domingo, 4 de julho de 2021

A ponte das "Duas Águas", num domingo de Julho

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No dia 5 de Julho de 1951, num domingo aproximado ao de hoje (há 70 anos), a ponte de madeira das “Duas Águas”, que ligava o Forte à Barra, arriou, abrindo uma brecha de uns bons pares de metros, exactamente no momento em que passava uma camioneta de carga.

Milagrosamente, para lá do mergulho e afundanço da camioneta, não houve mais consequências nefastas, pois que os seus três tripulantes safaram-se a nado, depois de um grande susto.

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Aspecto da ponte, após o acidente – 1951
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As forças vivas do concelho deveriam, pois, actuar. Continuando a velha ponte a servir de passagem entre as duas margens da ria, várias dezenas de pessoas teriam a sua vida em risco!

Diz que se ouviram lamentos: – Agora… mais um compasso de espera para o comércio da Costa-Nova e da Barra. Quem compensa?

A tragédia não atingiu maiores proporções, porque a camioneta de passageiros que seguia atrás, pôde ser travada a tempo. O condutor, com perícia, conseguiu recuá-la para terra firme.

Na imprensa da época, lia-se com frequência “– Ponte interrompida para obras, Ponte Farol /Barra sujeita a benefício…”

Lembro-me dessas agruras, a que os mais novos achavam muita piada, mas os mais velhos nem tanto…

Uma camioneta de cada lado… e os passageiros tinham de passar “a ponte a pé” (expressão com que se brincava), com o tremelicar contínuo dos barrotes, que, nas junções, deixavam a água corrente e profunda, à vista, lá em baixo.

Durante esse interregno houve momentos, devido ao corte da ponte, em que nem esse tipo de travessia era possível!

Havia um plano para a construção de uma ponte em cimento armado que tardava. Só ficou pronta no Verão de 1975, com acessos ainda provisórios e em Março de 77, a velha ponte de madeira, foi demolida.

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Mais uma imagem da ocorrência – 1951
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Então, o serviço da travessia entre a Costa-Nova e a Gafanha da Encarnação era sobrecarregado, para o que não estava preparado.

Estavam, à época, ao serviço da travessia duas lanchas da carreira, a “Rosa Branca e a “Ausenda Conde, que não aprovaram por muitos anos. Recorreu-se, de novo, às pesadonas “barcas da passagem”.

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A “Rosa Branca, à esquerda da Mota
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Como a afluência era muita, leu-se na imprensa regional de então, a 1 de Agosto, que chegou a haver pequenos incidentes na travessia, em dois domingos seguidos.

“ (…) Estava atracada à mota da Costa uma lancha da carreira. O povo foi entrando e os barqueiros não notaram que um dos bordos da embarcação estava em cima da mota. Quando se afastou aquela, como o povo era muito, a lancha inclinou-se tanto que alguns passageiros e algumas bicicletas foram cuspidos à água.

Houve pânico, alarido, mas felizmente o acidente não resultou senão num banho forçado (…)”.

Mas, pasme-se: - notícia de 10 de Agosto de 1951 anunciou: “(…) A ponte das Duas Águas já dá passagem a carros ligeiros (…)”, apesar do travejamento continuar sempre a tremelicar.

Meu Deus! Parece que as obras eram mais rápidas pelos anos cinquenta do que agora, pois, actualmente, as obras nas estradas de Ílhavo, Aveiro e Gafanhas, ainda continuam a perseguir-nos!... das quais não se imagina um fim à vista.

Nos meus sete anos, recordo-me da ocorrência, mas sem grandes pormenores. Foi um desaforo na Costa-Nova!

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Ílhavo, 04 de Julho de 2021

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Ana Maria Lopes

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