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Não é a primeira vez que alguma “neta saudosa” se me dirige, na expectativa de saber mais alguma coisa do seu ente querido, já que pela profissão exercida a bordo, estava muito pouco tempo em casa.
Como
as compreendo, que também tinha uma adoração pelo meu avô, também ele, homem do
mar.
Eu,
tentando localizar a pessoa e agradecer alguns dados que me possa ceder,
juntando o “puzzle”, faço sair mais uma singela biografia.
Desta
vez, o motorista em causa, é Fenando Freire Nunes Pinguelo e a Sara adora ir
“ao baú” para ler uns escritos breves, uma cédula e uns lembretes que deixou,
em que a linguagem, para ela, invulgar, a seduz e faz viajar também, no tempo.
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Fernando
Freire Nunes Pinguelo, filho de Moisés Nunes Pinguelo e de Zulmira Freire de Assunção,
nasceu na freguesia de São Salvador, na Apeada – Ílhavo, em 7 de Março de 1929.
A cédula marítima nº 42871 foi passada na Capitania do porto de Lisboa, em 27
de Abril de 1945.
Casou
com Maria de Lourdes Graça Bastião, de quem teve três filhos: Fernanda, Aníbal
e João Graça Pinguelo.
A sua carreira começou por moço, durante três viagens, ascendendo na profissão, para ajudante de motorista, 3º e 2º motorista.
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Viveu
23 anos de mar, de 1946 a 1969, praticamente fiel, toda a vida marítima, à
empresa em que muito ilhavenses trabalharam – Parceria Geral de Pescarias (PGP),
com sede na Azinheira Velha, Barreiro.
Começou nas safras de 1946, 1947 e 1951, como moço de convés, no navio-motor de aço, “Argus”, dando nota pelos seus escritos, que estava bem a par da pesca diária: …
Dia 13 de Maio de 1951. Domingo. Arriou-se e chamou-se às 14 horas.
Bento fresco e foi dia de Nossa Senhora de Fátima.
Dia 15 de Maio de 1951.
Terça-feira. Arriou-se com bom tempo.
Dia
17 de Maio de 1951. Quinta-feira. Arriou-se com bom tempo. Muito pouco peixe…
O famoso “Argus”, construído na Holanda, em 1939, para a PGP, foi o seu “habitat”, além dos três anos de moço, já citados, também de ajudante de motorista, desde 1948 até 1955. Notabilizou-se o “Argus”, na safra de 1950, pela presença de Alan Villiers investigador, realizador, fotógrafo e oficial da armada australiana, que acompanhou a dita Frota Branca, para dela fazer uma reportagem fotográfica excelente, um filme e escrever o livro talvez mais famoso da pesca do bacalhau “A Campanha do Argus”, com tradução, num sem número de idiomas. E o nosso ajudante de motorista também lá esteve para contar.
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Interrompeu
nos anos de 1956 e 57 a pesca de bacalhau para fazer 3 viagens no navio
“Terceirense”, de transporte misto, pertença da Empresa Insulana de Navegação e
no navio de carga “Girão”, também pertença da PGP.
Pelos
vistos, preferiu o bacalhau e voltou, desta vez, para estrear, em 1958, o n/m”
Neptuno”, com outro conforto e melhores condições de navegabilidade, construído
para a mesma empresa, nos fatídicos, malogrados e desaparecidos Estaleiros de
São Jacinto.
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E
o homem íntegro, interessado, curioso, dedicado e particularmente habilidoso,
subiu a pulso e, de ajudante de motorista, chegou a 3º e a 2º motorista, até
1968.
E,
se foi fiel à PGP quase toda a vida, com o bem conhecido, à época, capitão
Adolfo Paião, fez 21 viagens, tendo mudado com ele, do “Argus” para o
“Neptuno”. Só se poderiam ter entendido bem.
Foi
a última viagem de Adolfo Paião, enquanto Fernando Pinguelo fez mais a viagem
de 1969, como 2º motorista, no n/m “Alan Villiers”, construído nos Estaleiros
Navais de Viana do Castelo, em 1953, para a empresa Bacalhau de Portugal, Lda.
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Um
modo de homenagear a presença de Alan Villiers, na safra de 1950, entre a nossa
frota branca.
O
nosso marítimo, após a aposentação, ainda teve uns anos para saborear em terra,
a merecida reforma.
Faleceu
em 11 de Agosto de 2017 com 88 anos.
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Ílhavo,
21 de Março de 2021
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Ana Maria Lopes
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