domingo, 21 de março de 2021

Fernando Freire N. Pinguelo, motorista da pesca do bacalhau

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Não é a primeira vez que alguma “neta saudosa” se me dirige, na expectativa de saber  mais alguma coisa do seu ente querido, já que pela profissão exercida a bordo, estava muito pouco tempo em casa.

Como as compreendo, que também tinha uma adoração pelo meu avô, também ele, homem do mar.

Eu, tentando localizar a pessoa e agradecer alguns dados que me possa ceder, juntando o “puzzle”, faço sair mais uma singela biografia.

Desta vez, o motorista em causa, é Fenando Freire Nunes Pinguelo e a Sara adora ir “ao baú” para ler uns escritos breves, uma cédula e uns lembretes que deixou, em que a linguagem, para ela, invulgar, a seduz e faz viajar também, no tempo.

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Fernando Freire Nunes Pinguelo, filho de Moisés Nunes Pinguelo e de Zulmira Freire de Assunção, nasceu na freguesia de São Salvador, na Apeada – Ílhavo, em 7 de Março de 1929. A cédula marítima nº 42871 foi passada na Capitania do porto de Lisboa, em 27 de Abril de 1945.

Casou com Maria de Lourdes Graça Bastião, de quem teve três filhos: Fernanda, Aníbal e João Graça Pinguelo.

A sua carreira começou por moço, durante três viagens, ascendendo na profissão, para ajudante de motorista, 3º e 2º motorista.

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Cédula de inscrição marítima
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Viveu 23 anos de mar, de 1946 a 1969, praticamente fiel, toda a vida marítima, à empresa em que muito ilhavenses trabalharam – Parceria Geral de Pescarias (PGP), com sede na Azinheira Velha, Barreiro.

Começou nas safras de 1946, 1947 e 1951, como moço de convés, no navio-motor de aço, “Argus”, dando nota pelos seus escritos, que estava bem a par da pesca diária:

Dia 13 de Maio de 1951. Domingo. Arriou-se e chamou-se às 14 horas. Bento fresco e foi dia de Nossa Senhora de Fátima.

Dia 15 de Maio de 1951. Terça-feira. Arriou-se com bom tempo.

Dia 17 de Maio de 1951. Quinta-feira. Arriou-se com bom tempo. Muito pouco peixe…

O famoso “Argus”, construído na Holanda, em 1939, para a PGP, foi o seu “habitat”, além dos três anos de moço, já citados, também de ajudante de motorista, desde 1948 até 1955. Notabilizou-se o “Argus”, na safra de 1950, pela presença de Alan Villiers investigador, realizador, fotógrafo e oficial da armada australiana, que acompanhou a dita Frota Branca, para dela fazer uma reportagem fotográfica excelente, um filme e escrever o livro talvez mais famoso da pesca do bacalhau “A Campanha do Argus”, com tradução, num sem número de idiomas. E o nosso ajudante de motorista também lá esteve para contar.

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“Argus”, na campanha de 1950
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Interrompeu nos anos de 1956 e 57 a pesca de bacalhau para fazer 3 viagens no navio “Terceirense”, de transporte misto, pertença da Empresa Insulana de Navegação e no navio de carga “Girão”, também pertença da PGP.

Pelos vistos, preferiu o bacalhau e voltou, desta vez, para estrear, em 1958, o n/m” Neptuno”, com outro conforto e melhores condições de navegabilidade, construído para a mesma empresa, nos fatídicos, malogrados e desaparecidos Estaleiros de São Jacinto.

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N/M “Neptuno”
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E o homem íntegro, interessado, curioso, dedicado e particularmente habilidoso, subiu a pulso e, de ajudante de motorista, chegou a 3º e a 2º motorista, até 1968.

E, se foi fiel à PGP quase toda a vida, com o bem conhecido, à época, capitão Adolfo Paião, fez 21 viagens, tendo mudado com ele, do “Argus” para o “Neptuno”. Só se poderiam ter entendido bem.

Foi a última viagem de Adolfo Paião, enquanto Fernando Pinguelo fez mais a viagem de 1969, como 2º motorista, no n/m “Alan Villiers”, construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, em 1953, para a empresa Bacalhau de Portugal, Lda.

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N/M “Alan Villiers”

 

Um modo de homenagear a presença de Alan Villiers, na safra de 1950, entre a nossa frota branca.

O nosso marítimo, após a aposentação, ainda teve uns anos para saborear em terra, a merecida reforma.

Faleceu em 11 de Agosto de 2017 com 88 anos.

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Ílhavo, 21 de Março de 2021

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Ana Maria Lopes
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