terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Fooooooooogo no Rainha Santa!...

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Um dos últimos navios-motor a ser construído nos estaleiros do Mestre Benjamim Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré, para a firma Pascoal & Filhos, Lda., foi lançado à água no dia 15 de Março de 1961. Há quase 59 anos.
O navio, construído em madeira, tinha capacidade para 14 000 quintais de peixe.
O bota-abaixo aconteceu segundo os procedimentos habituais, mas já com bastante menos fulgor.
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O navio embandeirado em arco…
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Características – Comprimento, entre perpendiculares, 48, 91 metros, 10,47 de boca e 5, 35 de pontal. A arqueação bruta era de 829, 61 toneladas e a líquida, de 435, 33.
Albergava 21 tripulantes e 59 pescadores.
Foram seus capitães, João Fernandes Parracho (Vitorino), de 1961 a 1965, João José da Silva Costa, de 1966 a 1972 e António Tomé da Rocha Santos, em 1973.

Naquele período, a vida era bastante intensa no porto bacalhoeiro da Gafanha da Nazaré e, sempre que tocava a sirene, em Ílhavo, e constava que o incêndio era a bordo ou em alguma seca, uma tal correria despontava para lá, com interesse na observação do acidente. Também lá fui eu!...

Foi o que aconteceu no dia 25 de Fevereiro de 1974. Fazem, hoje, exactamente, 46 anos! Sireeeeene… toque de fogo!!!!!!!!!!! Incêndio no Rainha Santa! E numa debandada, muita gente acudia, num misto de curiosidade e pavor.
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Incêndio a bordo…
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Um grande incêndio deflagrou a bordo, devido a curto-circuito na casa das máquinas – era notório. Colossal azáfama – bombeiros das corporações de Aveiro e de Ílhavo, assistentes, curiosos – um corrupio.
Segundo informação colhida no momento, o navio, dificilmente poderia ser recuperado para a pesca e, sobretudo, para a campanha próxima, para a qual se preparava. Milhares de contos de prejuízo.

À época, não foi muito badalado o destino do navio. Abandonado no cais durante uns tempos, esteve perto de ser desmantelado, mas acabou por ser procurado por um empresário de Avanca, segundo informação colhida na zona, Sr. José Resende, que o adquiriu à empresa proprietária com a intenção de o preservar. Projectos destes nunca foram muito acessíveis.
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Restaurante na Torreira
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Acabou por ter sido recuperado parcialmente e ter feito, a reboque, as últimas milhas, através do Canal de Ovar da Ria de Aveiro, em inícios dos anos 80, tendo acostado junto ao chamado Monte Branco (Torreira), transformado em restaurante/bar. Outra vida, em que também não teve grande sucesso…
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Imagens da Foto Resende
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Ílhavo, 25 de Fevereiro de 2020
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Ana Maria Lopes-

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Homens do Mar - José Marques de Oliveira - 55



José Marques de Oliveira
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Há muito pensava abordar o currículo marítimo do Pai da minha amiga Joana, mas, José Marques de Oliveira, de alcunha Tira o Sousa, foi ficando para o final.  José Oliveira, filho de António Nunes de Oliveira Sousa e de Maria Marques de Oliveira, nasceu em Ílhavo, em 23 de Dezembro de 1918. E a alcunha de Tira o Sousa? Foi-me contado que já que o sobrenome do pai era Sousa, ele também o seria. E assim pensou o garoto, até entrar para a Escola Primária. Ao escrever o seu nome completo, fazia-o como achava que se chamava mesmo. Então o professor recomendava-lhe – Tira o Sousa –, porque não és Sousa mesmo. E daí nasceu a alcunha.
Conheci-o apenas de o ver passar lá para os fundos do Arnal e a própria filha me revelou não saber muito da vida do pai, por desencontros, próprios desta ocupação marítima e da sua vida colegial.
Com cédula marítima nº 10. 698, passada pela Capitania do Porto, no Porto, em 16 de Abriu de 1937, teve uma carreira, na pesca bacalhoeira, de motorista.
Do casamento com Maria da Conceição Rocha da Silva, nasceu a filha Joana.
Com perto de 30 anos de mar, sempre em navios à linha, foi um pronto e fiel servidor da casa das máquinas.
Já me têm passado casos de marítimos de uma grande fidelidade a uma empresa; neste caso curioso, o Zé de Oliveira foi fiel à Sociedade Lisbonense de Pesca do Bacalhau, Lda., mas também foi fiel a três capitães ilhavenses, que sempre acompanhou nas suas mudanças de navio – só se pode concluir que, entre eles, havia uma boa relação de trabalho. Foram os capitães António Simões Picado, com quem fez doze viagens, José Teiga Gonçalves Leite, com três viagens e Elmano Ramalheira, com onze campanhas.
Começou, certamente, como moço, como era hábito, «pau para toda a obra», mas, a partir dos registos existentes desempenhou o cargo de moço, em 1937, no lugre-escuna Santa Regina, pertença, à época, da Empresa de Pesca de Portugal, Lda., com sede e secadouros em Ílhavo, da gerência de Francisco António Abreu e de Anselmo José Lopes Ferreira. O capitão era o conterrâneo António dos Santos.
Toca de rumar a Lisboa, de albaióis e ferramenta no saco, para servir de ajudante de motorista no lugre Labrador, até à campanha de 1943 (inclusive). Nas de 1944 e 1945, passou a motorista. O capitão sempre foi António Simões Picado, de 1938 a 1945, com excepção das viagens de 1943 e 44, em que o capitão foi o também conterrâneo Júlio Pereira da Bela, de alcunha Salsa.
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No Labrador, o 2º à nossa esquerda, Eduardo Labrincha e o cozinheiro Manuel Pereira
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No Labrador, o 1º à nossa direita, Eduardo Labrincha, Manuel Sarrico…
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João Celestino Chuva Bingre e Zé Oliveira, 1944/45
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Chegado o ano de 1946, aconteceu a viagem inaugural do navio-motor, de madeira, António Coutinho, para onde ambos se mudaram – capitão António Picado e Zé Oliveira, onde este, de 2º motorista, passou a primeiro.

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Navio-motor António Coutinho
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Com a sua característica boina, com jeito para as máquinas e outros serviços, de barbeiro, por exemplo, assim foi vivendo, a bordo, bem humorado e fotogénico.
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Corte de cabelo ao cap. Elmano Ramalheira
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O navio-motor António Coutinho fora um navio-motor, construído em 1945 para a Sociedade Lisbonense da Pesca do Bacalhau, por Manuel Maria Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré. Nele se mantiveram primeiro motorista e capitão António Picado, apenas com um interregno de 1952 a 54, em que José Teiga Leite liderou o comando do navio, até ao ano de 1955, em que Elmano Ramalheira passou a dirigir o navio-motor.

Na viagem inaugural do São Rafael, em 1959, ambos abalaram, naquele espírito solidário e de amizade a que já me referi, de saco às costas, para o convés do São Rafael, até 1965.
Este navio, já de ferro e de outra dimensão e comodidade, foi construído para a mesma sociedade armadora, pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, em 1959.
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Navio-motor São Rafael
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Na safra de 1961, um triste episódio se passou, que não teria sido nada fácil de suportar pelos camaradas de bordo e ainda menos de comunicar à família.
No dia 22 de Abril, José Augusto Bichão Gago, nascido a 15 de Agosto de 1939, filho de Augusto Bichão Gago e de Evangelina Rainha Bichão, residentes na Rua Direita, em Ílhavo, de 21 anos, perdera a vida por afogamento, na Terra Nova, quando ia iniciar a pesca no seu bote. Aluno da Escola de Pesca, tinha feito dois anos moço, quando se ia estrear como pescador verde. Triste acontecimento, em que o mar arrepanhou para as suas funduras, o corpo de um jovem, para sempre.
Noutro dia em que passava pelo cais da Gafanha sempre recordando memórias, em frente a instalações da CNCB, chamou-me a atenção o nome de um navio, São Rafael, abandonado, enferrujado e degradado. De facto, era o São Rafael a que me venho referindo, depois de ter passado por diversas transformações e registos.
O nosso Zé de Oliveira ainda passou uns bons anos por Ílhavo, onde saboreou o tempo de aposentação, que se concretizou em 1972.
Deixou o mundo dos vivos em 2 de Dezembro de 1990, com 72 anos de idade.
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Ílhavo, 16 de Abril de 2019
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Fotos cedidas por Joana São Marcos
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Ana Maria Lopes-

domingo, 16 de fevereiro de 2020

"GIL EANNES - O Anjo do Mar"


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No dia 31 de Janeiro, a bordo do navio-hospital “Gil Eannes”, em Viana do Castelo, na sessão comemorativa dos 22 anos do resgate do referido navio, além de outros eventos, foi apresentado o livro “Gil Eannes – O Anjo do Mar”, da autoria do comandante ilhavense João David Batel Marques.
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O livro com uma boa apresentação gráfica, é brochado, consta de 132 páginas, em versão bilingue, português/inglês, com cerca de 80 figuras, entre fotografias do navio, em tempo de campanha, já musealizado, arranjos, estatísticas e planos.
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O texto, claro, elucidativo, pormenorizado e atraente, tem a qualidade a que o autor já nos habituou.
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Entre 12-05-1955 e 30-04-1959, o navio teve como Comandante, o capitão João Pereira Ramalheira (Vitorino) e entre 1965 e 1968, o Capitão de Bandeira e Chefe da Assistência à frota bacalhoeira Almirante Quintino Mário Simões Teles, ambos ilhavenses, de que a terra, muito se orgulhou.
A foto de capa, da esquerda para a direita, na campanha de 1955, no “Argus”, mostra o imediato José Luís Nunes de Oliveira (Codim), Comandante Henrique Tenreiro, capitão Adolfo Simões Paião Júnior e o piloto Francisco Teles Paião, tendo o novo “Gil Eannes”, ao fundo.
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Além do local de origem, o livro encontra-se também à venda, na livraria do Museu Marítimo de Ílhavo.
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Ílhavo, 11 de Fevereiro de 2020
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Ana Maria Lopes-

" ÍLHAVO - Ensaio Monográfico - Séc. X ao Séc XX"


“ÍLHAVO – Ensaio Monográfico – Séc. X ao Séc. XX”
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Senos da Fonseca
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3ª edição
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Esgotadas as edições anteriores, o autor julgou chegado o momento de reformular, revendo e aumentando o conteúdo do “ÍLHAVO – Ensaio Monográfico – Séc. X ao Séc. XX", livro com que o autor pretende precisar uma história, contado passo a passo o percurso desde o nascimento, a evolução económica e social da comunidade ilhavense, para lá de outras referências de interesse para memória futura.
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Tão pormenorizada e documentada, quanto o permitem os documentos que anexa, (disponibilizando-os assim), a obra procura justificar no seu todo, a singular diferenciação (que perdurou até há bem pouco) entre as duas comunidades que lhe deram identificação singular: a dos lavradores acantonados lá no cimo do agregado, e os pescadores dispersos pela beira da ria, acovilhados nos becos tão característicos…
Partindo da afirmação da villa como agregado populacional, identificando em pormenor o historial dos seus donatários, o livro aborda os primeiros tempos ao encontro do Foral Manuelino que a identifica, define e inscreve na história pátria. Segue cronologicamente até à grande crise lagunar, abordando o modo singular como “os ílhavos” procuraram no litoral a sobrevivência. Deixando um rasto inapagável, afirmada nos saberes que transmitiram passo a passo, praia a praia, transmitindo a singularidade de uma cultura diferente. Única!
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Insere o livro, o panorama social e económico, apontando profissões, rendimentos e ofícios que deram a forma, a Ílhavo, de comunidade (já) evoluída, de referência. Aborda o papel marcante dos “ílhavos mareantes”, participantes maiores da faina maior dos bacalhaus, importante para o esforço do país em minorar a sua dependência do estrangeiro.
Não deixa o livro de referenciar a extraordinária geração que, na transição do século, se distinguiu por obras e feitos ou distinção intelectual.
O livro – de 600 páginas, contendo referências históricas e fac-similes de documentos – encerra com um mapa referência que recolhe em datas os principais pontos do historial de Ílhavo.
Encontra-se, para venda, na livraria do Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), na livraria Leya, no Clube de Vela da Costa Nova (CVCN) e outros locais a designar.
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Ílhavo, 10 de Fevereiro de 2020
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Ana Maria Lopes-


