Quando o Gazela entrou em 1969, pela última vez, em Lisboa, estava obsoleto para a missão a que estava afecto.
Foi desarmado, como era hábito, na Azinheira-Velha, mas, desta vez, não iria ser preparado para a próxima campanha, mas sim para uma não menos prestigiosa carreira museológica, ao ser adquirido pelo Museu Marítimo de Filadélfia, que, entretanto, procurava um veleiro histórico.
A Empresa armadora já vira desaparecer o bonito Hortense que, entretanto, fora oferecido em 1968 à Junta Central da Casa dos Pescadores, para nele ser instalado um Museu de Pesca. Não consentira, pois, que o Gazela viesse a ter idêntico destino.
Desenvolvidas as diligências regulamentares, recrutada uma tripulação americana voluntária de vinte e dois membros, onde tinha sido incluído o Sr. Manuel da Maia Rocha, antigo maquinista do navio, o Gazela, no dia 23 de Maio, domingo, saiu a Barra de Lisboa, com destino a Filadélfia, numa viagem que durou 44 dias.
Na doca, junto ao Museu de Filadélfia, o navio mantinha o mesmo aspecto, com todos os pormenores e requisitos que o caracterizavam quando operava na faina da pesca do bacalhau.
Em 1976, quando o navio foi incorporado numa regata oceânica, comemorativa do Bicentenário dos Estados Unidos, à saída do porto de Hamilton, foi abalroado por dois grandes veleiros de casco metálico que quase o esmagaram. Submetido a uma grande reparação, tudo foi reposto na sua forma original.
Posteriormente, devido a dificuldades financeiras, o museu achou inviável a sua manutenção, entregando-o à associação Ship Preservation Guild, que tudo tem feito para que nada lhe falte. Com uma tripulação voluntária, efectua, no Verão, pequenos cruzeiros e visitas a vários portos, figurando nas mais diversas festividades.
O Gazela a navegar…em toda a sua majestade
Em 1991/2, necessitou de uma nova reparação, tendo sido substituída parte da roda de proa e o beque.
Gazela, em Baltimore, nas docas de Fort Mc
Henry
1991
Também foi substituído o mastro da mezena, bem como algum aparelho fixo. Deu entrada em doca seca, para revisão do fundo e do leme (2002/2004).
A sua manutenção continua a ser extremamente cuidadosa. Anualmente, é desmastreado em terra e o navio fica atracado, protegido por uma estrutura de plástico, que permite à tripulação voluntária continuar as reparações internas: substituição do convés, renovação do circuito eléctrico, encanamentos, tanques da aguada, etc.
O Gazela protegido pela estrutura de plástico
Periodicamente, é sujeito a todas as inspecções legais, para poder continuar a navegar, em segurança.
É regularmente calcorreado por portugueses e jovens, em visitas de estudo programadas por escolas. Há muito quem sonhe com uma viagem do Gazela, de visita a Portugal, seu país de origem.
Em 1995 visitou novamente o porto de St. John’s, na Terra Nova, 26 anos depois de aí ter estado durante a sua última campanha de pesca.
Uns anos mais tarde, veio-se-lhe juntar o Creoula, em missão idêntica.
Actualmente, vamos seguindo interessadamente os passos da reconstrução do Santa Maria Manuela, que esperamos ainda poder ver a navegar…levando bem longe o nome da Empresa proprietária e o de Portugal.
Agradeço ao amigo Marques da Silva todas as informações dispensadas, visto que mantém contactos regulares com a Associação que cuida do “seu” Gazela.
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Fotografias gentilmente cedidas pelo Capitão Marques da Silva
Ílhavo, 9 de Dezembro de 2008
Ana Maria Lopes
Saliento também o "grande" pormenor de o "Gazela" continuar a envergar a bandeira de Portugal sempre que navega, o que demonstra a grandiosidade histórica e cultural do navio, mas também de quem dele cuida, os Estados Unidos da América, para quem o patriotismo fala mais alto.
ResponderEliminarÉ um enorme gosto ver este navio ainda tão bonito e bem cuidado.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
Foi em 1952 que visitei aquele navio quando estava fundeado em Belém juntamente com a restante frota para a tradicional missa e benção antes da partida para mais uma epopeica campanha.
ResponderEliminarFoi então, que juntamente com alguns colegas praticantes de vela
decidimos tentar uma visita ao barco que mais admiràvamos por ser o único lugre patacho em actividade.
Solicitàmos então autorização para subir e visitá-lo o que nos foi concedido.
A partir daí acompanhei sempre a
sua actividade até ao seu desaparecimento.
É pois com grande satisfaçaão que fiquei a saber que há quem lhe dê
o valor devido,estime,e o mantenha
a navegar com a bandeira portuguesa, embora não sejam portugueses a fazê-lo.
Muito lindo teu blog Ana Maria! Parabens. Ze Carlos.
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