O “Diário da Manhã” de 18 de Abril de 1943 refere que vão ser construídos catorze navios a motor para a pesca do bacalhau, em todos os estaleiros do País, com capacidade de pesca de 254 000 quintais de bacalhau (…), bem como (nomeia) os armadores a que os novos barcos ficarão a pertencer.
Cita “O Ilhavense”, da mesma época, que é o maior empreendimento de construção naval, desde há dezenas de anos; esta nova frota, que deve estar pronta dentro de ano e meio, é patrocinada pelo Ministério da Economia que lhe dará todo o auxílio.
A mesma fonte, de 11 de Janeiro de 1945, referencia: Em 1945 a frota bacalhoeira será aumentada de algumas novas e grandes unidades. Pode contar-se como certa a incorporação do Maria Frederico e do Inácio Cunha de Testa & Cunhas Lda., que descerá na carreira, no fim do corrente mês ou em princípios de Fevereiro.
Chegou, então, o dia festivo para o navio-motor Inácio Cunha, o dia 25 de Abril de 1945. Tudo a postos para a grande cerimónia.
Como a maré para o bota-abaixo fosse só pelas 17 horas, a empresa armadora decidira oferecer, entretanto, a cerca de 200 convidados, um lauto muito embora tipicamente regional almoço, num salão dos seus armazéns.
Na presença de todos os membros do Governo, vindos de Lisboa, das individualidades civis e religiosas, locais, dos armadores e dos muitos convidados, tiveram lugar as cerimónias da praxe, nos estaleiros da Gafanha da Nazaré: discursos, agradecimentos, bênção do navio pelo Sr. D. João Evangelista de Lima Vidal, o baptismo com o partir da simbólica garrafa de espumoso contra a roda da proa da embarcação, pela madrinha, Sra. D. Adília Marques da Cunha.
Mestre Manuel M. Mónica num discurso inflamado e a madrinha do Inácio Cunha – 1945
(…)
Finalmente, o Sr. Ministro da Economia cortou o cabo da bimbarra, mas o navio manteve-se, por algum tempo, estático. Correm pressurosos os construtores e demais pessoal, para alguns trabalhos de emergência, e, passado algum tempo, o Inácio Cunha desliza serenamente na carreira e vai, nadar, tranquilo como um cisne, nas salsas águas da Ria.
Acenam-se lenços, estalam foguetes, a música executa um número alegre e os armadores e construtores recebem os abraços e parabéns do estilo. – refere o jornal, “O Ilhavense”, de 2 de Maio de 1945.
O novo navio-motor, um dos primeiros do tipo CRCB., construídos por Manuel Maria Mónica, na Gafanha da Nazaré, media 52,72 metros de comprimento, fora a fora, 10, 44 m. de boca e, aproximadamente, 5, 50 m. de pontal. Dispunha de todos os aperfeiçoamentos modernos, incluindo telegrafia e telefonia, belas instalações para a tripulação (69 tripulantes e pescadores e três oficiais), dispondo de 57 dóris.
A propulsão era feita por um motor Deutz de 550 H.P., deslocando-se a cerca de 9/10 milhas horárias. A tonelagem bruta era de 775,42 toneladas e a líquida, de 494,83.
Por cálculos de construção, esperava-se que viesse a carregar nos seus porões, sensivelmente, 12 000 quintais de bacalhau.
(Cont.)
Ana Maria Lopes
Sempre do maior interesse a história dos nossos navios e armadores de pesca.
ResponderEliminarOlá Ana
ResponderEliminarespero que tenhas passado uma boa Páscoa
Já li no teu blogue tudo o que tinha em atraso..muito aprendo
Parabéns pela partilha
Um abraço
Maria
Boa tarde.
ResponderEliminarRepare-se que em tempos extremamente difícieis de plena II Guerra Mundial, investe-se em força na frota de pesca longínqua. Já em tempos de paz, pós 25 de Abril... investe-se no abate de navios, frotas mercantes e de pesca, estaleiros, e numa organização de pescas que pouco valor dá ao sector. Afinal, "só é pescador quem não sabe fazer mais nada". Ao que se tem visto, "só governa quem não sabe fazer mais nada" ganhou também o seu peso.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt