A bordo do Argus, em segundo plano, à direita
Nado e criado em terras de Ílhavo, Francisco Teles Paião nasceu a 28 de Agosto de 1927. Descendente de uma linhagem de capitães, de entre os quais o seu avô, Adolfo Paião, e o seu pai, Francisco da Silva Paião, conhecido por Capitão Almeida Paião, Francisco Teles Paião desde cedo mostrou vontade de lhes seguir os passos.
Concluído o ensino primário na antiga Escola Primária da Rua Ferreira Gordo, em Ílhavo, prosseguiu os seus estudos no Liceu José Estêvão, em Aveiro. O seu sonho era ingressar na Escola Náutica, em Lisboa, o que veio a acontecer em 1946.
A sua primeira viagem aconteceu em Novembro de 1948, ao embarcar como praticante de piloto no “Ganda”, na altura comandado pelo seu tio Manuel Paião. O “Ganda” era um navio misto (carga e passageiros) que, ao abrigo do Plano Marshall, realizava viagens por todo o mundo, carregando cereais nos Estados Unidos da América ou em Angola e transportando-os para Inglaterra, Bélgica, Alemanha, entre outros países, para matar a fome a muitas vítimas da II Guerra Mundial.
A oportunidade de ir para a pesca do bacalhau surgiu em 1953 e Francisco Paião agarrou-a com firmeza ao embarcar, como piloto, no lugre bacalhoeiro “Argus”, na altura comandado por outro tio seu, o Capitão Adolfo Paião.
Em 1958 e 1959, desempenhou funções de imediato no “Neptuno”, acompanhando novamente o tio Adolfo Paião, enquanto o pai, que andava nas campanhas do bacalhau a bordo do “Creoula”, passou a comandar o “Argus”.
Com a mestria de quem conhecia o mar como a palma das mãos, em 1960 Francisco Teles Paião embarcou no navio “Rio Alfusqueiro”, como capitão, seguindo-se o navio “Rio Antuã”, de 1961 a 1969 (inclusive), e o “Vimieiro”, nos seis anos seguintes (1971 a 1977).
Em 1976, o navio “Vimieiro” foi para S. Jacinto para ser transformado em “congelador” e receber baleeiras (que substituíam os dóris), transformação essa acompanhada de perto pelo Capitão Francisco Paião. O regresso ao mar no “Vimieiro” aconteceu em 1981, mas para viagens mais curtas, desta vez apenas para compra de bacalhau por decisão do armador.
Com quase 40 anos de mar, ainda fez uma viagem no “Sernache”, aposentando-se pouco tempo depois.
Mas as amarras continuaram a ligar este homem ao mar, que gostava de ocupar o seu tempo a construir miniaturas de barcos, recordando com saudade aqueles tempos de azáfama, empenho, dureza e sacrifício no desbravar de ventos e marés em busca de mares pródigos de peixe e de portos longínquos seguros.
O Capitão Chico Paião, como era afavelmente conhecido, voltou ao mar outras vezes, mas, em passeio, a bordo do antigo lugre Santa Maria Manuela, enquanto pertença da empresa Pascoal & Filhos, SA.
Partiu para uma viagem sem retorno, com 91 anos, a 2 de Maio de 2019.
(Adaptação de “A Nossa Gente”)
Ílhavo, 16 de Maio de 2019
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Ana Maria Lopes-_-
Ana Maria Lopes-_-
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