-
Entretanto,
a traineira “Josefa Vilarinho”, que navegava ainda no canal da barra,
transmitiu para o posto Rádio Telegráfico da Mútua de Pesca, desta cidade, o
que havia acontecido. Imediatamente, e por intermédio do mesmo posto, foi
chamada a intervenção das duas corporações de Bombeiros Voluntários de Aveiro,
assim como a tripulação do barco salva-vidas “Jaime Afreixo” (1948-2002) dos
Socorros a Náufragos. Este barco de socorro, embora tivesse sido lançado à água
logo que recebeu aquela comunicação, não pode romper com a ondulação violenta
do mar, regressando ao seu ancoradouro.
Outras embarcações idênticas mantiveram-se, ainda por largo tempo, com os seus projectores para as águas, na esperança de poderem recolher alguns sobreviventes que viessem arrastados pela corrente para dentro da barra. Alguns tripulantes daquelas embarcações conseguiram saltar para terra, para, tentarem socorrer alguns sobreviventes no areal da praia de S. Jacinto, para onde a “Praia da Atalaia” havia sido arrastada de quilha para o ar.
Até à hora em que o jornal noticia – 21,30 h –, o único sobrevivente era o pescador Pedro da Conceição Júnior, natural de Lagos, que, bom nadador e de forte compleição física, conseguiu manter-se à superfície, agarrado a uma bóia, tendo sido lançado para cima dos blocos do molhe. Na esperança de auxiliar alguns dos camaradas que pudessem dar à costa, por ali foi ficando, até que foi levado para a Base Aérea de S. Jacinto, onde recebeu os primeiros socorros.
A mesma fonte fornece a constituição da tripulação, pertencente à zona de Aveiro, Gafanhas e de Ílhavo, Manuel Domingos Magano.
Segundo a mesma fonte, Comércio do Porto, mas de 26.11.1963, sabe-se de acordo com informação oficial, que o número exacto de homens a bordo que pereceram no naufrágio é de vinte e nove porquanto um, Pedro da Conceição Guerreiro conseguiu salvar-se e oito não chegaram a embarcar.
A traineira afundada está quase totalmente desmantelada.
-
Há,
portanto, algumas disparidades entre o número de náufragos, ao compararmos os
dois jornais, de datas subsequentes.
Os
barcos da frota de pesca, ancorados no porto de Aveiro, hastearam as suas
bandeiras a meia adriça em sinal de luto, tendo, logo de madrugada, iniciado as
pesquisas ao longo da costa do litoral aveirense para a possível recolha de
corpos dos desventurados pescadores que, porventura, viessem a ser arrojados às
praias.
De
manhã, foi recolhido e levado para terra, na praia da Torreira, o cadáver do
pescador João Simões Basílio, casado, de 64 anos, da Gafanha da Encarnação.
A tragédia, originada, ao que parece, por um
acto de menos prudência, causou a maior consternação na cidade e arredores.
O
Sr. Capitão do porto, Agostinho Simões Lopes, esteve em S. Jacinto, a fim de se
inteirar das condições em que se deu o trágico acontecimento.
Chegou
a Aveiro o Sr. Guilherme de Sousa Otero Salgado, presidente do Grémio e Mútua
dos Armadores da Pesca da Sardinha, que representará nos funerais das vítimas
do naufrágio, o Contra-almirante Henrique Tenreiro e Comandante Sá Linhares.
O
Sr. Capitão do porto de Aveiro representará, nos funerais, o Sr. Presidente da
República, e, também, o Sr. Ministro da Marinha. Os funerais serão custeados
inteiramente pelo cofre da Mútua dos Armadores da Pesca da Sardinha, não
bastando isso, de forma alguma, para superar a falta que os saudosos
pescadores, em plena actividade, fizeram às suas famílias, ao tentarem arrancar
das águas, o seu sustento, com amor e carinho.
A nossa barra tem sido palco, lamentavelmente, ao longo dos anos, de muitos acidentes e naufrágios. Segundo testemunham os entendidos, não é uma barra fácil.
-
Imagem – Gentil oferta do amigo Reinaldo Delgado
-
Ílhavo, 24 de Novembro de 2022
Ana Maria Lopes
-
Sem comentários:
Enviar um comentário