quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O «nosso» Filinto, no Parque dos Poetas

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Em maré de Filinto, (nunca se viu em tais alturas), entre apresentação e representação da obra de SF, surgiu-me esta recordação.
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Há uma boa dúzia de anos, em visita com a família ao Parque dos Poetas, em Oeiras, deparei-me com uma estátua de Filinto Elísio. Parei, sabia que era um poeta arcádico, «um ílhavo», mas confesso que, nessa altura, não lhe prestei muito mais atenção. Andava bastante mais entretida a brincar com o neto.
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Agora, ah!, lembrei-me. O tal Filinto, em Oeiras!
Pedi a quem me clicasse umas imagens para as dar a conhecer a quem, porventura, não as conheça.
O parque está organizado numa série de pequenas praças, cada uma dedicada a um poeta.
É o caso da praça dedicada a Filinto.
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Um curto caminho conduz à estátua, onde uma placa resume a biografia e a obra do poeta. Consideram-no nascido em Lisboa, mas, enfim, como é verdade, perdoamos-lhes o lapso de desconhecerem que foi gerado em Ílhavo, filho de pais ilhavenses. 

A praça de Filinto

Escultura do poeta
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Foi este o nome arcádico por que ficou conhecido o poeta Francisco Manuel do Nascimento, que nasceu em Lisboa e faleceu em Paris, após uma ausência da Pátria de quase quatro décadas. Em Paris, em 1798, seriam publicados Os Versos de Filinto Elísio e, de 1817 a 1819, as suas Obras Completas (11 vols.), reeditadas em Lisboa, de 1834 a 1840. Filinto representa, na nossa produção literária, a manutenção das grandes orientações neoclássicas, aqui e além tocadas pela emoção pré-romântica.
Manteve um diálogo intelectual e poético com a futura Marquesa de Alorna, por quem tinha uma admiração extraordinária, a quem deu o nome arcádico de Alcipe, que ela depois usou. Grande devoto de Horácio cultivou os géneros da tradição clássica, deixando-nos sonetos, madrigais, epigramas, contos, epístolas, sátiras, odes (sobretudo odes).

Pormenor da sua assinatura-
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Numa folha estilizada no chão, a cinzel, foi gravado este amargurado soneto:
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Estende o manto, estende, ó noite escura,
enluta de horror feio o alegre prado;
molda-o bem c’o pesar dum desgraçado
a quem nem feições lembram da ventura.
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Nubla as estrelas, céu, que esta amargura
em que se agora ceva o meu cuidado,
gostará de ver tudo assim trajado
da negra cor da minha desventura.
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Ronquem roucos trovões, rasguem-se os ares,
rebente o mar em vão n’ocos rochedos,
solte-se o céu em grossas lanças de água.
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Consolar-me só podem já pesares;
quero nutrir-me de arriscados medos,
quero saciar de mágoa a minha mágoa!
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E grão a grão, se vão alargando e cruzando os saberes!...
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Ílhavo, 28 de Janeiro de 2015
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Ana Maria Lopes
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domingo, 24 de janeiro de 2016

XVII Capítulo da Confraria Gastronómica do Bacalhau

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Foi uma distinção ter sido entronizada «confrade de honra», no XVII Capítulo da Confraria Gastronómica do Bacalhau. E, logo, a primeira mulher!…
Andámos ao serviço do bacalhau das 9 da matina até às 5 da tarde. Cansativo, mas agradável, entre convívio e aprendizagem.
Pelas 10 h, os confrades representantes das diversas confrarias visitantes vinham chegando ao Museu, onde eram recebidos por uma lauta mesa de iguarias copiosas e regionais – 1ª sessão de prova de vitualhas.
Depois de um primeiro encontro, todos se dirigiram ao auditório que fulgurava na policromia intensa dos trajes diversos, e se tornou pequeno para os ocupantes.
Após uma castiça apresentação da Terra da Lâmpada pelo Grão-Mestre João da Madalena, e outros discursos de circunstância, foram trocadas lembranças.
Patanisca de honra – segundo momento degustativo – regada por fresquinho espumante.
A entronização dos novos confrades de honra e efectivos, a bordo do iate Faina Maior, tem o seu ritual a respeitar, traduzido na prova de lasquinhas de bacalhau salgado, broa e vinho tinto e na opinião sobre o sabor dos petiscos.
O Grão-Mestre com o garfo (de garfar o bacalhau do bote para o lugre), entroniza o novo confrade, perante um padrinho que lhe coloca o pendão ao pescoço, fazendo-lhe ver que está a assumir um compromisso na defesa do património gastronómico e cultural do fiel amigo e a sua ligação às terras de Ílhavo.
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Viva o bacalhau!...E brinda-se, a bordo do Faina Maior, com vinho tinto.
Em visita ao Aquário, o confrade João Mário, interpretou um fado de sua autoria, com acompanhamento à viola, num tributo à sofrida vida no mar das gentes de Ílhavo.
Depois de um desfile a pé, com fotografia de grupo na escadaria da Junta de Freguesia, lá nos instalámos no salão do Hotel sobre a piscina, onde degustámos, aos poucos, os pitéus mais apreciados da variada ementa:
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Entradas
Carinhas fritas
Pataniscas de Bacalhau
Ovas de Bacalhau
Bolos de Bacalhau
Punheta de Bacalhau
Prova de azeites
Pratos
Chora
Açorda de línguas
Feijoada de samos
Bacalhau à Confraria
Doces regionais
Bolo de aniversário
Fruta
Os novos confrades foram mimoseados com títulos honoríficos apropriados à cerimónia.

