A
Sala de exposições temporárias, no MMI, exibe uma exposição fotográfica
sedutora e fora do vulgar, até 23 de Outubro.
Há
exposições e exposições, mas esta
compensa, brilha e «enche o olho».
O
autor, Paul Anna Soik (1919-1999), marido de uma canadiana, para além de
fotógrafo, ilustrava. Mas, um belo dia «tropeçou» na Frota Branca, uma frota branca já algo decadente, nos anos sessenta,
mas que sempre deslumbra – alguns veleiros e navios bacalhoeiros e pescadores
portugueses, que fizeram parte da paisagem e do quotidiano de St. John’s (Terra
Nova, Canadá).
Foi
este legado fotográfico que veio parar às mãos da associação cultural Bind’ó Peixe, que nos últimos anos se
tem dedicado a valorizar a cultura e identidade piscatória da comunidade de
Caxinas e Vila do Conde.
Estas
fotografias de Paul A. Soik só podem ser vistas hoje no Museu Marítimo de
Ílhavo, porque o canadiano Jean-Pierre Andrieux, memorialista, empresário,
estudioso da presença portuguesa na Terra Nova e amigo fiel de muitas gentes de
Ílhavo, há umas boas dezenas de anos, «não é de guardar os seus tesouros num
cofre». Um dia, herdou-as e o seu desejo foi partilhá-las.
O
grande segredo da exposição reside na recolha das belas cenas que povoam o
nosso imaginário, mesmo sem termos estado em St. John’ s, no tempo da Frota Branca lá residente.
Fortes
pormenores de marinheiros e derradeiros veleiros, tais como o Creoula, o Argus, o José Alberto, o
Gazela, o D. Denis, são aqueles de que me lembro. Pescadores, com traje
domingueiro, com camisolas axadrezadas, quer a bordo, quer em jogos de futebol,
habituais no cais canadiano, dão vida aos últimos navios-motor construídos nos
Estaleiros Mónica, nos anos 50 – o Vila do Conde, o Avé
Maria, o São Jorge, o Novos Mares e outros da mesma época.
O
autor foca pormenores realistas e não descuida as pilhas de frágeis botes,
sobranceiras, que nos ajudam a identificar o navio em que habitam.
Para
além de nos sentirmos «em casa» em tal exposição, ela tem de relevante o
suporte que as sustenta. São diapositivos de grande dimensão, montados
individualmente em caixas de luz, que nos prendem – a luz que delas emana e uma
maneira pouco usual de apresentar um trabalho final.
O
fotógrafo ficou deslumbrado com o que viu e conseguiu transmitir-nos esse
deslumbramento.
E
mais não digo. Visitem-na que vale a pena. Mas se tiverem a sorte de terem um
guia como eu tive, o Capitão António Marques da Silva, a informação redobra.
Ainda por aí há alguns, poucos, velhos lobos-do-mar, à altura.
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Todas
as fotos que aqui possa editar não conseguem reflectir o encanto que aquelas
nos transmitem.
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À
laia de convite ou melhor, de «isco», aqui ficam estas:
Os
botes cor sangue de boi,
sobranceiros, do Argus
A tripulação do Novos
Mares
As pilhas de botes
do São Jorge
Jogo de futebol no cais
A tripulação do Avé
Maria
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Fotografias
de Sérgio B. Gomes, publicadas no Jornal Público, de 29 de Maio de 2016
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Ílhavo,
primeiro de Junho de 2016
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Ana Maria Lopes
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