Na Costa Nova, em Agosto, tive conhecimento da existência do livro Nos Mares da Terra Nova – A Saga dos Bacalhoeiros, de Anselmo Vieira, editado em Junho de 2010 (muito recentemente), pela Editorial Presença. Adquiri-o. Consegui o último exemplar na Bertrand. Ainda não o conhecia? Até parece impossível!
Na contracapa, pode ler-se:
Este livro reconstitui sob a forma de romance a última viagem bem sucedida do bacalhoeiro Júlia IV, que o autor acompanhou pessoalmente, em 1948. Naqueles anos, a frota portuguesa era a única que ainda comparecia nos mares do Árctico com veleiros quase medievais, entre as frotas mecanizadas de espanhóis, franceses e russos. Narrada como um diário de bordo, em grande parte acompanhando a perspectiva de Telmo, um alter-ego do autor, a obra caracteriza magnificamente estes homens rudes e ingénuos, inconscientes da sua grandeza, recriando a sua linguagem, o seu quotidiano, a camaradagem bem-humorada e os conflitos, sempre solidários nas horas de perigo. De certa forma uma celebração à virilidade e espírito de aventura, esta narrativa tinge-se de poesia e emoção que nos arrebatam e comovem. Nos Mares da Terra Nova é também um documento de inestimável valor histórico.
Devorei-o, mas mais, li-o, reli-o, meditei-o, sublinhei-o. As agruras, todos os perigos da Faina Maior, em que muitos dos «nossos homens de Ílhavo» foram actores, desfilavam-me incessantemente pela mente, bailavam-me no imaginário, criado pelos genes…imagino… e fruto do conto e reconto de muitos…muitos dos seus heróis.
A narrativa não é romanceada e muito menos ficcionada; retrata fiel e dramaticamente o que era a vida de um bacalhoeiro: (…) cada dia uma chaga de cansaço, o frio, os remos, a saudade, o gosto de sal, um montão de aborrecimentos e, às vezes, de pesca, nem vê-la! Raio de vida, a do bacalhoeiro! – dando especial relevância à parte humana de cada marinheiro.
O tema absorvia-me. A narrativa forte, dramática e bela prendeu-me, tanto mais quando se conheceram pessoas e locais lá retratados.
Ílhavo – Telmo pensava que talvez repetisse a aventura dos lugres bacalhoeiros, porque o fascinava a navegação de vela. Mas não tencionava fixar-se toda a vida naquela actividade da pesca longínqua como os oficiais de tradição de Ílhavo.
Costa Nova – Sem ser propriamente um lugarejo aquático, Ílhavo, fica situada a cerca de cinco quilómetros da praia da Costa Nova; dá para respirar a brisa marítima sem se molharem os pés, a não ser na estação de veraneio.
O Capitão Vitorino Parracho (1906 – 1991), de que bem me lembro, no seu rosto cheiinho, luzidio e arredondado, olhos muito azuis/esverdeados, sabedor e bondoso, era o capitão da viagem em causa (ano de 1948), no lugre Júlia IV.
Achei por bem consultar a sua ficha de inscrição no Grémio, existente no MMI, para me situar e aí, cheguei à conclusão que o seu verdadeiro nome era João Fernandes Parracho. Complicado, hein? Ílhavo tem coisas destas. Victorino vinha da madrinha Victorina…E descobrir? Não há dúvida, era ele.
O lugre, o Júlia IV, que comandava, construído por António Bolais Mónica na Figueira da Foz, em 1914, para a «Atlântica Companhia Portuguesa de Pesca», participou na campanha de 1915.
Naufragou, por incêndio, no Virgin Rocks, na campanha seguinte, a de 1949.
O Júlia IV
Doutros lugres que me foram familiares, o Autor fala – o Ana Maria do Capitão Joaquim Agonia, o Ana I do Capitão João Grilo, o Creoula do Capitão Francisco Paião, o José Alberto do Capitão José Vaz, o São Ruy do Capitão Aquiles Bilelo, o D. Dinis do Capitão Ferreira da Silva, o Milena do Capitão Tude Namorado, o Cruz de Malta do Capitão Ponche, o Lousado do Capitão Carlos de Castro, o Maria das Flores do Capitão Manuel Teles, o Maria Frederico do Capitão Vidal, o Paços de Brandão do Capitão João C. Pereira e outros…Faziam parte da mesma saga e viviam sobre as mesmas águas e sob o mesmo céu.
O Gaspar do Capitão João Firmeza, esse, lá ficará; naufraga, nesse ano, com água aberta.
