A Barra de Aveiro desde há muito nos vem habituando a espectáculos altamente concorridos e comoventes.
A barca Sagres aproxima-se…
Folheando as páginas do tempo, os mais fortes e emocionantes de que me recordo foram as alvoroçadas chegadas e as amarguradas partidas dos lugres bacalhoeiros, para a sua difícil e dura missão.
Mas, na senda da história bem recente, que convém não esquecer, outros episódios, recriados, fizeram com que acudissem milhares de espectadores ao molhe da Meia-Laranja: a saída e entrada do lugre Creoula, que, no Verão de 1998, pretendeu homenagear os grandes heróis da Faina Maior, em viagem organizada, com a mesma rota até St. John’s, tal e qual nos seus velhos tempos de lugre bacalhoeiro.
Além deste, são de relembrar o Desfile das Unidades Navais no encerramento das Comemorações do Dia da Marinha em Ílhavo (2003) e o desfile final da Regata dos Grandes Veleiros que constaram da Tall Ships (23.9.2008), a que assisti, por um fiozinho, devido ao atraso provocado por um cerrado nevoeiro que teimara em irritar a assistência e me permitir chegar a tempo, de Lisboa, para observar o memorável espectáculo.
Noutra dimensão, mas também atracção para os amantes de navios, foram a saída da Gafanha para Marin do lugre Santa Maria Manuela (29.12.2008), onde está a ser concluído e o “regresso” (6.4.2009) à Gafanha da Nazaré do Polynesia II, histórico lugre ex-Argus (1939-1970), com vista à realização de viagens de turismo marítimo-cultural, após restauro.
E ontem foi o encerramento das Comemorações do Dia da Marinha em Aveiro (2009), com toda a pompa e circunstância que a Marinha envolve.
O brilhante e entusiasmante concerto da Banda da Armada, no sábado, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, com cerca de 100 instrumentistas, sob a batuta do maestro Capitão-de-fragata Carlos da Silva Ribeiro, no final, com o som penetrante e marcante do Funiculì, Funiculà de L. Denza, animou e entusiasmou uma sala, que aplaudia, de pé, na ânsia dos encore. Conseguiu que fosse tocado um exuberante arranjo, hino ao mar e à liberdade, de um cantar de Zeca Afonso, autor aveirense, nascido a 2 de Agosto de 1929. E a Marcha dos Marinheiros não podia faltar, bem como o entusiasmo redobrado da assistência, que, com palmas, a acompanhou, de pé. Fazem-nos falta espectáculos destes, que exaltam os valores fraternos e patrióticos, ultimamente tão arredios e fugazes.
Motivadíssima desde sábado por este admirável e magnífico concerto, sabia, de antemão, que não podia, por razões familiares, assistir ao Desfile Naval.
Mas, ao descobrir notícias, blogs e ao ouvir relatos de alguns amigos, não queria deixar de imaginar o que se teria passado na Barra, na minha ausência.
O dia incerto, por vezes, ameaçador, acabou por proporcionar uma tarde agradável e amena.
A Barra foi pequena para acolher os espectadores/ visitantes, que se estendiam, às camadas, ao longo do paredão, até ao Forte, incluindo outros que se acomodaram em rochas e se instalaram nos molhes, sobretudo, no molhe sul.
Na Meia-Laranja, instalaram-se todas as individualidades: o Almirante CEMA., o Ministro da Defesa, os Presidentes das Autarquias, o Governador Civil e muitas outras.
Foi aprazível e esclarecedor o espectáculo com os botes anfíbios, helicópteros, fuzileiros e zebros, um desembarque na praia, largadas de mergulhadores-sapadores dos helicópteros para o mar, recuperação de tropas dentro de água e socorros a náufragos.
Mas, eis que o desfile das onze embarcações começa, com o Navio-escola Sagres a encerrá-lo, com a majestade a que já nos habituou, nas suas 23 velas arvoradas, mas não prenhes, já que o vento não ajudou.
Além da missão relacionada com a instrução de cadetes, o navio funciona também como embaixada itinerante de Portugal, na representação da marinha e do país.
A figura, em talha dourada, do Infante D. Henrique, como carranca, e a Cruz de Cristo, vermelha, de hastes simétricas, vazada ao centro, postada nas principais velas do traquete e do mastro grande, são os seus símbolos inconfundíveis.
À passagem pelo farolim da Meia-Laranja, onde estavam todas as individualidades, a Sagres fez uma bonita manobra de pano e aproou à Meia-Laranja, cumprimentando S. Ex.ª o Almirante CEMA. Foi um delírio, pois com essa manobra, o navio aproximou-se consideravelmente do molhe, como nenhum outro tinha feito.
Foi-se afastando da multidão, no rumo certo, seguida por algumas pequenas embarcações! Volta Sagres! Ílhavo e Aveiro receber-te-ão sempre com nobreza e de braços abertos.
A barca Sagres vai-se afastando…
Ler, no Diário de Aveiro de 24 de Maio de 2009, a notícia – Aveiro: Desfile de despedida promete espectáculo único no Dia da Marinha e outras relacionadas.
Fotografias – Gentil cedência do Professor Fernando Martins
Ílhavo, 25 de Maio de 2009
Ana Maria Lopes
Finalmente consegui aceder ao seu blogue.Conheço-a desde menina,e tenho acompanhado os seus trabalhos sobre embarcações da Ria e sobre termos técnico/populares das embarcações costeiras da costa oeste e sul.(tenho os livros...)Até no blogue do Guilhermino Ramalheira tenho impresso algumas fotografias da sua colecção.
ResponderEliminarDesnecessário pedir que continue.Está-lhe no sangue.
BEM HAJA !...
Quero antes de mais felicitar a autora deste grande Blog! Sigo sempre com muita atenção cada post novo, e leio com grande admiração cada frase escrita por si.
ResponderEliminarQuanto ao Dia da Marinha posso dizer que foi um grande evento e que tudo correu da melhor forma, dando ainda para tirar algumas fotografias que estão na minha galeria online:
http://tiagonevesfoto.pt.vu
Continue com esta qualidade que da minha parte terá sempre um leitor atento.
Atenciosamente,
Tiago Neves