Foi uma tarde diferente. Às vezes, parece que os santos da casa não fazem milagres, mas, desta vez, decidi ir conhecer o Museu Municipal de Espinho, que fará um ano de existência no próximo dia 16, já que, ultimamente, tenho andado muito envolvida desde Santarém até Mira, com os barcos do mar de Espinho até Vieira de Leiria.
O Museu Municipal de Espinho foi instalado num espaço restaurado, a antiga fábrica de conservas Brandão, Gomes & Cª., constituída em 1894 por Alexandre e Henrique Brandão e Augusto Gomes.
A frente do edifício, dotada de extenso relvado, a sul da praia, dá para a linha de caminho-de-ferro; é adornada pela esbelta e graciosa escultura em bronze de uma Varina, de Joaquim Gomes, cujo original, em gesso, se encontra no recanto de uma ala interior e suporta, na mão erguida, a divisa da conserveira.
A varina
Também lhe dá vida, um elegante, provocador e colorido barco de mar, não de grandes dimensões (7 a 8 metros de comprimento), o Mar Salomão, reconstruído pelo Mestre Felisberto Amador, de Pardilhó.
O Mar Salomão
A renovação funcional da antiga Fábrica Brandão, Gomes & Cª. integra uma vertente de desenvolvimento cultural e preservação da memória colectiva da comunidade local. Nesta perspectiva, o Museu Municipal de Espinho surge como uma instituição de pesquisa que tem como âmbito a comunidade piscatória e a indústria conserveira de Espinho. O Museu procura caracterizar o Bairro da Marinha, a Arte da Xávega (sic) e tornar compreensível o lugar da Fábrica Brandão Gomes & Cª. no fenómeno conserveiro e mundial.
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Salientam-se, sobretudo, no edifício, duas alas expositivas, uma que contempla os 100 Anos de História da Brandão Gomes, através dos temas fábrica, trabalho e produtos e outra que contempla a Arte da Xávega (sic), desdobrando-a nos seus múltiplos aspectos Arte Grande, Faina, Redes, Arrasto e outros Aprestos, em torno de um elemento catalisador comum, o Barco do Mar aparelhado, sobre o qual se pode ter uma visão, de um plano superior, após a subida de uma escada, estrategicamente colocada.
Vista de cima sobre o barco do mar
Naïf de todo, colorida, ingénua, mas cativante, prendeu-me e levou-me a fazer-lhe uma análise em pormenor. Só lhe faltava mesmo aquele movimento frenético característico. Já agora, quase poderia funcionar, tipo cascata animada!!!
Os elementos figurativos, quer masculinos, quer femininos, (no seu conjunto, cerca de trezentos) também à escala, não faltam, quer distribuídos como elementos da companha, no barco, quer por outras actividades tais como o alar das redes, coadjuvados por dezassete juntas de bois (a tal ruralização do litoral), transporte de redes e cabos e uma lota de peixe, em pleno areal, como soía ser.
Artes de arrastar, em primeiro plano, vêem-se três: uma já alada e outras duas a serem puxadas do mar, em grande azáfama.
Num plano posterior, cerca de 9 bateiras de mar, bem como umas tantas artes de mugiganga a secar no areal, entremeadas com velas encascadas, fateixas e mirones.
Em último plano, lá ao fundo, alguns palheiros, de cor ocre, por entre a mata esverdeada, fecham o cenário imaginado pelo artesão/pescador.
Curioso, não?
O visitante ainda dispõe de mais painéis expositivos individualizados que dão relevo ao bairro piscatório, à família, à habitação, ao traje, a algumas embarcações e ao arrasto. Aqui, tem um papel importante a abundante informação digital, fornecida através de quiosques multimédia.
Se ainda não conhece, não deixe de explorar, pois, apesar do conteúdo ser limitado, não se arrependerá da visita.
E na traseira do edifício, tem sempre a oportunidade de apreciar ao vivo o espectáculo que, apesar das transformações que os tempos impuseram, proporcionam ainda os barcos do mar e as artes de arrastar que utilizam.
Fotografias da autora
Costa Nova, 6 de Junho de 2010
Ana Maria Lopes
A análise que fez à mostra sobre o areal piscatório de Espinho doutros tempos "Assim nasceu Espinho...",faz-me recordar os meus verdes anos de criança na praia do Furadouro (já lá vão mais de cinquenta !...),mas ainda me recordo de algumas passagens, em especial das juntas de bois, das ordens dos arrais, principalmente os impropérios à pequenada, como eu, que no frenesim da manobra, enquanto a rede era puxada pelas juntas de bois, tentávamos tirar as sardinhas malhadas na rede.
ResponderEliminarUm dia destes vou ver este museu que desconhecia a existência, para matar saudades!
Obrigado pela informação.
Obrigado pela divulgação e sugestão. Tenho de ir lá no próximo "cruzeiro" ao Norte.
ResponderEliminarBom dia.
ResponderEliminarBelíssimo sem dúvida o que encontrou neste museu, mais um que espero visitar no futuro. E o diorama carregado the barcos e figuras... . Sobre o barco do mar, existe um barco tão semelhante a ele na Índia, que até "assusta". Coincidência ou não, encontram-se na região de Kerala, antigas posições da Índia Ocidental Portuguesa. A arte de pesca é idêntica, todo o processo de largada e chegada semelhante, etc, etc. Eu na verdade não acredito muito em coincidências.
Obrigado à Dr.ª pelo artigo/fotos.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt