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Já o Março
passou a quinzena e ainda não ouvi nenhum pregão de galeota! Este ano tem tardado…
Comi noutro dia, mas comprada, lá em baixo, perto da peixaria. Haverá pouca? Ou haverá problemas com a certificação da “arte”, como já me zuniu?
Galeooooota!
Pregão
único, mas bem timbrado, prolongado e amiúde!
Faz-me
falta, sobretudo, o pregão. Faz-me bem à alma e ao paladar – dizia um
apreciador.
Marca esta
época – a época da galeota.
É tempo
dela! Amanhã, vou “investigar” à Costa Nova, mas, atenção, não sou “fiscal” e
não vou vigiar nada. Só tentar recolher informações.
Parece que os grandes apreciadores estão ògadinhos por ela – lê-se pelo facebook, perante a imagem de um prato bem apresentado e cativante à vista e ao paladar.
Costumava durar, cerca de um mês a mês e meio (de Março a Abril), a venda da galeota pelas ruas de Ílhavo e zona das Gafanhas, porta a porta. No início da safra, é sempre cara como fogo; pudera! – há um ano que não se lhe chinca!!!! Mas à medida que se banaliza (por se ir transformando no lingueirão), o preço desce, permitindo que bolsas menos folgadas já lhe acedam.
Sempre mais apoquentada com as embarcações e
processos de pesca usados do que com os prazeres gastronómicos, ia
frequentemente até à Costa Nova (junto à Biarritz
e San Sebastian), observar a sua
apanha e ver as redes, bastante sui generis,
nos trapiches, a secar.-
Hoje já não
teria forças para andar de botas de água, pela borda da ria ou junto às coroas, para gravar conversas e bater chapas.
Já abordei
esta apanha da galeota no Marintimidades,
por umas duas vezes, mas não é que, ontem, numas arrumações do “baú de memórias”,
encontrei mais umas tantas imagens que cliquei em 11 de Março de 1986 de um lanço de galeota? Que
maravilha! Já com trinta aninhos…registadas por mim, «à coca» de todos os
pormenores. Conheço a “arte” de cor e salteado. Toca de ordenar as imagens e de
preparar a conversa para captar os leitores/amantes do peixinho milagroso.
Trata-se um aparelho
envolvente, tipo chincha,
especialmente adaptado para a apanha da galeota,
uma espécie de recém-nascido lingueirão.
Consta,
essencialmente, de uma tira de rede, que adelgaça para os calões, tendo, no centro, um rectângulo de pano branco, um pano
tipo mosquiteiro, muito franzido e
folgado, que substitui o saco da chincha.
O comprimento da rede é de cerca de 40.00 metros, tendo o pano mosquiteiro cerca de 2 de comprimento. A
arte é feita com rede usada, de traineira.
Uma bateira vulgar (ou qualquer outro género de embarcação de fundo chato), é o tipo de embarcação utilizada neste processo de pesca.
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Fica um
pescador em terra aguentando o cabo do reçoeiro,
enquanto a bateira se afasta da
margem, largando a rede, a favor da corrente.
A partir do meio da rede, a embarcação dirige-se para a margem, completando o cerco, para o que fez um percurso, sensivelmente, em semicírculo.
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Aproada a bateira, os pescadores saltam para a água e, em conjunto com o que havia ficado na margem, alam a rede. Vão-lhe dando sacudidelas rítmicas, para espantar e conduzir o peixe para o pano.
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Percorrem a tralha da cortiça, até que ao chegar ao centro, com a galeota agrupada junto ao pano, levantam a rede fora de água, fechando a boca do saco.
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A galeota, quando perseguida, esconde-se na areia branca, enterrando-se rapidamente. A arte aproveitou engenhosamente esta particularidade, pois o pano branco consegue enganar a galeota, dando-lhe a ilusão de areia. Por vezes, apenas dois pescadores lançam a rede.
Finalmente escolhem-na dos moliços e de outas mínimas ervagens, para a passarem para um balde ou para o quete da bateira.
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A galeota mais apreciada pelos entendidos
é a primeira, por ser mais pequena (a larva
do lingueirão). Depois de crescida, já não é tão saborosa (dizem os degustantes).
Apanhado o
petisco sazonal, é preciso fazer o seu escoamento imediato no mercado da Costa
Nova, nos restaurantes da zona, porta a porta, em grito estrídulo:
Galeooooota! É tempo dela!... – cantava o pregão.
E
compradoras assomavam às portas!
Mas pareceu-me que o pregão estridente e bem-sonante foi interrompido por exigências marítimas que transtornam os pescadores. Continuemos de atalaia!...
Fotografias – nos anos 80
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Ílhavo, 16 de Março de 2022
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Ana Maria Lopes
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