A
Costa Nova é uma estreita faixa de terra, bordejada pelo mar e pela ria. Tem,
consequentemente, uma orla marítima e uma orla lagunar bem distintas.
A
sua beleza natural, ninguém lha tira, ou por outra, já lhe surripiaram uma tão
grande fatia, que nunca mais foi ou será o que era.
O
brilho prateado do seu mar em movimento ondulante, como quem vagueia ou procura
alguma coisa e uma laguna calma e brilhante, de luminosidades mutantes,
consoante a hora do dia, caracterizam-na e fascinam os seus amantes.
Alguns
aspectos, como as ciclovias, quer a norte, quer a sul, as boas condições para
caminhada, corrida, pedalada, patinagem, tornam-se extremamente convidativas.
Mas,
como nem tudo o que «luz é oiro» e, este ano, talvez por ter tido por aqui uma
estadia mais prolongada, tive tempo de contemplar algumas mazelas de que padece
e que necessitavam muito mais cuidadas. Indicio:
-
Frente mar
-
Alguns,
bastantes, passadiços, de madeira, que pretendem proporcionar melhor acesso à
orla costeira, estão em muito mau estado, originando quedas, tropeções, feridas
e outros estragos físicos. Por outro lado, em alguns casos, não dá bem para
perceber se os passadiços facilitam a chegada à praia, se prejudicam a
protecção dunar…
-
Frente ria
-
Há
outras moléstias que, francamente, me desgostam e, sem querer ferir ninguém,
gostava de saber, por que os anos se sucedem e estão na mesma ou pior.
Daqui,
desta minha janela, fere-me olhar, constantemente, a antiga mota, virada para a ria, que já lambeu o
areal e quase os palheiros. O que «resta
desta memória» estará tão descuidado, porquê? Haverá alguma razão que eu
desconheça?
Aqueles
tristes e insignificantes lagos que pretendem memorar a ria (consegui-lo-ão?)
que ladeiam a mota, terceiro
ancoradouro das barcas de passage, construído
pela JARBA em 1942, nunca estiveram em tal estado… Durante meia safra, foram
depósito de água poluída, emporcalhada, esverdeada, apinhada de garrafas e de
sacos plásticos. Depois de esgotado o resto da água, assim permanecem, vazios, secos,
por pintar e por cuidar. A existirem, que existissem, ao menos, aprimorados.
Mas, não. Estão o cúmulo do desmazelo.
A mota
entre lagos vazios e descuidados
O
relvado, pouco cuidado, amarelecido, mais parece palha para alimentar jumentos,
que verdura para alimentar a vista, na sua frescura. Algumas folhas, caídas,
acastanhadas, envelhecidas, descuidadas, das palmeiras, contribuem para a
encenação de uma situação sombria.
Faltam-nos,
desde o ano passado, dois moliceiros que nos serviam e embelezavam a
ria, no seu navegar e que nos facilitavam a travessia para a Bruxa, típica na
zona, para veranear e, possivelmente, degustar uma tosta, bifana ou empalhada, tão características do local.
Quem sempre teve a barca da passage do
outro lado da estrada, sente-se completamente truncada e presa na tal dita bela
língua de areia.
No
términus da Calçada Arrais Ançã, com o seu belo casario riscado, que não
chega para «tapar olhos», a residentes e visitantes, começa o desmazelo pleno
dos parques e campos desportivos (merecerão esse nome?).
Um
parque infantil que já foi um «brinquinho», pelos anos 60, que frequentei
assiduamente com crianças familiares, hoje, e já há uns valentes anos, torna-se
ultrapassado, desactualizado, pela falta de higiene, beleza, e de segurança,
nas poucas diversões disponibilizadas.
O pseudoparque infantil
E
os campos que se lhe seguem – de ténis, por exemplo? Abandonados, sem controlo,
de portas escancaradas e sem qualquer tipo de vigilância, rodeados de ervas,
estão completamente subaproveitados.
E
um outro, que se lhe segue, apelidado de campo de futebol? No mesmo ou pior
estado.
Toda
esta zona envolvente na frente ria, é amparada por uma construção, que já
mereceu o pomposo nome latino de Pérgula,
no meio de umas ervagens secas, brotadas em areal sórdido e imundo.
Alvura
da pérgula, no final dos anos cinquenta
Salva-se
o Minigolfe, renovado no ano passado, local alternativo para
crianças e familiares, em dia de nortada
ou de mar picado, na falta de praia
lagunar.
No
minigolfe, com a ria, ao fundo
Bem
esmiunçado, muito mais haveria que elencar, mas já chega de mazelas que deitam
a perder o potencial natural da Costa Nova.
Continuando
a pedalada pela ciclovia, para norte, deparamos com o aspecto desolador do bar
do CVCN encerrado, bar esse que, de algum modo, já foi um ponto de encontro e
de convívio, na praia.
Bar
do CVCN encerrado
Também,
no domínio de transportes, a estrada de Ílhavo/ Costa Nova quase não existe no
mapa. As carreiras, apenas durante Julho e Agosto, são pouquíssimas e incertas,
deixando «em terra», com a maior desfaçatez, mesmo quem é possuidor de passe mensal. E as pessoas que têm
empregos sazonais na Costa Nova, não tendo transporte próprio, assim ficam a «a
ver navios» …
-
O
habitual festival de marisco «A ria A gosto», as natas do café Atlântida e as tripas
do Zé das Tripas e suas variantes não chegam para animar a Costa Nova, durante
a dita época balnear. Há que renovar e, sobretudo, cuidar.
-
Nas
entrelinhas, poderá haver aspectos que desconheço, mas que cada um palpitará a
seu bel-prazer. Ou haverá quem não concorde comigo?… Assim vejo – sem querer
culpabilizar ninguém, mas sim chamar a atenção, pela positiva.
-
Costa
Nova, 30 de Agosto de 2015
--
Ana Maria Lopes
-
Sem comentários:
Enviar um comentário