O velho lugre-motor, de madeira, de quatro mastros, Novos Mares, fora construído no ano de 1938 por Manuel Maria Bolais Mónica, nos seus Estaleiros na Gafanha da Nazaré para a Empresa Testa & Cunhas, Lda., que desde 1927, se dedicou à faina do bacalhau.
O Novos Mares era um navio de quatro mastros, de formas muito finas e elegantes. Embora mais tarde com motor-auxiliar, os seus capitães consideravam-no muito bom de vela.
Caso curioso o facto de ter sido o meu Avô Pisco (Manuel Simões da Barbeira) a estreá-lo, tendo feito uma viagem, pelo menos, nesse mesmo ano, à Terra Nova e Groenlândia, só à vela. Que perigos esforçados não representaria uma viagem só à vela, naqueles tempos? Os riscos, as tempestades, os ciclones, os gelos, a falta de mantimentos, as notícias que não se recebiam… O velho Gil Eanes começara só a dar apoio à frota em 1937, interrompendo-o em 1941… Em 1942, o meu Avô deixou definitivamente a pesca do bacalhau. Ainda bem; quando eu nasci, já ele se pôde dedicar a mim, quase em exclusivo.
O Novos Mares, na Groenlândia, com mar de senhoras…
Serviço da escala, a bordo do Novos Mares, durante a viagem de 1938
Depois de 18 anos sofridos de mar, naufragou com incêndio a bordo, sob o comando de João Fernandes Matias, em 21 de Julho de 1956, no Virgin Rocks, tendo sido salva a tripulação pelo lugre Maria das Flores.
Resolveu então o seu armador construir um novo Novos Mares, no mesmo estaleiro, mas já com formas diferentes, seguindo os moldes da época, de acordo com a política que há cerca de 30 anos vinha operando no país.
Era este navio de construção mista, pois embora a madeira fosse básica (na sua construção), aplicada no forte casco na qualidade e forma tradicionais, era reforçado com uma sobrequilha metálica. Tinha fortes sicordas longitudinais e anteparas transversais, também em chapa de ferro.
No convés, tinha igualmente instaladas amplas casarias metálicas para alojamento dos oficiais e espaçosa casa de navegação. Como já não usava velas, os motores instalados eram de potência suficiente para lhe garantir uma boa marcha.
(Cont.)
Fotografias – Arquivo pessoal da autora
Ílhavo, 9 de Outubro de 2008
Ana Maria Lopes
Começa por chamar-lhe navio-motor, e muito bem, para logo no parágrafo seguinte referir que o "Novos Mares" era um barco de quatro mastros. Perdoe-me o reparo mas, o "Novos Mares" era de facto um NAVIO.
ResponderEliminarOs proficionais desta arte remetem o termo barco para ... o barco de cacilhas, o barco do mar, o barco de pesca, o barco moliceiro, o barco de água arriba, o barco farol, o barco de pilotos, o barco rabelo, o barco de recreio etc. Isto é, o termo barco é uma designaçao mais genérica de embarcação.
Já o termo "barca" tem outro significado; é uma das designações
de um veleiro relativamente ao pano que arma. Concretizando: barca é um navio de vela de 3 mastros, que arma pano redondo no de mastro de prôa e no mastro grande e pano latino quadrangular mo mastro de ré. Caso da "Sagres". A barca Sagres. Se a Sagres armasse pano redondo também no mastro de ré já não seria uma barca mas sim uma Galera.
Resumindo, não se chama barco a um navio que estimamos!!!
Se a minha explicação for bem aceite pela autora e pelos habituais leitores que aqui vêm beber, terei alcançado o único fim a que me propus.
Quanto à descrição e ao facto de possuir fotos tão antigas já, acho muito bom.
Venham pois mais NAVIOS!!!
JR
Boa noite.
