Éramos
vizinhos, com uma casa de permeio e um beco – um dos becos de Ílhavo. Pelas
traseiras, menina e muito moça, lá
conseguia ir até casa da Zerinhas e por lá ficava uns bocados, pois ela também era
amiga da minha prima Milú, que, às vezes, me levava ao laró.
Zerinhas,
sim, isto é, Maria dos Prazeres Valente Labrincha, cujo pai era o Capitão
Augusto dos Santos Labrincha (1899-1982) e a mãe, Maria Valente Labrincha.
Ao
procurar a notícia da «partida» do capitão Augusto Labrincha, no jornal O Ilhavense, que sempre faço, fiquei a
saber que, além de pessoa bondosa e afável, que já sabia, enquanto piloto do
lugre bacalhoeiro Infante de Sagres,
capitaneado pelo ilhavense Fernando M. Lau, em 23.5.de 1927, salvou em pleno Atlântico, o Marquês de Pineda e mais dois
compatriotas.
Pelos
seus doze anos, o que acontecia quase todos os ílhavos, com familiares no mar, teria ido de moço de câmara com algum
parente. Era geracional, em Ílhavo. E lá terá ido cumprindo o seu percurso, até
que, em 10.8.1926, se tornou 3º
piloto.
Folheando
pacientemente todos os artigos Eles lá
vão para os Bancos da Terra Nova, Sobre
as águas do mar… Deus os leve e Deus os traga!, Boa Viagem!, Aquelas Naus….
Relação dos Navios que, este ano, vão à peca do bacalhau, etc., do jornal O Ilhavense, com alguns hiatos, de início, consegui repescar que
foi piloto dos lugres Silvina, em1922, do Algarve 5º, em 1926, do Infante de Sagres, em 1927 e 28 e em
1929, do lugre Rainha Santa, da
Firma Pascoal & Cravo, capitaneado por seu parceiro António Marques.
Na
viagem de 1936, tornou-se capitão do
lugre Corça, pertencente à Parceria Geral de Pescarias, que foi vendido
após essa campanha, tornando-se no lugre Granja.
O Corça,
na Terra Nova. S/d
Capitão no Corça.
1936
Entre
vida familiar com gostos e desgostos, como todos nós, a vida profissional lá
foi andando, conhecendo o sabor salgado de vários navios.
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Nos
anos de 1937 e 38, comandou os lugres
Neptuno II, no de 1939, o Gamo e no de 40, o lugre Hortense.
No Gazela, 1937 – Augusto Labrincha, João Campos
Pereira, António dos Santos e imediato do Gazela,
Júlio Paião
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E
em 1941/42 e 43, surge-lhe o comando do famoso lugre-patacho Gazela
Primeiro, o navio mais famoso da Parceria Geral de Pescarias.
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De
1944 a 49 (inclusive), volta ao comando do lugre
Hortense, de malogrado destino.
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Entre
1950 e 53 (inclusive) esteve à frente do lugre
com motor Adélia Maria, que foi lançado à água a 24 de Abril de 1948, nos estaleiros da Gafanha da
Nazaré para os armadores Ribau & Vilarinhos. Durou vinte anos. Naufragou,
por incêndio, no Virgin Rocks, em 1968.
Adélia
Maria, a arder, em 1968
Em
1953, durante a cerimónia da Bênção, foi condecorado juntamente com os capitães
ilhavenses, João Grilo, António Marques e o irmão, João dos Santos Labrincha
(Laruncho).
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Em
1954, estreou o navio-motor, em aço, Capitão
José Vilarinho, construído nos Estaleiros Navais do Mondego para José Maria
Vilarinho, com sede, em Aveiro.
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Lá
pesquei, não foi fácil, uma imagem de Augusto Labrincha, de boné de lado, a
bordo do Capitão José Vilarinho, em 1955, a apontar o bacalhau pescado, à
chegada dos botes. Neste tempo, já
seria numa pequena agenda ou ainda numa tabuinha de madeira, como de início?
A bordo do Capitão
José Vilarinho, em 1955, a
apontar o bacalhau pescado
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Depois
de sete viagens a bordo deste navio, deixou o mar, para viver uma vida
sossegada, descansada e calma, junto da família, encontrando-se com oficiais do
seu tempo, para a chalaça, perto da Farmácia
do Manuelzinho, no Café Central, central, porque o era, onde jogavam cartas ou
dominó ou no jardim Henriqueta Maia, no centro da então vila, quando ainda era hábito
passear-se ao domingo, em volta do jardim, quando ele ainda tinha flores, que,
entretanto, murcharam.
Também
era obrigatória a ida à barbearia do senhor Leopoldo. Bom ponto de encontro. Lá
«pescava-se mais bacalhau» que no Grande Banco da Terra Nova e Groenlândia
juntos.
Pelos anos 70, o
descanso dos guerreiros: Capitães Adolfo, Augusto Labrincha e Salta
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Fotografias
– Arquivo pessoal e gentil cedência da Família do Capitão
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Ílhavo, 09
de Maio de 2016
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Ana Maria Lopes
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Gostei de continuará a aprender e a recordar alguns pormenores destes textos valiosos. Obrigado.
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