Ler algo sobre o Desertas, para a maioria das pessoas, é capaz de não dizer muito. No entanto, à faixa etária mais madura, moradora em Ílhavo e veraneante na Costa-Nova, deve interessar. Há, porventura, quem saiba mais do que eu, por experiência, ou, por mais profundos e tecnicistas conhecimentos. Eu sei o que sei e apeteceu-me relembrar o Desertas, mesmo sem ter assistido a essa curiosa história da Primeira Guerra Mundial, que encheu páginas de alguma da imprensa da época – O de Aveiro, Campeão das Províncias, Ilustração Portuguesa, etc.
Mas, não vou por aí.
O Desertas foi o ex-navio alemão Hochfeld construído em 1895, nos estaleiros de Flensburg, com 112, 47 metros de comprimento, 12,75 de boca e 7,84 de pontal. Vindo de Leixões, onde não pôde entrar, devido ao refrescar do vento de sudoeste (explicação do comandante, algo contestada), acabou por encalhar no litoral ilhavense, em 18 de Novembro de 1916, pelo sul dos palheiros da Costa-Nova, ou seja, a 4 milhas a sul do nosso Farol.
Nem toda a gente estava de acordo com o salvamento do navio, acontecimento, então, muito controverso:
- tentar salvar o navio, por mar?
- ou salvá-lo, pela ria, abrindo um canal na língua de areia que separa a ria do mar?
Depois de um valente temporal, em 20 de Janeiro de 1918, que provocou um grande rombo no navio, malograram-se todos os esforços para o pôr "a nado".
Após uma série de polémicas, diligências e atritos, só a 1 de Junho do mesmo ano, se iniciou a abertura do canal, em direcção à ria.
Pelo Verão de 1918, um bombardeamento proveniente de um submarino alemão, atacara a zona do canal, alarmando muita gente.
Mas descansem que acabo, por aqui, as descrições pormenorizadas.
Quem tiver muita curiosidade em sabê-las, pode socorrer-se do livro O Salvamento do Desertas dos Transportes Marítimos do Estado, escrito por António Mendes Barata, Engenheiro orientador de todos os trabalhos, publicado, em Lisboa, em 1920.
Aí sim, estão descritos, à exaustão, todos os passos de alta tecnologia, sobretudo para a época, e devidamente ilustrados com 66 fotografias.
Faz agora cerca de dez anos que tais fotografias (70), compradas numa Feira de Velharias, em Lisboa, graças à generosidade do historiador e investigador aveirense Dr. Amaro Neves, vieram cair nas mãos da Associação dos Amigos do Museu de Ílhavo.
Convinha expô-las, para avivar a memória dos vindouros de que o Desertas se deslocara majestosamente frente à nossa Costa-Nova, entre 1918 e 1919.
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Em 1919, o Desertas avança, lentamente, do sul, na Costa-Nova
E de 20 de Fevereiro até 5 de Abril de 1999, estiveram disponíveis ao público, no Museu, as setenta fotografias. Também este painel de azulejo de Francisco Pereira, por amável cedência do médico e coleccionador, Dr. Hermes Castanhas, foi exibido.
Outeiro – Águeda, 1932
(Cont.)
Fotografias – Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 13 de Fevereiro de 2009
Ana Maria Lopes
Curiosamente, após os esforços que resultaram no salvamento do navio, não voltou a ter grande actividade comercial. Passou a chamar-se MENDES BARATA e acabou na frota da Companhia Colonial de Navegação
ResponderEliminarCreio mesmo que não chegou a durar muito mais. Tem dados seguros?
ResponderEliminarSaudações marítimas.
O MENDES BARATA foi comprado pela CCN em 1927 e vendido em Outubro do mesmo ano para desmantelar em Scheveningen, Holanda
ResponderEliminarObrigada.
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