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Tendo-me pessoa amiga
perguntado se eu tinha a biografia do capitão Aníbal da Graça Ramalheira, fui
direita às fichas do Grémio, sem me lembrar que a dele estava quase em branco,
sem os dados básicos e com o registo de meia dúzia de viagens, apenas.
Valendo-me de pessoas amigas e de outros elementos, os habituais, tentei
reconstituí-la. E ei-la:
Aníbal da Graça
Ramalheira nasceu na Rua do Pedaço em 30 de Julho de 1900, filho de João
Pereira Ramalheira Júnior, marítimo e Vitorina da Graça Ramalheira. Do
casamento com Leonilde Vitorina Corujo em 30 de Outubro de 1921, nasceram os filhos
Vitorina Paula Corujo Ramalheira, Aníbal Leonídio Corujo Ramalheira e Maria do
Rosário Ramalheira.
Frequentou o Liceu de
Aveiro e o de Viana do Castelo, porque nessa altura, entre 1914 e 1918, época
da pneumónica, o pai dirigira uns terrenos para secadouro, pertencentes à
Parceria Geral de Pescarias (PGP), em Darque, Viana do Castelo.
Mais um Ramalheira que
dedicou o seu tempo aos navios da Parceria, no Barreiro, bem como, na parte
final da vida, à empresa, seguindo as pisadas do pai.
Do que se consegue apurar,
foi ao bacalhau na campanha de 1922 na “escuna Creoula”, conhecida como
“Creoulinha” como piloto, com o capitão António Marques e na de 1923, foi de
capitão.
Nos anos de 1925 e 26,
foi capitão do “Argus” velho, futuro “Ana Maria”, pertença da praça do Porto.
Era um donairoso e elegante veleiro.
No lugre-patacho
“Gazela I”, fez quatro viagens de capitão – as de 1924, 27, 28 e 1929. Quase
toda a gente ouviu falar do lugre patacho “Gazela I”, do Gazelinha ou
Gazelão, conforme as épocas, que hoje ainda é mantido pelas Américas por um
grupo de Amigos.
Teve a honra de fazer a
viagem inaugural do lugre “Hortense”, em 1930, onde residiu como capitão até
1936 (inclusive), construído na Gafanha da Nazaré, nos estaleiros de Manuel
Maria Bolais Mónica.
Era obrigatório equipar com radar, os navios construídos a partir de 1950, mas Aníbal Ramalheira adorava tanto o” Hortense” e achava-o tão elegante, que dizia que o mastro da antena do radar iria tirar o brilho ao navio. Conseguiu-o aguentar sem radar até 1961, ano em que as autoridades não autorizaram a sua saída.
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Mais uma vez se orgulhou de inaugurar o lugre “Creoula”, construído nos estaleiros da CUF, em tempo record, para a viagem de 1937, tendo ficado por lá mais o ano de 1938, que ficou célebre pela negativa. Foi um ano fatídico com um ciclone que soprou no oceano, tendo atingido fortemente alguns navios. Dentre eles, foi o “Creoula”, do comando do sr. Aníbal Ramalheira, que perdeu quatro homens da sua tripulação, entre eles, o imediato, sr. Carlos Eduardo Miranda Calàs de S. Pedro do Sul, sofrendo também avarias de grande monta. O “Brites” e o “Maria da Glória” felizmente não tiveram perdas pessoais, mas sofreram, igualmente, prejuízos importantes.
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O “Creoula”
Não há dois sem três e em 1939, fez a viagem inaugural do lugre “Argus”, construído na Holanda, tendo deixado, então, o mar, por motivos de saúde.
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Conhecedor e amante de
navios, bom profissional, sabedor e habilidoso, seguiu as pegadas do pai, tendo
passado a exercer o cargo de gerente da PGP, em Fevereiro de 1941. Supervisionou
a frota dos Bensaúde, no Barreiro, depois de uma carreira longa e notável, à
frente de vários lugres.
Uma bela panóplia de
“navios históricos” passou-lhe pelas mãos, com mestria.
Aposentou-se em 30 de Junho de 1970, tendo vindo morar para Ílhavo.
Deixou-nos em viagem sem retorno, em 6 de Dezembro de 1976 com 76 anos de idade.
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Ílhavo, 21 de Fevereiro de 2021
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Ana Maria Lopes
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