ResponderEliminarComo por certo adivinhava, gostei imenso deste seu artigo por retratar um navio que me especial, em parte por ter sido o antecessor do navio onde pescou o meu pai e aguardo pacientemente a sua escrita sobre ele. Além disso as fotos com as quais ilustra o artigo são para mim sem preço, pois colecciono-as com grande paixão. São as fotos que me fazem fluir as histórias e descrições sobre a pesca do bacalhau e neste Natal, em Portugal serão longas as conversas familiares sobre a Grande Faina, com o portátil sempre ao lado.
Havendo outros lugres gémeos deste (exemplo do "Oliveirense"), por coincidência, de todas as fotos de navios que possuo, esta do "Novos Mares" na prova de pano sempre me pregou ao monitor pela beleza de linhas, a proa "de colher" e equilíbrio geral do navio. Poderá parecer-lhe estranho ou irreal, mas digo-lhe com a maior das sinceridades, que se tivesse uma fortuna à disposição, construía uma réplica exacta deste lugre, para recreio. Acredite que não estou a brincar. Pergunto era onde o poderia construír hoje... talvez em Vila do Conde. Aí, em vez de ensinar, narrar e contar por fotos, fazia-o com o navio real... monumental.
Sonhos de criança que não morrem.
Atentamente,
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Já vi que corrigiu! Sôa melhor assim.
ResponderEliminarJá agora, caro fangueiro, antónio, pertima-me que o cumprimente. Estava à sua espera, pois calculei que cá aparecesse a comentar este artigo, sabia que era fan do "Novos Mares". Mas, já que estamos em maré de correcções, deixe-me esclarecer que o "Oliveirense" não era gêmeo do "Novos Mares"; o "Oliveirense" (que eu conheci)tinha só 3 mastros.Era, de facto, um lugre também muito elegante e com a proa de colher.
Quanto à fortuna...oxalá chegue um dia que construtores para o seu sonho não hão-de faltar!!!
Boas navegações.
JR
Caro João Reinaldo,
ResponderEliminarTem toda a razão quanto ao "Oliveirense". Eram só 3 mastros sim senhor. Gosto tanto da proa destes navios que me esqueço doutros detalhes.
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A Dr.ª Ana Maria Lopes enviou-me umas imagens do "Oliveirense" e pediu-me que publicasse o seguinte comentário (para melhor ilustrar os anteriores):
ResponderEliminarJá não há dúvidas, quanto ao "Oliveirense". Mas, se as houvesse, estas duas bonitas imagens (Proa do Oliveirense, Lx, 1950 e Popa do Oliveirense, Lx, 1950) esclareceriam tudo.
Este "pedaço" de lugre, em madeira, foi construído também na Gafanha da Nazaré por António Bolais Mónica, em 1938, exactamente no ano do "Novos Mares". Segundo a opinião de Francisco Marques, era "gémeo" do " Delães". À popa do "Oliveirense", no Tejo, ainda em 1950, se viam acostados, por estibordo, um varino e, muito possivelmente, um bote de fragata.
Boa noite.
ResponderEliminarSem dúvida duas fotos belíssimas, especialmente a da vista da popa. Ao olhá-las só se pode dizer uma vez mais que construir navios era connosco (e ainda é mas noutros moldes). Uma palavra de apreço ao gosto que os mestres Mónica tinham na construção naval, com as decorações a falar por si.
Para completar, e sendo que escrevíamos anteriormente sobre proas de colher (redondas), lá está um lindo varino junto à popa, também de proa redonda. Parecem todos um grupo de putos que se veio juntar ao grandalhão bacalhoeiro e este conta-lhes como é lá longe na Gronelândia, na bruma fria dos Bancos.
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O navio que o amigo Fangueiro queria se referir, era o "Delães" esse sim, ao contrário do "Novos Mares", era irmão gémeo do "Oliveirense"
ResponderEliminarSaudações marinheiras
Luis Filipe Morazzo
Sra. Dra. Ana Maria
ResponderEliminarNas fichas do Grémio, relativo ao ano do naufrágio, além do mencionado João Fernandes Matias, também aparece registado o nome de José Simões Bixirão, que de resto, já o comandava desde 1950. Qual dos dois foi efectivamente o capitão na derradeira viagem?