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Este título de capa do Diário de Aveiro de hoje (22.5.2021) chamou-me a atenção. Apanhar “cricos” e “navalhas” em família, a nova experiência.
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Para
quem não a conhece nem nunca o praticou, garanto que há cerca de sessenta anos,
para mim e amigos/as foi um grande e entusiasmante entretenimento. E desafio!
Pelos
anos 60, lá saíamos de bateira, a remos, da Mota (de início dos anos
quarenta), hoje turismo da Costa Nova, na vazante da maré, em direcção ao
Norte, até uma das primeiras “coroas”, frente à Biarritz. Toca de abicar a
bateira, sempre sob o olhar atento, não fosse a maré fazer das “suas”.
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Ir
para a lama de pés descalços não é o que mais aconselho, devido a possíveis
cortes e arranhões, calçar chinelas de enfiar o dedo também não é o mais
aconselhado, porque a sola adere à lama e lá se vai o encaixe do dedo ou o pé.
Há calçado barato e mais apropriado, para tal aventura!
Uma
vez na lama, usávamos dois modos de apanhar “as navalhas” também conhecidas por
“lingueirão de canudo”. Ou apanhavam-se com sal que se colocava em orifício
próprio (dois pequenos orifícios, juntos, que lembram um 8) ou usava-se
uma vareta de guarda-chuva, a que era aplicado, numa das pontas, um triângulo
de chumbo que se enfiava no tal orifício.
Além
de saber estas regras, é preciso viver a experiência de as pôr em prática, com
toda a pica e adrenalina que provocam.
A vareta que, depois de enfiada se torce ¼ de círculo, é um processo rápido e garante a apanha do bicharoco, cujo corpo é atravessado por ela. Mas, longe de ser tão emotiva como o processo do sal.
O apanhador, com água pelo tornozelo, curvado, conhecedor do orifício duplo, em forma de 8, coloca-lhe sal em abundância e aguarda. Começa a água a borbulhar, e, passados uns segundos, avista-se a “navalha”. Agora, há que intervir ligeirinho, puxá-la devagar, mas com firmeza. Dá luta e é nessa luta que reside a pica e a adrenalina. Coloca-se num balde com água da ria que vamos levando connosco, para a conservar fresquinha. Tenho pena de não ter fotos de época, desta famosa apanha, mas, frente à ria, e de memória fresca, vivo e sinto todas as emoções por que passava, então, depois de umas horas de lazer bem passadas.
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Depois
do balde já bem composto, chegava a hora de as devolver à ria ou de as trazer
para casa para uma arrozada ou à Bolhão Pato.
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Nunca fui de grandes degustações. O prazer era mesmo saborear a apanha e conviver na ria, em boa companhia. Coisas da juventude!....
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Costa
Nova, 22 de Maio de 2021
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Ana
Maria Lopes
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