Na última sexta-feira,
assisti no MMI, integrado no Mar Film Festival, a um documentário
extraordinário sobre o Mar de Sines – A resiliência das gentes do mar. Confesso
que gostei. Relevava as «artes» de pesca tradicionais de que eu tinha
conhecimento existirem em Sines. Sempre as observei do lado de terra, enquanto
que, no documentário também me era dado observá-las, em acção, no interior da
embarcação, o que completava a minha visão. Algumas delas: caixote do
aparelho de anzóis e a sua preparação, a rede do tresmalho, a rede de cerco, o
alcatruz para o polvo, a penosa arte de mariscador, a descarga de peixe, sobre
os antigos chapéus de lata, a venda em lota, no areal, a toneira para a lula, o
chinchorro, os covos já de plástico, e outras, que não memorizei. Todas me eram
familiares, tendo gostado de as ver ao vivo, bem como o amor ao mar,
manifestado em entrevista, por quem as praticava.
Curioso é que, há uns
três anos, recebera um pedido, por e-mail, de um realizador de Sines, Diogo
Vilhena, para utilização do livro de que sou co-autora, Faina Maior – A Pescado Bacalhau nos Mares da Terra Nova,
encontrado nas mãos de pessoa ainda entre nós, que se identificara numa
fotografia, neste livro, que, em primeira edição (Quetzal, 1996) lhe havia sido
oferecido por pessoa amiga. Claro que autorizei. Além de outras imagens que
tive o prazer de rever no filme, esta era a principal, o dono do livro e
protagonista na imagem.
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Imagem
76, do espólio de Francisco Marques
O jovem moço que sustentava o gigantesco bacalhau é João da Silva Faria,
nascido em 19 de Novembro de 1931, em Sines, moço, nas campanhas de 1951 1952, no lugre Labrador – assim
testemunha a ficha do Grémio. Que coincidência e como o mundo é pequeno. Tudo
batia certo.
Cerca de três dias, antes da exibição do
documentário em Ílhavo, recebi o gentil convite do produtor António Campos,
para estar presente, se possível, à sua exibição. E estive.
No final, entabulou-se entre nós uma
agradável conversa sobre as artes tradicionais, que conhecera na minha estadia
em Sines, nos anos sessenta, em pesquisa para a minha tese de licenciatura, O Vocabulário Marítimo Português e o
Problema dos Mediterrarreísmos, que tiveram o prazer de folhear e levar. As
imagens desse tempo manifestaram-se, para eles, uma raridade. Outro projecto
teriam em vista, para as quais poderiam ser muito úteis. Possivelmente, a seu
tempo, conversaremos, de novo. E assim foi o encontro de gentes de Sines, em Ílhavo.
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Botes em Sines. Anos 60
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Sines. Lota no areal.
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Ílhavo, 22 de Abril de
2018
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Ana
Maria Lopes
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Gosto muito. Aqui há anos (mais de 10) pintei um quadro a óleo (a cores) baseado numa fotografia do mesmo pescador noutra posição, que tenho no meu escritório em frente a mim.
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