José Luís de Oliveira. No Argus, 1950.
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Quem espera sempre
alcança. Foi preciso um ror de anos (vinte e cinco), para que o quarto álbum
registado e oferecido por Alan Villiers ao Museu, ao Capitão Adolfo, ao então
imediato João Matias, e ao piloto José Luiz, da célebre Campanha do Argus, em
1950, me tivesse chegado às mãos.
Por interposta pessoa
amiga, que conhecia a viúva, foram-lhe pedidas fotografias para este fim. Além
de outras, que nos foram cedidas para digitalizar, eis que, passados uns tempos,
o tal álbum nos chegou às mãos – que contentamento! Virei-o e revirei-o,
mirei-o e remirei-o, digitalizando o que me apetecesse. Trata de pedir auxílio
a amigos e entendidos, da época, para a identificação de outros figurantes.
Filho do Capitão Francisco
de Oliveira (n. em 12.1.1888), teve três irmãos – Manuel, Francisco e João,
todos com ocupações marítimas e uma irmã, Maria. Neste contexto familiar, o seu
destino profissional só podia ser mesmo o mar.
José Luiz Nunes de
Oliveira, de alcunha (Codim), nasceu
em Ílhavo, a 17 de Novembro de 1923, na Rua de Cimo do Vila, nº 97.
Depois do casamento com
Maria das Neves Simões Magano, de quem teve três filhos – Francisco José,
Maria do Rosário e Alcides Luís – construiu casa na Rua do Casal, que passou a
habitar.
Completou o Curso de
Pilotagem em 1944/45, sendo portador da cédula marítima nº 112.210, passada
pela Capitania do Porto de Aveiro, em 2 de Setembro de 1946.
Propriamente antes de
enveredar pela pesca do bacalhau, o que era mais usual em Ílhavo, entre 1946 e
49, foi oficial do paquete Lourenço
Marques da Companhia Nacional de Navegação, no qual viajou para as
ex-colónias, incluindo Índia e Timor.
O
apelo do bacalhau foi mais forte e na safra de 1949, o Cap. Zé Negócio desencantou-o
para ser seu imediato no lugre com
motor, de madeira, Ana Primeiro. E
assim foi. O Ana Primeiro, ex-Erika,
construído na Suécia em 1918, foi adquirido pela Sociedade de Pesca Luso-Brasileira,
Lda., com sede na Figueira da Foz, iniciando a actividade de pesca em 1935. O Ana Maria, embora também velhinho, era um
lugre de uma elegância cativante, enquanto o Ana Primeiro não passava de se assemelhar a um desajeitado tamanco.
Lugre
Ana Primeiro
Daí, deu o salto, de saco de lona às costas,
para a Parceria Geral de Pescarias, empresa conceituada, onde trabalhou com muitos
outros ilhavenses que por lá passaram.
Logo em 1950, exerceu o
cargo de piloto do afamado lugre Argus, durante a tal viagem que serviu
de base ao livro A Campanha do Argus
de Alan Villiers, sendo imediato João Fernandes Matias e, no comando, o Capitão
Adolfo Paião. Campanha famosa e que deu, além de muito mais, para bater
belíssimas chapas, que nos dão imenso jeito, agora.
João
Matias, José Luiz Codim e Manuel
Laracha (motorista)
Divertiam-se,
no carro do bacalhau, no convés do Argus
No ano de 1951, a
oficialidade não se alterou. De 1952
a 55, José Luiz Nunes de Oliveira passou a imediato, tendo sido piloto, Manuel
Paulo Pinto Nunes Guerra. Nos anos de 1953, 54 e 55, foi piloto, Francisco
Teles Paião, sobrinho do Capitão.
Mantendo-se na Parceria
Geral de Pescarias (PGP), surgiu a altura de mudar de navio, ocupando o cargo
de capitão no lugre Hortense, entre 1956 e 64. Dos
imediatos, apenas dois foram de Ílhavo – Benjamim dos Santos Marcela, de
alcunha Benjamim Pardal, entre 59 e
60, e Júlio Pereira da Bela, Salsa,
em 1964.
O lugre com motor, de madeira, Hortense
fora construído para a PGP, por Manuel Maria Bolais Mónica, na Gafanha da
Nazaré, em 1930. Tendo feito a última campanha em 1964, foi oferecido pela
empresa armadora à Organização Corporativa das Pescas, em 1968, para nele se
instalar o Museu de Pesca Vasco Bensaúde, tendo acabado por ter ardido no Mar
da Palha, em Dezembro de 1970. Sorte malvada!...
Hortense, Argus, e Gazela Primeiro, durante o Inverno
Chegou a altura de o
nosso capitão passar a comandar o célebre Gazela
Primeiro, nas campanhas de 1965 a 68 (inclusive). O Gazela Primeiro foi, talvez, o navio mais emblemático da Parceria,
que ainda hoje navega sob pavilhão dos Estados Unidos da América, agora sob a
tutela de um grupo de Amigos que muito o estima. Dos imediatos, à época, foi impossível
encontrar dados para a sua identificação.
E toca de voltar ao
«seu» Argus, desta vez, nas safras
de 1969 e de 70, sem que os imediatos fossem de Ílhavo. Quando algo de
diferente acontece a bordo, bate-se uma chapa para a posteridade. Foi o que
aconteceu em 1969, quando pescaram, o que não é vulgar, um razoável peixe-lua.
Com
o peixe-lua, no Argus, em 1969
O número de navios na
Parceria ia diminuindo e a anacrónica pesca à linha, que tem sido mote de muita
e mítica conversa, dava indícios do seu «requiem».
O Capitão José Luiz
fazia as últimas viagens para a empresa, que mais de duas dezenas de anos
servira. – desta vez, nas campanhas de 1971 e 72 – como imediato do navio-motor Neptuno, sob o comando de João Fernandes Matias, o João do Creoula, como era conhecido
entre os companheiros, pelo facto de ter havido em Ílhavo, mais capitães com o
mesmo nome.
Este navio, já, mais
moderno, fora construído nos malogrados e desaparecidos Estaleiros de S.
Jacinto, à data de 1958, para a empresa em questão.
Marques da Silva, outro
famoso oficial da Parceria, em conversa, recordou com saudade, o convívio que
tinham tido, desde 1954, como imediatos e mais tarde, como capitães do Creoula e do Argus, navios famosos da mesma empresa. Foram vinte anos de amizade
e são companheirismo!
Em 1973, mudou de rumo
o capitão José Luiz e enveredou pela marinha de comércio, ao serviço da empresa
Econave, como imediato do Eco-Vouga.
Depois de passar pelo graneleiro Rio
Zaire, assentou praça em 1974, na Soponata, onde se manteve até à
aposentação, em 1980.
Tendo falecido em
Janeiro de 2007, com 83 anos, ainda teve uns bons aninhos para saborear uma
merecida reforma. Nesse tempo, pessoa muito pacata, muito caseira e muito
habilidosa, dedicou-se com carinho, afinco e entusiasmo à agricultura. Amante
da passarada, a que dedicava muito do seu tempo livre, tinha uma especial
preferência por canários e pintassilgos. E assim se passou a vida deste prezado
ilhavense, homem do mar.
Fotos – Gentilmente
cedidas pela família
Ílhavo, 4 de Novembro de 2017
Ana
Maria Lopes
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