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Dia de S. Valentim


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Apesar das crises, dos vírus, dos muitos impostos, dos complicados orçamentos, pelos jornais, são só propostas de jantares românticos, com ementas especiais, à luz de velas com rosas vermelhas, soirées dançantes, passeios de barco no Canal Central regados de champagne, e…outros eventos, neste dia 14 de Fevereiro.
Há sempre outras soluções… Este par de simpáticos e criativos velhotes celebra o amor ou a amizade, num passeio a dois, numa tradicional catraia poveira. Que casal delicioso, imbuído de um espírito de juventude e de afecto, inserido num postal antigo de um aguarelado soberbo!
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Apetrechados de vertedouro e de remo, lá vão, ternurentos, vida fora, no Barco do Amor. E esta hein? Sorriam…
Tomariam alguns mais novos fazerem o mesmo, mas…já não lhes apetece…Há vidas e vidas, amores e desamores…
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Ílhavo, 14 de Fevereiro de 2020
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Ana Maria Lopes-

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Cap. Manuel Marques Machado

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A bordo do “Avé Maria” em 1963
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Na sua moradia na Costa Nova, debruçada sobre a ria, onde passou a maior parte da sua aposentação, visitei-o já há uns anos, para me falar da faina marítima de seu Pai.
Agradável, culto, bom conversador, simpático, atencioso, atendeu-me amavelmente, e tirou-me todas as dúvidas relativas ao pai.  Já agora, a sua vida profissional também veio para a baila. Afinal, também um Homem do Mar e, hoje, o decano da Faina Maior, dos últimos que ainda restam.
Nado e criado em terras de Ílhavo, o Cap. Manuel Machado veio ao mundo a 12 de Dezembro de 1926. Já contava 93 invernos, de delicadeza primaveril. Descendente de família de homens do mar, de entre os quais o seu pai, António Augusto Marques, seguiu-lhe as pisadas. 
Pertencendo já à última geração de capitães da Faina Maior, concluiu a Escola Náutica, em 1948, sendo portador da cédula marítima nº 112.324, passada pela Capitania do Porto de Lisboa. Começou a sua vida de mar, no comércio, a bordo do paquete "Sofala", como 3º piloto, entre 1948 e 1951, cujo comandante, Gustavo Peixe, também era de Ílhavo. Viagens? ... muitas - para África, Canadá, Europa, etc.  
Enamorado da sua noiva, professora Maria Nunes Rocha, abandonou, então, este tipo de viagens, para governar a sua vida na pesca do "fiel amigo", com a finalidade de se casar, o que fez em Dezembro de 1951. Desta união, nasceram três rapazes, não tendo seguido nenhum deles a vida de mar.
A sua primeira viagem ao bacalhau aconteceu em 1951, ao embarcar como piloto do arrastão “São Gonçalinho”, tendo-se sucedido o “Estêvão Gomes”, o lugre “Ilhavense II”, os navios-motor “Celeste Maria” e “Senhora do Mar”, como imediato. Neste, na campanha de 1958, cruzou-se com Bernardo Santareno, pseudónimo de António Martinho do Rosário, médico a bordo, de quem me contou algumas histórias curiosas.  Identificou-se, sem dúvida, com o “seu” navio, o “Avé Maria”, que comandou de 1960 a 1970, inclusive.
  
A bordo do “Avé Maria”, em 1969
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Com a aproximação do fim da pesca à linha do bacalhau, rumou para África, em 1971, onde ocupou vários cargos ligados ao mar, de prestígio, tendo-se aposentado em 1991.
Decano dos capitães de Ílhavo, depois de vários achaques que foi vencendo com bonomia e resistência, sempre agradável, afável e delicado, embarcou para a sua última viagem, sem retorno, em 26 de Janeiro de 2020.
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Ílhavo, 26 de Janeiro de 2020
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Ana Maria Lopes-