Reportagem fotográfica
Aspecto da assistência, no auditório
Pormenor da assistência
Entronização. 1
Entronização. 2
Os novos confrades, a bordo
Entrega dos títulos honoríficos
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Gentil cedência das imagens de Carlos Duarte e Marina Pequeno
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Ílhavo, 24 de Janeiro de 2016
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Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

«Filinto - O Poeta Amargurado»

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No próximo dia 16 de Janeiro, pelas 16 horas, a Professora Dr.ª Rita Marnoto da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra apresentará o livro Filinto – O Poeta Amargurado de Senos da Fonseca, no Salão da Junta de Freguesia de São Salvador, em Ílhavo.
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Há mais de dez anos que ouço, entre outros temas que lhe teriam sido mais caros, Senos da Fonseca falar de Filinto Elísio. Com razões para sabermos de quem falávamos, a maior parte dos ilhavenses desconhecerá a figura de Filinto.
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Com este livro, passará a conhecê-lo melhor – primeiro, porque foi «um dos nossos», um ílhavo, gerado no nosso rincão e levado, por mar até Lisboa, onde nasceu. Segundo, porque, embora um arcádico não muito conhecido, foi um grande poeta.
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Alguns dos nossos maiores autores como Garrett, Eça, Castilho e outros renderam a este poeta oitocentista, pouco estudado e pouco conhecido, como já referimos, rasgados encómios. Foi um purista do século XVIII, este Filinto, ligando mais às palavras e à construção sintáxica mais importância que às ideias e sentimentos, segundo Eça.
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A biografia do poeta amargurado de SF não é simplesmente a sucessão de notas biográficas de Filinto, mas surge-nos, formalmente, como peça de teatro a levar à cena, no dia 31 de Janeiro, pelo grupo de teatro amador ilhavense – «A Ribalta», no Centro Cultural de Ílhavo, pelas 17 horas.
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Ílhavo, 14 de Janeiro de 2016
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Ana Maria Lopes
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domingo, 3 de janeiro de 2016

The White Ship

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Enviaram-me esta relíquia. Não perco a oportunidade de a divulgar ainda mais. Acho que vale a pena.
Ainda mais num domingo escuro, enfadonho e chuvoso de Janeiro... como este.
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The White Ship, já conhecido, mas sempre excelente e comovente, é uma realização de Hector Lemieux, que nos dá a conhecer o quotidiano da vida de bordo no Santa Maria Manuela, na campanha de 1966, em cerca de 12 minutos.
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Além do mais, o actor principal, todo galã, é o nosso dedicado Amigo Capitão Vitorino Ramalheira.
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Produção – A National Film Board of Canadian Production, 1966
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Ílhavo, 7 de Março de 2009
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Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O lugre «Ilda»

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Dias invernosos, chuvosos, húmidos e ventosos, como os que têm estado, favorecem as trocas de impressões, à distância, entre amigos que têm gostos afins – navios.
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Depois de umas visitas e arrumações no meu baú virtual, tendo-me já ocupado no Marintimidades dos naufrágios na barra de Aveiro de que consegui elementos fidedignos, verifiquei que o encalhe do lugre Ilda ficou em branco.
Outros bloguistas mais adiantados já o fizeram, mas o lugre Ilda, encalhado a sul do Farol, não podia ter ficado ausente. Estamos a tempo de o repor.
Aproveitei o desafio.
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O lugre Ilda cujo construtor foi António Dias dos Santos, de Fão, em 1906, tinha uma arqueação bruta de 225,27 toneladas e 189,30, de arqueação líquida. Era pertença do armador Daniel Silva, de Angra do Heroísmo, com registo em Aveiro.
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O Ilda, de três mastros, não era bacalhoeiro, mas muita da sua tripulação, que se salvou, era de Ílhavo. Como o soube? Claro, pelo jornal O Ilhavense, de 19 de Agosto de 1934, em busca aturada que tenho vindo a fazer, com parcimónia.
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Respigando a notícia: – «há perto de um mês desceu do ancoradouro da Gafanha para a boca da barra o lugre Ilda, propriedade do Sr. Daniel da Silva (…) que, por não poder sair, ali ficou aguardando o dia seguinte. Quando o seu capitão, António de Oliveira da Velha, procedia a manobras, verificou que o barco estava em seco.
Rebocado ora por um, ora por outro rebocador, no dia 13 do corrente mês (Agosto), conseguiu safar-se do banco de areia, tomando a direcção do mar. Quando ia na pancada da vaga, foi apanhado por um valente estoque de água que o arrastou para sul do Farol, onde encalhou».
 
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Ficou como se vê, com um acesso fácil, através de escada improvisada, aos proprietários, tripulação e seguradores e, sempre que assim acontecia, era um tal arraial de voyeurs, em vaivém, para ver realmente visto aquilo que, de facto, acontecera.
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O capitão, piloto, Sr. José Russo, e outros tripulantes, como já referi, oriundos de Ílhavo, foram salvos por barcos de pescadores, assim como a maior parte da carga constituída por sal, cal, louças e fósforos.
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O navio estava seguro numa companhia inglesa por 110 contos, que tomou conta do barco e, em dias seguintes, fez a venda dos salvados em hasta pública.
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E assim a acabou a romaria à Barra, pelo menos sem perdas de vidas humanas. E logo em Agosto!...
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Fotografias – Arquivo Digital de Aveiro.
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Ílhavo, 1 de Janeiro de 2016
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Ana Maria Lopes
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