«Durante as minhas visitas ao Museu de Marinha, verifiquei que na vitrina das embarcações do norte de Portugal, havia uma pequena bateira que tinha por referência Bateira dos cagaréus.
Procurei informações no departamento do património e lá encontrei o respectivo plano de formas e de arranjo geral comprovativo de que se tratava de uma bateira observada pelos funcionários de H. Mauffroy Seixas, que, a seu tempo, tinham efectuado o levantamento e preparado os respectivos planos e o modelo.
Várias vezes, em conversa com os Amigos do Museu tinha recordado um tipo de bateira que no meu tempo de liceu, costumava ver passar no Canal das Pirâmides, quando, à tarde, regressávamos, de bicicleta, à Gafanha.
Lembrava-me que não eram grandes, que não tinham a proa direita como as caçadeiras, mas que também não eram tão arfadas como as murtoseiras que costumava ver em S. Jacinto, quando iam ao caranguejo.
As dos cagaréus passavam junto às muralhas, normalmente movidas à vara por um dos camaradas que, sem esforço aparente, as fazia deslocar muito a direito, como que orientadas pelo leme que não possuíam. Normalmente, verificava-se pelos cestos da merenda, que serviam de transporte do pessoal que regressava das marinhas.
Mas já lá vão sessenta anos e, agora, por mais que as procurasse, não as consegui encontrar em lado nenhum.
Pela observação deste modelo e dos planos existentes, julgo ser esta a bateira que eu recordava e, sendo assim, resolvi fazer um modelo para mim, seguindo a escala de 1/25, como fiz para os anteriores.
Logo no início do trabalho, constatei que havia uma notória diferença no método de construção.
Nesta embarcação, as balizas não são formadas por cavernas com braço, aplicadas alternadamente de um e outro lado, como estamos a costumados a ver. Tem peças assentes no fundo formando as cavernas, às quais se pregam lateralmente, os dois braços.
Pormenor de construção
Este tipo de baliza embaraçada ou embraçada é o que normalmente se aplica nas embarcações de quilha, não sendo comum nas embarcações da ria de Aveiro.
Por esta razão, procurei ver se havia outros barcos com este tipo de construção e, com alguma surpresa, verifiquei que o saveiro da Caparica que está à entrada do M. M. é assim construído.
Para bateiras de similares dimensões, esta tem maior número de balizas, mas menos robustas. Não tem ferragens pare leme nem antepara para fechar a casa da proa e, embora com carlinga na coxia e enora na bancada de remar, não tem mastro nem vela.
Aspecto geral
Os remos são curtos, próprios para remar em esteiros pouco largos e tem uma pequena vara, para ser usada em fundos baixos.
As dimensões indicadas são:
Comprimento – 6, 50 metros
Boca – 1,50 metro
Pontal – 0,50 m.
Com este pequeno modelo, procurei recordar um tipo de bateira da nossa ria que já não existe e que só alguém da minha idade pode recordar».
António Marques da Silva
Embora eu já estivesse por dentro da feitura da minuciosa embarcação, depois de também ter observado e fotografado a da Colecção Seixas, só agora pude apreciar a fiel miniatura e o texto, que divulgo de bom grado.
Fotografias – Autora do Blog
Ílhavo, 13 de Junho de 2009
Ana Maria Lopes
" enora na bancada de remar, não tem mastro nem vela."
ResponderEliminarboa noite se a Bateira dos cagaréus não tinha mastro nem vela é um bocado estranho existir na embarcação o sitio para os mesmos ou seria que as utiliza-se noutras ocasiões???
seria sempre bom saber e registar esses pormenores da historia naval da nossa região