quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Irreversível ausência

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Marinha


Nesse dia, a sala estava bela, repleta de tudo: encontrava-se muito aconchegante; aquecida por uma fogueira crepitante que soltando faíscas avermelhadas, criava um ambiente quente e acolhedor.
Em volta da mesa, primorosamente decorada, sentadas em dez cadeiras, encontravam-se três gerações saboreando a ceia de Natal – o tradicional bacalhau cozido; o peru assado e recheado; as frituras da quadra; a doçaria regional da época e goles saborosos de um néctar precioso, fresco e espumante.
Todos conversam. Sorriem. Pensam. Entreajudam-se. Colaboram.
Entre eles, encontra-se uma mulher, com belos traços, já um pouco marcados pela passagem do tempo, e de rosto enigmático, vestindo um magnífico traje festivo, de tons contrastantes, entre o preto e o vermelho vivo.
Ela revê-se naquelas alegres crianças, encantadas pelo ambiente festivo, mas por momentos, ausenta-se e parece escutar uns trinados de guitarra dolentes misturados com o murmúrio plangente do mar, que ao longe se manifesta, fazendo-a lembrar.
A sua alma sente e soluça em silêncio, num pranto disfarçado, entre risos e conversas amenas.
Ali, naquela mesa, reina a alegria em família, mas só ela escuta, vê e sente o vazio que ficou, naquela cadeira, numa sala cheia de tudo...
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Foto – Gentil cedência de TCS

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Ílhavo, 24 de Dezembro de 2015
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Ana Maria Lopes
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2 comentários:

  1. Nestes dias não é fácil evitar a mágoa das perdas que sofremos num passado que nos atormenta como se tornasse de novo presente. Resta-nos a memória que se transforma num contraditório espaço de dor e de ternura.

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  2. Li e reli, entendi e sorvi cada palavra.
    Mas como refere, Vieira da Silva, (...) resta-nos a memória (...)
    Desejos de um próspero ano, repleto de novos projectos e novas emoções.
    Beijinho da nossa Ria.
    Etelvina Almeida

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