Mais uma vez encaixa bem, de facto, aqui, a célebre frase de Anacarsis, filósofo grego do séc.VII a. C., que o próprio Autor também cita «Há três espécies de seres: os vivos, os mortos e os marinheiros».
Comprem o livro, leiam-no e divulguem-no, pois vale a pena!
Prometo que dentro em breve estará disponível, para venda, na loja do Museu.
Fotografia do Júlia IV de Arquivo.
Ficha do Grémio gentilmente cedida pelo MMI.
Ílhavo, 17 de Setembro de 2010
Ana Maria Lopes
Boas.
ResponderEliminarSorrindo direi que "estou parvo!". Isto porque admito que no que respeita à internet, não uso a pesca à linha (que tanto admiro) mas sim o arrasto, quase diário, e tal como a Dr.ª, não fazia ideia da existência deste livro até este seu artigo.
É mais uma pérola produzida pelo universo da Faina Maior e sua realidade. Saltará já nos próximos dias para a minha página e espero adquiri-lo.
Obrigado à Dr.ª por revelá-lo, pois ou tenho a rede de arrasto rasgada, ou aos nossos benditos media escapou-se-lhes... .
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
Conheci o Comandante Anselmo Vieira, capitão da Marinha Mercante, com que trabalhei "em paralelo" na costa de Moçambique, nos anos 70 do século passado. Ele comandava, salvo erro, o "Licungo" e eu o "Lugela". Dele conhecia já uma publicação "iniciação à NAVEGAÇÃO MARÍTIMA" , da Editorial Presença, (anos 90).
ResponderEliminarJá o Almirante Tito Cerqueira me tinha dado conhecimento desta nova publicação e agora a Ana Maria descobriu-a também e veio, a seu jeito e da forma mais positiva e clara, publicitá-lo e puxá-lo para a loja do nosso Museu. Aguardemos então.
JR
Excelente descoberta!
ResponderEliminarAcabei de o encomendar através de outra distribuidora, e espero que seja uma boa leitura, bem como o inicio de uma colecção de livros sobre o tema.
Os melhores cumprimentos,
Tiago Neves.
www.roda-do-leme.com
Li o seu artigo na sexta feira e logo fui procurar o livro que comprei na BERTRAND em Coimbra, cuja leitura está prestes a terminar.Nesse ano de 1948 o meu pai também andava na pesca do Bacalhau no navio JOÃO COSTA, no qual naufragou em 23 de Setembro de 1952 .Após o naufrágio continuou na pesca do Bacalhau no navio Senhora do Mar,do Porto até 1961.Mais tarde embarcou no Luiza Ribau e terminou a FAINA MAIOR no SERNACHE de Lisboa em 1974.
ResponderEliminarOs meus melhores cumprimentos
Dra. Ana Maria:
ResponderEliminarTerminei a leitura empolgante do livro "Nos Mares da Terra Nova-A Saga dos Bacalhoeiros" da autoria de Anselmo Vieira, de que tive conhecimento através do seu blog.
O Comandante Anselmo Vieira, para além de um grande "nauta", é um grande escritor que consegue manter o leitor constantemente em tensão face aos acontecimentos que diariamente se passam a bordo de um veleiro bacalhoeiro.
Tinha um ano de idade quando tudo isto se passou, mal eu sabia que 26 anos depois iria viver cenas idênticas a bordo de um dos últimos navios-motor da "White fleet" - o São Jorge.
Neste navio só não vivi a cena do furacão - que me calhou em sorte um ano mais tarde, a bordo do São Ruy - mas saiu-me na "rifa" o incêndio e consequente naufrágio do São Jorge (ver http://www.maolmar.blogs. sapo.pt - Out. 2007)que descrevo sem o entusiasmo e engenho do Comandante Anselmo.
Obrigado Dra. por me ter indicado um livro que me diz muito, que li com avidez, e espero reler num futuro próximo.
Tomei conhecimento do livro "Nos Mares da Terra Nova" atravès do sel Blog e foi empolgante lê-lo.
ResponderEliminarLêr a respeito desses bravos marinheiros, eu que sou de uma terra de pescadores (Matosinhos), efascina-me e aumenta o meu respeito por esses homens.
Muito obrigado e parabéns pelo seu trabalho.
Também comprei o livro sobre a Saga Bacalhoeira mal o vi! Foi de impulso e li-o em menos de uma hora! Para quem tem as suas raízes "mergulhadas" no mar salgado e ouviu desde a sua meninice as histórias desses heroís é impossível não ficar agarrado/a à narrativa.Sendo uma homenagem aos Homens do Mar, senti-o como uma homenagem aos meus! Costumo dizer que nas veias dos Ílhavos não corre sangue, mas sim as águas do mar salgado!
