruído da festa! Que enlevo, que doçura, que calma interior! Já não é fácil ouvir só a ria e o chap-chap da ondulação contra o costado da embarcação.
E tivemos esse privilégio!
E ainda mais! A tripulação deu-me o prazer de fazer o gostinho ao dedo e ao pé, e timonar «O Inobador» por um bocado, rumo ao arco maior da ponte, de regresso à Costa Nova.
Dispensa legenda…
Chegámos cansados, mas felizes, suados, salgados, mas satisfeitos.
E hoje, sinto-me na ressaca! Quem me manda a mim meter em aventuras…já menos próprias para uma senhora menos jovem (aceitem o eufemismo)?
Valeu a pena! Há que aproveitar a ria e o convívio!
O nosso sincero agradecimento ao Pedro Paião e ao Miguel Matias.
Fotografias – Paulo Miguel Godinho
Costa Nova, 6 de Setembro de 2010
Ana Maria Lopes
Realmente irrecusável, imperdível, inesquecível, memorável e tantos outros adjectivos que poderíamos utilizar... proporcional ao número e qualidade das imagens obtidas.
ResponderEliminarDescrição maravilhosa de um passeio espectacular e original, de forma a fazer inveja. Ilustração fantástica, onde dá até vontade de dizer: ..." quem é a matola que vai ao leme?"...
ResponderEliminarAinda bem que vale sempre a pena aproveitar a rio e o convívio. E também os navios e o mar...
ResponderEliminarTenho que ver se assisto e navego numa dessas maravilhas! Obrigado pela partilha!
ResponderEliminarCaro Miguel Matias:
ResponderEliminarUma vez que partilhou no Facebook, já agora, permita-me divulgar a sua opinião.
«Olá Srª Drª
Muito obrigado por nos ter acompanhado nesta viagem até ao S. Paio; foi um enorme prazer termos contado com a sua companhia e também do filho Miguel.
Como já nos habituou a quem procura sempre algo de novo e diferente no seu blog, o trabalho está excelente e tomei a liberdade de o partilhar no facebook.
Pela minha parte, encontro-me ao inteiro dispor para outras passeatas pela nossa ria.
Como sei que é uma perfeccionista, o nome do barco é " O Inobador".
Cumprimentos.
Miguel»
Obrigada pela correcção de «O Inobador». Até sabia, mas passou. Obrigada.
Drª Ana Maria,
ResponderEliminarSimplesmente magnífica a descrição pormenorizada que fez da viagem - que faz recordar a quem participou, e aguça a imaginação de quem lê...
ADOREI a viagem e a companhia de todos, e agradeço os ensinamentos que recebi.
Desfrutei de um passeio à vela numa das embarcações tradicionais mais bonitas da nossa ria, onde pude saborear um pouco da beleza lagunar e sentir-me parte da paisagem.
Um muito obrigada à equipa do "O Inobador".
Cumprimentos,
Etelvina Almeida
Um passeio desta natureza é irresistível!
ResponderEliminarSaborear as belezas da ria, apanhar a brisa no rosto, mesmo com surriada, é agradável e reconfortante.
A concentração da "timoneira" é irrepreensível, não vá errar o arco da ponte...
Obrigado pela excelente narrativa e pelas belas imagens!
Adorei o texto, espectacular!
ResponderEliminarA verdadeira "ARRAISA", digna sucessora da bisavó Joana Càloa.
J.D.
Já disse no meu blogue e repito aqui: no próximo ano tenho de arranjar uma boleia...
ResponderEliminarFernando Martins