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Entretida com a pesquisa de elementos, em jornais antigos, deparei com o afundamento do lugre bacalhoeiro “Maria Carlota”, de regresso da Terra Nova, em “O Ilhavense” de 10 de Novembro de 1947. Também o “Comércio do Porto”, do dia 5 de Novembro do mesmo ano, lhe dedica notícia muito pormenorizada. Quem quiser acrescentar saberes ao seu, deve consultar o livro de João David Batel Marques “A Pesca do Bacalhau”, tomo II, “Os lugres da pesca à linha”, pp. 229-236. Saberá todo o historial do lugre.
Fico-me
pelos dados de “O Ilhavense”, relativos ao naufrágio:
“O
último lugre bacalhoeiro que largou dos pesqueiros da Terra Nova, na campanha
de 1947, não chegou a porto de salvamento.
Tendo
água aberta e regularmente carregado, o “Maria da Carlota” arribara a
Saint John’s para reparar a avaria. E logo que se julgou o navio apto a
atravessar o Atlântico, fez-se de novo aos pesqueiros, onde melhorou, dentro do
possível, o carregamento.
Como
o tempo despertasse, teve de fazer rumo a Portugal, o que foi anunciado pelo
navio de apoio “Gil Eannes”.
Com poucos dias de viagem, porém, o temporal começou a açoitar a embarcação, que não podendo resistir às intempéries, naufragou.
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Aos
pedidos de socorro lançados pelo “Maria Carlota”, acudiram vários navios.
Uma
unidade de guerra americana – o “Charles Stafford” – recolheu os náufragos que
levou para New York e no local do sinistro apareceram o “Caramulo”, o “Gil
Eannes”, o “Corte Real”, tendo o transatlântico inglês “Queen Elisabeth”
chegado a desviar a sua rota para correr em auxílio dos náufragos.
O
“Maria Carlota” tinha 3 mastros, e, pertencia, à época, ao armador de Lisboa,
João Norberto Gonçalves Guerra.
Comandava-o
o nosso conterrâneo António Fernandes Matias (Cajeira) e era seu
imediato o ilhavense Jorge Fort’ Homem.
Dos seus 30 homens de tripulação, faziam também parte os ilhavenses:
José
Fernandes Parracho, João Pereira Gateira, Tomé dos Santos Ferreira Gordo,
Celestino Esteves de Figueiredo e José Saraiva Verdade.
Felizmente que toda a tripulação se salvou, pelo que toda a tripulação se salvou, pelo que, sinceramente, todos nos regozijamos”.
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O lugre de madeira “Maria Carlota”, o ex-“Estrela I” foi construído em 1918 em Dayspring, Nova Escócia, Canadá. Tomou o nome de “Maria Carlota” na campanha de 1927, propriedade de Nuno Freire Temudo de Viana do Castelo. Em 1934, foi propriedade de João Norberto Gonçalves Guerra. Teve porto de registo em Viana do Castelo, Porto e Lisboa.
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Costa
Nova, 26 de Junho de 2021
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Ana
Maria Lopes
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