ResponderEliminarBoa noite.Muito antes, mas muito antes do lançamento do livro "Nos Mares da Terra Nova- A Saga dos Bacalhoeiros" no ano de 2010, já existiam nove (9) edições,do jornal PRIMEIRO DE JANEIRO, com datas de 10 a 14 e 17 a 20 de Abril de 1951 onde está narrada esta viagem do navio lugre JÚLIA QUARTA (nome primeiro)depois JÚLIA QUARTO é ainda JÚLIA IV,nome último até ao seu naufrágio em 1949, pelo piloto ANSELMO VIEIRA. São, como atrás referi, nove edições de uma escrita maravilhosa referenciando os dias 28,30 de Abril, 1, 2, 4, 5, 6, 8, 11 de Maio, 1, 2 de Junho, 3, 4, 5, 6, 7, 12, 13, 14, 15, 17, 20 de Setembro e 1 de Outubro a bordo do lugre. Tenho cópias dos originais assim como a Junta de Freguesia de São Pedro tem os originais, os quais pertencem ao seu Núcleo Museológico. Os relatos escritos são soberbos. Se precisar de cópias é um prazer entregar. Cumprimentos.
ResponderEliminarCaro Senhor:
ResponderEliminarNão tenho o prazer de conhecer, mas agradeço o seu comentário. Claro, quando me fala de cópias dos escritos originais, fico logo a «aguçar o dente».
Não estou a ver fácil enviá-los. Não sei, via virtual, deve ser muita coisa e tornar-se bastante confuso para guardar e imprimir. Para me enviar as cópias em papel, o que eu preferia, terá de as tirar e de ter o trabalho de mas enviar pelo correio. Pagar-lhe-ia as despesas, claro. Já agora, sugira, como acha mais fácil, fazer. Nem estou a ver onde mora. Freguesia de São Pedro, só, é vago (COVA/GALA?). Grata pela disponibilidade envia cumprimentos Ana Maria Lopes
Peço desculpa por não ter sido mais preciso na minha direcção. Moro na COVA GALA, Freguesia de São Pedro - Figueira da Foz. Não é preciso pagar nada, quer nas fotocópias quer no envio. Acredito que seria para a senhora Ana Maria Lopes um prazer ler o que foi escrito e de que forma, em cada edição, com um subtítulo da actividade ou situação a bordo do lugre JÚLIA IV inseridos no título, não sei se do próprio jornal se do sr. Anselmo Vieira - A FAINA DOS LUGRES BACALHOEIROS. Se a memória não me falha, foi através do engº José Cachim (trabalhamos na Soporcel pelo menos 25 anos e ele sabe perfeitamente quem eu sou. Pode perguntar por Pimentel Afonso da conservação mecânica) que tive contacto com a senhora Ana Maria, ao tempo directora do Museu Marítimo de Ílhavo. Comprei lá, e foi a senhora que mo vendeu, o livro FAINA MAIOR por, se não estou em erro, 850$00 - ao tempo que já lá vai. Pode ir ao Facebook e pesquisar Alberto Afonso. Mande-me uma direcção. Eu trato do resto. Foi um prazer.
ResponderEliminarObrigada pela atenção. Pode enviar para o endereço do Museu Marítimo de Ílhavo, à atenção de Ana Maria Lopes. Continuo a ir lá todas as semanas, pois faço parte da Associação dos Amigos do Museu.
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Conheço muito bem o Eng. José Cachim, desde sempre. Falar-lhe-ei de si, quando o encontrar.
Cumprimentos
Ana Maria Lopes
PS. Indo ao site do Museu, vê o resto do endereço. Avenida Dr. Rocha Madail. O código, não sei de cor.
Boa noite Dra. Ana Maria Lopes. Enviei hoje as cópias das nove edições do
ResponderEliminarjornal PRIMEIRO DE JANEIRO de 1951, narradas pelo piloto Anselmo Vieira. Foi um prazer participar no "enriquecimento cultural" do seu blog Marintimidades. Cumprimentos.
Enviadas por correio azul ao c/ do MMI. A informação está, assim, mais
ResponderEliminarprecisa. Obg.
Caro Sr. Alberto Afonso:
ResponderEliminarHoje, chegou-me às mãos a sua encomenda, que muito agradeço e aprecio.
Obrigada também pela foto. Irei ler com todo o gosto, embora tenha o livro e já o tenha lido.
Já agora, pedia-lhe, pf., se assim o entender, o seu contacto de e-mail ou o telem. para comunicar, de uma forma mais fácil, se for necessário.
Talvez, um dia destes, eu vá à Figueira e haja uma oportunidade de nos encontrarmos. Muitos cumprimentos.