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Resquícios da Faina Maior…
Em tempos de clausura e solidão, sem nada
que me entretenha, nem que me apeteça fazer, voltei a este homem do mar, que
sempre ficou em suspenso. Queria registar algo da sua biografia, mas nunca
consegui grandes elementos. Há já uns
anos, identifiquei uma senhora na Residencial do Casci, que sabia ter sido sua
nora, mas, ao interpelá-la com custo, muito pouco consegui… confirmou-me o nome
do marido, Jorge Manuel Tavares da Rocha, motorista, já falecido, e do sogro –
Capitão Jorge da Rocha Trolaró. Confirmei, mas nada mais. O nome ou alcunha –
nunca tive a certeza – apresentava-se-me com muitas variantes: Tróloró, Trolóró,
Trólóró ou Trolaró. Acontece, por Ílhavo.
Bem, Jorge da Rocha Trólóró, segundo a sua
assinatura da ficha do Grémio, era filho de Joaquim da Rocha Trólóró e de Maria
Emília Nunes Vidal, natural de Ílhavo, tendo nascido a 30 de Março de 1900. E
por cá viveu…
Casou a 27 de Setembro de 1922 com Maria
Rosa Tavares da Rocha, de cujo casamento, nasceram os filhos Maria Jorgelina,
Rosa Emília e Jorge Manuel Tavares da Rocha.
Era portador da cédula marítima nº 5.751,
passada pela Capitania do Porto do Porto, que testemunhava que exercia a
profissão de pescador do bacalhau desde o ano de 1919 como piloto e que deixou
de exercer a profissão desde 1941, por motivo de doença. Citava o nome de dois
navios, “Patriotismo” e “Delães” e meia dúzia de datas. Estava montado o
esqueleto, mas era preciso completar os espaços descarnados. Há anos, deixei de
lado, mas, hoje, voltei ao Trólóró, que não conheci, mas de que conheci o tal
filho, motorista, que usava o mesmo nome do pai.
Vamos lá “pescar” os dados que faltam,
servindo-me dos jornais de época, O Ilhavense, Beira-Mar e dos registos
do João David Marques que são “um livro aberto”.
O primeiro registo escrito com que me
deparei foi como piloto, em O Ilhavense de Março de1923, do lugre
“Vencedor”, da praça do Porto, comandado pelo capitão Francisco de Oliveira.
Nas campanhas de 1926 a 28, continuou como
piloto do lugre da praça do Porto, “Patriotismo”, sob o comando de
Francisco de Oliveira.
Em 1929, mantendo-se fiel à mesma praça,
mudou-se de saco e enxoval para o convés do lugre “Palmirinha”, como
piloto, sob o comando de António Cachim Júnior, por aí ficando até 1930,
inclusive.
Observando o rumo… Anos 30
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Em anos de forte crise bacalhoeira, lá foi
continuando, trocando de navio, passando a ter a seu cargo, em 1931, o comando
do “Patriotismo”, que já servira, até 1939, tendo como piloto António Cachim
Júnior. E este foi o “seu navio, em toda a década de trinta, tendo conhecido os
pilotos Manuel Gonçalves da Silva (Paroleiro), Adolfo Francisco da Maia e João
de Sousa.
O lugre “Patriotismo”
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Final dos 30, a bordo do
“Patriotismo”, em Massarelos
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O lugre de madeira “Patriotismo”,
construído em 1923 por José B. Santos Borda, para a Parceria Marítima do Douro,
Lda., fez a última campanha em 1939, tendo passado para o comércio, em 1940.
E o “nosso Trólaró”, eis que passou para o
comando do lugre motor “Delães”, levando como piloto João Juff Tavares
Ramos, nos anos de 1940 e 41. O famoso “Delães”, a quem a sorte não bafejou, em
1942. Tinha o destino traçado.
O lugre “Delães”
Mas, voltando ao nosso oficial, que havia
pedido dispensa da profissão, em 1941, por questões de saúde, quando é que nos
teria deixado?
Não minto, se disser que há uns anos,
folheei, já exausta, em duas tardes, 5 anos de jornais. Finalmente, repliquei,
cansada, quando, o nosso jornal de 10 de Junho de 1947 noticiava, que tinha
falecido esta madrugada, com 48 anos de idade, Jorge da Rocha (Troloró),
oficial da Marinha Mercante, há muito tempo retido em casa, por pertinaz
enfermidade.
Curta a vida!... Desde tão novo, no mar!...
Ílhavo, 8 de Abril de 2020
Fotos: do “Patriotismo” cedida por J.
David Marques e espólio pessoal
Ana Maria Lopes-
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