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Evocando Reinaldo Topete



No dia 9 de Janeiro de 2020, recebi a notícia, para mim, inesperada, de que Reinaldo Topete “partira”, depois de um período em que a doença já o martirizara o suficiente. A idade não perdoa e já tinha feito 82 anos, nesta caminhada.
Não contava, não fui ao funeral, mas achei que lhe devia um agradecimento público, que nunca lhe regateei, ao tempo.
Tendo feito os estudos normais, em Ílhavo e Aveiro, Reinaldo José Gomes Topete formou-se em História na Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra. Foi uma das primeiras pessoas, a “entregar o cabedal” à guerra do Ultramar, o que psicológica e fisicamente, não fez bem a ninguém.
Mas, culto, inteligente, voluntarioso, leitor compulsivo, notava-se que tinha necessidade de ocupar o seu tempo sobrante em algo mais do que à sua carreira docente.
Em meados dos anos 80, depois da transferência conturbada do nosso Museu Municipal da Rua Serpa Pinto para o edifício próprio que existiu na Avenida Rocha Madahil (e ainda hoje existe, depois de reestruturado), deu uma grande ajuda na selecção de livros, escolha temática, organização e catalogação da Biblioteca/Arquivo do mesmo Museu, em consonância com a técnica de Bad, ao tempo, Maria do Rosário Vieira.
E em meados de 1990, aquando da minha nomeação, para Directora do Museu, começámo-nos a encontrar com alguma frequência e dei-lhe a conhecer a primeira exposição com que pretendia começar a dinamizar o museu, “Retrospectiva João Carlos”, inaugurada 20 de Abril de 1991. Um dia por semana colaborava comigo, sobretudo no pequeno, mas fiel catálogo com o mesmo nome. Incentivava-me, entusiasmava-me, mais do que eu já estava, acelerava-me, “picava-me”, deixava-me lembretes na caixa do correio, já que éramos vizinhos. Enfim, um desaforo!... Levou-me a retomar uma informação dos inícios do lançamento do Museu, neste jornal, intitulada, PELO MUSEU, que ia dando conta aos leitores das ofertas à instituição e das pesquisas que se iam fazendo.
Isso, porque enquanto decorria a primeira dinamização, já estava no terreno, aquela que seria o sonho de uma equipa entusiasta – “Faina Maior – pesca do bacalhau à linha”. E a terça feira era o dia de pesquisa no exterior, a que o Reinaldo não faltava, depois das aulas ou todo o dia, se, em férias escolares.
Foi o que aconteceu com a Parceria Geral de Pescarias, em que saímos de casa com o nascer do sol e regressámos, já noite escura, cheios de fulgor.
E entre o capitão Francisco Marques, a Marta Vilarinho, eu e o Reinaldo Topete, estou a vê-lo, magro, esbelto, pendurado sempre no seu cigarro, a trepar a mais uma prateleira, em busca de mais uma forma, uma zagaia, uma singa, um saco de lona, uma dala, umas botas de cabedal, um garfinho de samos, uma baila, etc. Fomos muito bem recebidos pelo Sr. Helder Claro, e até o primitivo fogão da cozinha do navio “Creoula” veio para cá, ainda hoje, em exibição. E que bela “bacalhoada”, saboreámos numa grande sala frente ao Tejo, para ganhar forças para as pesquisas da tarde.
Em fins de Outubro, um pouco à revelia da Câmara Municipal, o museu fez-se representar na I Feira do Mar, em Aveiro, com o stand Dos Dóris… despojos dos homens e do mar e com uma brochura com o mesmo título.
Com o estreitar do tempo, a equipa reunia com frequência, à noite, no Museu, quando o Reinaldo me dizia: – quando vir a Faina Maior, em todos os seus sectores, virtualmente projectada, nunca mais aqui ponho os pés.  Não acreditava, mas realmente, o que o Reinaldo anunciava, assim o cumpriu. Ílhavo deve-lhe este entusiasmo, não muito duradouro, mas muito intenso.
Num sábado à tarde, de Novembro, dia 28, de 1992, o Museu abria as suas portas ao público que se reviu na Faina Maior. E com muito sucesso! – sentiu-se, viveu-se!
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Ílhavo, 28 de Janeiro de 2020
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Ana Maria Lopes-