Capitão João Fernandes Matias
Tendo tido um percurso
idêntico ao do capitão José Luíz Codim e, sendo, praticamente, do mesmo ano de colheita, hoje, vamos recordar João
Fernandes Matias, conhecido por João do
Creoula, por ter havido, em Ílhavo, mais capitães com o mesmo nome.
Nasceu na nossa terra
maruja, no primeiro de Dezembro de 1925, filho de Manuel dos Santos Matias e de
Felicidade dos Santos Matias, na Rua da Fontoura.
Depois do casamento com
Deolinda Pereira Senos, de quem teve dois filhos – o Manuel João e a Teresa do
Rosário – construiu casa na Avenida Mário Sacramento, nº 125, mais conhecida por
Avenida dos Capitães, que passou a habitar. Foi aí que, na década de noventa do
século passado, o procurei para conversar e me emprestar fotos da faina do mar
que, porventura, tivesse. Como imediato que tinha sido do navio Argus, em 1950, possuía a relíquia do
álbum que lhe tinha sido oferecido por Alan Villiers, já tantas vezes por aqui
mencionado. Por gentileza, cedeu-mo, para usar como entendesse.
Na escola primária, foi
um dos alunos do Professor Catarino, colega do Padre João Paulo, do Mário
Vizinho, do Fernando Pinho (Sanana), do Edgar Peixe, do Aníbal Ramalheira, do
Manuel Cardoso e tantos outros, que, todos os anos, reuniam em almoço-convívio,
no sábado anterior ao Senhor Jesus dos Navegantes, num restaurante, a gosto,
até desaparecer o último do grupo.
Capitão já de uma
geração mais recente, era portador da cédula marítima nº 25.063, passada pela
Capitania do Porto de Aveiro, em 11 de Agosto de 1945.
Mais um marinheiro, a enveredar
pela pesca do bacalhau, tendo, praticamente, sempre servido a Parceria Geral de
Pescarias.
Por informação casual,
mas bem memorada do amigo Vitorino Ramalheira, João Matias fora o piloto, em
estreia de vida profissional, do navio-motor,
de três mastros, Lutador. Eram ambos
estreantes, na campanha de 1946, o navio e o piloto – recorda Vitorino
Ramalheira. Era capitão Sílvio Ramalheira e imediato, Manuel dos Santos Marnoto
Praia. O navio até tivera de sair mais tarde e, levara, com se fazia, à época,
alguns passageiros clandestinos, a bordo, até Lisboa, entre eles, o amigo
Vitorino, com 15 ou 16 anos, na altura, e outros.
Na campanha de 1947,
foi de imediato no lugre com motor Júlia IV, da praça da Figueira da Foz,
sob o comando de João Fernandes Parracho, o
Vitorino. E tantos oficiais de Ílhavo por ele passaram… vaidosos dos
Júlias.
Depois destas primeiras
experiências, lá rumou à Parceria Geral de Pescarias, por onde foi ficando, tendo
vindo a chefiar três dos seus navios.
Entre
1948 e 1951 (inclusive), fora imediato do famoso e esbelto Argus, sob o comando do capitão Adolfo Paião. De Ílhavo, neste
período, foram pilotos, ele próprio, na safra de 1948, e José Luiz Nunes
Oliveira, de alcunha Codim, nas de 1950
e 51. João Simões Chuva, de alcunha Anjo
foi também imediato, na campanha de 1948.
Na viagem de 1950, a bordo do Argus
Por
ordem, na foto, o Capitão Adolfo, João Matias, imediato, César Maurício (1º
mot.), José Luiz Codim, piloto e
Manuel Laracha (2º mot), junto à gaiúta.
Deu
o salto para capitão, entre 1952 e 1957, do mais que célebre lugre- patacho Gazela Primeiro, que ainda vai velejando lá para as bandas das
Américas. Foram seus imediatos, na campanha de 1952, Pedro Vilardebó Loureiro,
na de 1954, António Simenta de Carvalho e nas de 55, 56 e 57, Guido Serras
Pires, todos residentes em Lisboa.
Em
pé, a bordo, mais acima, norteando trabalhos…
Como capitão, desta
«emposta» arribou ao lugre com motor,
de ferro, Creoula, hoje o conhecido
NTM, pertença do Ministério da Defesa, com o mesmo nome. Comandou-o entre os
anos de 1958 e 68, perfazendo o belo número de 11 safras. O tempo foi avançando
e as fontes de informação acerca dos imediatos, rareando.
Apenas
consegui apurar Guido Serras Pires, nas safras de 58 e 59 e João Sílvio Serrano
Matias, em 1968, de Ílhavo.
Entre as selhas, baldeando o convés…
E
com o ano de 1969, chegou o tempo de mudança para o navio Neptuno, também pertencente à Parceria, que comandou até 1973.
Construído de aço, este navio, nos extintos e saudosos Estaleiros de São
Jacinto, em 1958, efectuou a última campanha em 1970, tendo sido transformado
para navio de redes de emalhar com lanchas, em 1971.
Alguns, últimos dos últimos, comandantes dos nossos veleiros…
Na foto, da esquerda
para a direita, capitães António Marques da Silva, João Fernandes Matias,
Francisco Paião (Almeida), Aníbal Parracho e José Luís Oliveira, Codim.
Depois do bacalhau, o
«nosso» capitão embarcou em navios do comércio da empresa Econave, em viagens
entre Portugal, Norte da Europa e Mediterrâneo. Começou como imediato no Eco
Sado, comandado por António Marques da Silva, tendo passado a chefiar navios da
mesma empresa, senão, todos.
Ainda
na década de 80, esteve com o Pai, em Inglaterra, quando chegava a Liverpool,
para o que tinha de percorrer uma escassa hora de comboio
– relembrou-me o Manuel João.
Quando, já depois de
reformado, convivia com os amigos, nos bancos do Jardim, aqui em Ílhavo, e tocavam
as 12 badaladas do meio-dia, levantava-se e ia para casa almoçar,
invariavelmente. No último percurso a pé, entre o Jardim e a sua casa na
Avenida Mário Sacramento, foi atropelado por um automóvel, acidente do qual
resultou a sua morte, pouco tempo mais tarde, a 28 de Junho de 2006, com 81
anos.
Pessoa
reservada, mas dotado de uma inteligência invulgar, com uma memória notável,
qualidades que só eram conhecidas por quem convivesse com ele, de perto
– assim o recordou Marques da Silva.
Na década de 90, sempre
que o NTM Creoula, em consonância
com a Câmara e o Museu, visitava a Gafanha da Nazaré, sempre esteve presente,
juntamente com outros seus colegas que tinham sido oficiais do navio, para uma
agradável recepção a bordo.
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Imagens – Fotos de A.
Villiers e outras, cedidas pela Família
Ílhavo, 19 de Novembro
de 2017
Ana
Maria Lopes
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