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A
nossa ria, desde muito cedo, foi rica em bivalves, tendo-se tornado numa
riqueza piscícola, que deu subsistência a uma quantidade grande de pescadores,
que mais se interessaram e dedicaram por aquela actividade pesqueira. O
berbigão, a amêijoa, o burrié, e, até a ostra, em tempos recentes (avistam-se
viveiros mesmo da minha varanda na Costa Nova), ali encontraram nas águas
lagunares um bom habitat. A sua apanha, sobretudo do berbigão, na gíria
conhecido por crico, é um cenário com que deparamos frequentemente,
mesmo a partir da curva da Biarritz. Actualmente, esta captura não me tem
atraído tanto, se bem que seja muito intensa (vê-se com frequência), porque as
embarcações usadas já são quase as modernizadas chatas, em fibra de
vidro, menos atractivas para mim.
Este
ano, talvez com as dragagens da ria que revolveram os fundos, voltaram, em
força, ao terreno.
Noutro dia, remexendo “os meus baús”, estes assuntos sempre me interessaram, encontrei umas imagens dos anos 80 do século passado, na Costa Nova, em que o berbigão era apanhado com duas cabritas, mas a bordo de que embarcações? Suspense… vejamos.
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Ena!...
que quantidade de crico capturado para bordo de um dóri (sobras
da pesca do bacalhau, à linha…), bem nítido, onde é possível apreciar
e anotar alguns pormenores.
O
CRISTINA II era um dóri já adulterado e adaptado à pesca
lagunar, com coberta de proa e painel de popa para aplicação de motor
fora de borda, mas que ainda evidenciava, com clareza, o tabuado trincado, que sempre ostentava e o caracterizava. Também se
vislumbra a peça metálica (o bronze),
onde se enfiavam as forquetas, que
sustinham em rotação, a parte central dos remos. E uma bela fateixa de quatro patas e quatro unhas,
sobre a coberta da proa! É nítida e
mete raiva!
A
referida cabrita pode apreciar-se bem
na mão do pescador, constituída por uma longa vara a que se prende a travessa
de um ancinho metálico, de onde sai um arco em semi-círculo, que sustém um saco
de rede de cerca de um metro de comprimento, com um rabicho, no fundo, que facilita a manobra do despejo do bivalve,
depois de ter sido, esforçadamente, cravado e arrastado pelo fundo da ria,
suportado no ombro arrojado do pescador.
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Imagem extremamente explícita da captura, em que a embarcação também costumava estar fixa a duas longas e pujantes varas. A bateira caçadeira que a imagem seguinte apresenta, nessa mesma época, também se dedicava à mesma faina.
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Às
vezes, interrogo-me – será que eu, na Costa Nova, pelos anos 80, ainda tão jovem,
não tão teria nada mais interessante que fazer do que andar a “pescar” e
fotografar pescadores nas suas fainas? Claro que tinha e ia alternando. Caso
contrário, também não me alegrava, agora, de encontrar estas “pequenas
relíquias” de um passado recente, ao vasculhar “os meus baús”.
O que encontrarei mais? Não sei, ainda não acabou…. Vamos a ver o que está a dar…
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Ílhavo, 25 de Outubro de 2020
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Ana Maria Lopes
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