Em
maré de romarias setembrinas, segue-se no próximo fim-de-semana, último de
Setembro, a festa da Nossa Senhora da Saúde, na Costa Nova. É uma pena que aquela que já foi, em tempos, a segunda maior
romaria lagunar a seguir ao S. Paio, presentemente, não passe da festa
religiosa, procissão e eucaristia dominical.
Se
fosse possível regredir no tempo, por uns dias, desejaria assistir a uma
romaria dos anos sessenta, com artística armação na Avenida Marginal e nos
caminhos conducentes à Capelinha. A montagem da armação em altos escadotes
marcava o início da festa. Seguia-se a vinda das primeiras tendas.
Mas quando os primeiros moliceiros
chegavam do norte e do sul da ria, os norteiros e os matolas
e atracavam mesmo aqui pertinho de mim, então a festividade estava próxima.
Recordo com saudade a chegada das barracas das cutelarias de Guimarães, os
chapelinhos de papel de vários feitios e cores, os brinquedos toscos
infantis de lata e de madeira, o café «de apito», a doçaria tradicional da Ti
Rosa Caçoa, com os seus suspiros melosos e açucarados e os bolinhos brancos de
gema.
Ao
lado, a Ti Adelaide Ronca com as flores das festas, de papel, com quadra a gosto,
e as coloridas e vistosas ventarolas. O Sr. Quintino Teles com os seus pratos
típicos, em cerâmica relevada, com castanhas e sardinhas assadas, ovos
estrelados, que até apetecia degustar, etc.
Ainda
os ferros forjados, as barracas das loiças de Barcelos e de alguns atoalhados e
«lingerie», bem como, os homens dos guarda-chuvas, compunham o ramalhete.
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E
os vistosos e animados coretos com a banda a tocar!!!!.....
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Não faltava a Vida de Cristo, em movimento, descrita em voz
roufenha, rouca, do publicitador, tornada ensurdecedora pela ampliação
conferida pelas cornetas do altifalante, que tentavam sobrepor-se ao anúncio da
casa do espelhos, do carrocel, dos carrinhos eléctricos ou cadeirinhas
voadoras.
Com
muita gente, com muito barulho, acabou por se tornar impossível a festa na
frente/ria, incluindo a própria procissão, que não era recebida com o respeito
devido.
Há
uns anos largos, toca de mudar a festa para a Avenida do Mar. Ainda pior!!!!
Chegou-se a um exagero e a uma falta de sanidade, com que alguns moradores não
conviviam muito bem, quase impossibilitados de entrar em suas casas. Já não
eram vendas típicas e, por vezes, ingénuas, mas uma autêntica FEIRA,
onde chegou a intervir a ASAE.
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E hoje, o que é que temos? A procissão, após a missa festiva e pouco mais. A
praia tem menos movimento que num domingo normal de Agosto. Nem tanto ao mar
nem tanto à terra.
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No entanto, ainda se vai passar à Costa Nova a Senhora da Saúde, quanto
mais não seja, para saborear, entre amigos, a chanfana ou o leitão assado, o
que origina uma prévia «procissão de leitões».
Normalmente, a visão que tenho da procissão é a que a minha varanda me
oferece. Esta:
Tendo-me uma amiga disponibilizado uns clichés,
com uma visão diferente da procissão, entre palmeiras e palheiros, resolvi usá-los, com sua autorização, para ilustrar a
descrição do cortejo processional do ano passado, dando relevo aos andores, com
as respectivas imagens, adornados carinhosamente com flores – cravos, rosas,
antúrios, copos de leite, gladíolos – e verduras multicolores.
Nossa Senhora da Saúde, entre palmeiras altivas
S. José,
plasmado contra bonitos palheiros riscados de branco, azul e verde, com
varandas ornadas de colgaduras, em sinal festivo
Imagem da Mãe do Redentor
Nossa Senhora de Fátima, tendo como cenário um dos
mais aprimorados palheiros, riscado
de branco e vermelho e de toldo igualmente rubro
Os cochichos das «santinhas»
Santo Amaro, aconchegado no seu esbelto meia-lua, levado aos ombros por
pescadores, nas suas camisas aos quadrados
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Outros aspectos haveria mais a enumerar – irmandades, fanfarra, grupo de
escuteiros, pároco da Gafanha da Encarnação, acólitos e crentes acompanhantes,
cumpridores de promessas – mas dei prioridade aos andores, na sua imponência e
singeleza.
Nem gosto, sequer, de ver a casa fechada, nesse dia.
Tradição…apesar de já não ser o que era. É a que temos. É para respeitar e tentar
transmitir…
Imagens – De arquivo (Etelvina Almeida, 1, e 6 e as restantes de Maria
Emília Prado e Castro)
Costa Nova, 24 de Setembro de 2015
Ana Maria Lopes